Do ponto de vista poético, Dom Dinis é sobretudo conhecido pelas suas
cantigas de amor e de amigo. Mas ele compôs também algumas cantigas de
escárnio e aproveito para lembrar uma passagem do meu romance, onde
enquadrei uma dessas cantigas:
Assim
se viu Dinis rodeado de fidalgos pomposos a disputar-lhe a atenção,
tentando impressioná-lo com as suas proezas, sem sequer haver uma sessão
musical que o distraísse. O Paço episcopal não era o local indicado
para fazer a corte às senhoras através de cantigas trovadorescas, para
já não falar de uma ou outra dança.
Por
entre as conversas, Dinis recordou uma cantiga de escárnio que
compusera sobre um fidalgo de província, por ele apelidado de Dom Foam e
que falava intermitentemente, sem se aperceber do cansaço e do tédio
que causava ao seu soberano:
U noutro dia seve Dom Foam,
a mi começou gram noj’ a crecer
de muitas cousas que lh’ oí dizer.
Diss’ el: - «Ir-m’ ei ca já se deitaram»;
e dix’ eu: - «Boa ventura hajades
porque vos ides e me leixades».
E muit’ enfadado do seu parlar
sevi gram peça, se mi valha Deus,
e tosquiava estes olhos meus.
E quand’ el disse: - «Ir-me quer’ eu deitar»
e dix’ eu: - «Bõa ventura hajades
porque vos ides e me leixades».
El seve muit’ e diss’ e porfiou,
e a mim creceu gram nojo por em,
e nom soub’ el se x’ era mal se bem.
E quand’ el disse: - «Já m’ eu deitar vou»
e dix’ eu: - «Bõa ventura hajades
porque vos ides e me leixades».
Nota: o meu romance está à venda sob a forma de ebook na Leya Online, na Kobo e na Wook
Sem comentários:
Enviar um comentário