Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

18 de maio de 2016

Comparações...

Gosto muito do papa Francisco, mas ele já me desiludiu duas vezes (enfim, ninguém é perfeito). A primeira foi quando elogiou um pai que lhe comunicou bater no filho, mas nunca na face, para não lhe atacar a dignidade. Na minha opinião, é grave um papa apoiar qualquer tipo de violência. Alguém me poderá dizer porque há de ser mais escandaloso bater num adulto do que numa criança? Com a agravante de que a criança é mais pequena e mais fraca do que o adulto. Não aprendemos que não devemos bater nos mais fracos, ou em todos aqueles que não se possam defender? Confesso: também eu era adepta da disciplina à custa da estalada, foi assim que aprendi. Um exame de consciência, porém, numa certa altura da minha vida, ajudou-me a perceber que a estratégia me prejudicou mais do que ajudou. 

Adiante! Passemos à segunda desilusão, esta recente, que o papa me causou:

O papa Francisco lamentou hoje que algumas pessoas sintam compaixão pelos animais, mas depois mostrem indiferença perante as dificuldades de um vizinho.

Claro que devemos pôr as pessoas à frente dos outros animais. Mas a forma que o papa escolheu para o dizer foi muito infeliz. Ele não devia fazer comparações entre pessoas, alegando que umas valem mais do que as outras, vai contra o princípio da igualdade! Além disso, quem não gosta de animais, vê-se confirmado na sua crença de que pessoas que gostam de animais não gostam de outras pessoas e isso está longe de ser verdade. Há casos e casos. Declarações destas contribuem para que ainda mais animais sofram, pois, quem ajuda animais, vai ter mais problemas, vai ser mais insultado, já que quem é contra se sente com mais legitimidade para o fazer. Um papa deve apelar à piedade e à compaixão, apelar a que ajudemos o próximo, que compartilhemos da sua tristeza... Sim, é essencial! Mas sem comparações destas, por favor!

Palavras destas são aproveitadas para cavar ainda mais o fosso entre os amigos dos animais e aqueles que os odeiam, ou seja, causam inimizades, insulto e ódios, em vez de unir! Claro que há casos extremos e comportamentos inaceitáveis, mas devíamos pensar muito, antes de compararmos pessoas, ou comportamentos. E uma pessoa com a autoridade moral do papa tem responsabilidades acrescidas.

Todos nós devíamos evitar comparações, como entre irmãos, por exemplo, dizendo que um é mais inteligente ou dinâmico que o outro, ou coisa parecida. É sempre uma grande desconsideração em relação à pessoa que fica mal vista e cria desentendimentos, inimizades, invejas, até ódio.

Não gosto de comparações, cada um é como é e cada um se dedica às causas que acha certas. Quem se dedica à causa animal, faz algo de bom e devia ser elogiado, em vez de criticado. Porque uma coisa é certa: não será por desistirmos de nos dedicarmos aos animais que o mundo ficará mais justo, ou que menos pessoas sofrerão.


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