Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

24 de março de 2018

Escravos

© Foto: Pixabay/SammisReachers


Quem pensa que a escravidão é coisa do passado, engana-se. Hoje em dia, há cerca de 40 milhões de escravos no mundo! Ficamos escandalizados, não é? Pois a verdade é que todos nós beneficiamos do trabalho escravo!

Mais irónico ainda é que um escravo nunca foi tão barato como hoje! Convertendo os preços para valores atuais, pode dizer-se que um escravo, no século XIX, custava algumas dezenas de milhar de euros. Ora, segundo a Walk Free Foundation, o preço mais barato de um escravo dos nossos dias é de apenas 20 euros!

Considera-se trabalho escravo quando as pessoas não recebem salário, são mal alimentadas, exercem o trabalho sob ameaça ou castigos, não se podem movimentar livremente, assim como não se candidataram livremente para o trabalho que exercem, nem aceitaram as condições a priori. A maior parte dos escravos trabalha na agricultura, na pesca, na construção civil, ou como empregados em casas particulares (na sua maioria, aquilo a que chamamos “criadas de servir”). As mulheres são mais suscetíveis de cair na escravidão do que os homens, pois são elas as maiores vítimas da exploração sexual, a que se juntam os casamentos forçados, nos quais a maior parte delas vive em condições escravizantes.

Por mais que nos esforcemos, é quase impossível para nós, consumidores, evitar comprar produtos que, em algum momento, dependeram de trabalho escravo. Só para dar alguns exemplos: muitos dos camarões que compramos são alimentados com farinha de peixe originária da Tailândia, confecionada através de trabalho escravo; a carne de porco que consumimos pode ter origem em animais portugueses, mas estes foram talvez alimentados com soja brasileira, proveniente de quintas que sobrevivem à custa de trabalho indigno; os smartphones (telemóveis) existem, graças a minerais raros provenientes do Congo, extraídos por escravos, não só adultos, como também crianças; muitos carros contêm aço brasileiro, obtido igualmente através de trabalho escravo.

Há situações ainda mais difíceis de detetar, já que é longa a cadeia de produção e opaca a estrutura laboral ligada a certos serviços. Quando pensamos, por exemplo, no vestuário produzido em condições duvidosas, estamos a considerar as trabalhadoras das fábricas têxteis asiáticas. Mas o problema é muito mais profundo. No caso do algodão, por exemplo, começa na sua colheita e passa pela preparação e fiação. Por isso, de pouco adianta as lojas fazerem contratos com fábricas, nas quais as trabalhadoras são respeitadas. O mesmo acontece em relação ao chá plantado e colhido à mão na Índia.

A solução não está à vista. Os responsáveis estão bem escondidos na densidade das estruturas comerciais do nosso mundo globalizado. Seriam precisas mudanças estruturais a nível económico, social, cultural e jurídico. A escravidão assenta na pobreza, no desemprego, nas crises económicas, nos conflitos armados e nas catástrofes naturais.

Também não adianta exigir leis mais rigorosas. A escravatura é proibida em todos os países do mundo, com a exceção da Coreia do Norte.

Mas, afinal, o que podemos fazer? Apoiar políticos, instituições e organizações que combatam o trabalho escravo, estar atento às suas recomendações e iniciativas, é um bom começo.


Nota: informações obtidas no jornal católico alemão KirchenZeitung, edição nº 4, de 28-01-2018.


2 comentários:

Olinda Melo disse...


Uma situação com a qual vivemos a paredes meias.
Chegam-nos notícias de trabalhadores que chegam
por cá e que vivem em escravidão na agricultura
e outros serviços, de mulheres que são enganadas e
trazidas e exploradas.

Tenho um texto em esboço em que falo disso ao
de leve. Permita-me levar o link deste seu texto,
como referência.

Bj

Olinda

Cristina Torrão disse...

Claro, Olinda, pode levar o link à vontade.

Este é um problema de que pouco se fala, infelizmente.

Bj