Começo com uma citação tirada de um outro livro, Portugal
- A Flor e a Foice, de J. Rentes de Carvalho:
«Para eles [escritores] o povo era folclórico, estúpido,
pobre por culpa da sua própria ignorância. Quando se lêem os romances em que,
supostamente, o povo está presente, constata-se na generalidade este fenómeno
curioso: aquele povo não existe, é a imagem deformada obtida pelos escritores
que vão à província ver os camponeses como os curiosos vão a um jardim
zoológico ver os animais. A prova: na maioria, na grande maioria dos romances
portugueses, os personagens populares são postos a falar com empolamento
académico, ou então com a ênfase pesada dos maus dramas de teatro».
Comecei com esta citação porque José Cipriano Catarino faz
precisamente o contrário: descreve, como ninguém, o nosso povo, a sua
linguagem, a sua mentalidade, o comportamento, o modo de vida. Ele tem a capacidade
de despir a nossa província dos seus enfeites, dando-nos a ver o interior, o
verdadeiro corpo, sem fantasias nem laivos de intelectualidade. Estes retratos são tão fiéis,
que qualquer um de nós se reconhece nos seus livros, mesmo aqueles que nasceram
e foram criados numa cidade. Os seus romances convidam à reflexão sobre o nosso
país e o nosso passado.
Sobre o enredo em si, cito a sinopse
da LeYa Online, onde se pode adquirir este romance sob a forma de eBook:
«Governa Salazar com mão de ferro este país pobrezinho mas
remendadinho quando dois jovens, seduzidos pelas proezas do grande ciclista
Alves Barbosa, saem pela primeira vez da aldeia natal, à aventura, para
fazerem, também eles, a Volta a Portugal em bicicleta (…) Decididos a abreviar
o périplo, querem, mesmo assim, terminar com proeza que lhes assegure glória: a
Serra da Estrela e a subida até à Torre. Na descida, em Manteigas, um deles inventa
o amor, apaixonando-se por humilde sopeira, e essa paixão vai crescer como o
Zêzere, tão humilde na nascente, verdadeiro mar em Castelo de Bode».
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