A 20 de Junho de 1120, D. Teresa refugiou-se no castelo de Lanhoso e a meia-irmã D. Urraca montou-lhe cerco.
Trata-se de uma época muito conflituosa, cheia de intrigas e golpes, nos quais estavam envolvidas mais duas importantes personalidades: o conde galego Pedro Froilaz de Trava e o arcebispo de Santiago de Compostela, Diego Gelmírez.
Tal como a meia-irmã, D. Urraca, como mulher, teve muita dificuldade em fazer valer a sua autoridade, apesar de ser a única herdeira legítima de D. Afonso VI. O facto de ter cumprido a última vontade de seu pai, casando com o rei D. Afonso I de Aragão e Navarra, piorou a situação da rainha, pois, no caso de o casal ter filho varão, esse príncipe deveria herdar Leão e Castela e o meio-irmão, Afonso Raimundes, filho do falecido D. Raimundo, herdaria apenas a Galiza. Assim determinara o imperador Afonso VI, logo provocando o protesto do conde galego Pedro Froilaz de Trava, Aio de Afonso Raimundes, que considerava o seu protegido o único herdeiro do avô. Depois da morte do imperador, o conde galego, assim como o bispo Gelmírez, apressaram-se a coroar Afonso, de apenas seis anos, como rei da Galiza, num primeiro sinal da autoridade que assistia ao pequeno.
Os dois galegos eram amigos, unidos na defesa do seu protegido, mas, com o tempo, começaram a desentender-se. D. Urraca aproveitou para aprofundar o fosso entre eles, entrando, em 1120, com um exército na Galiza. Instalou-se em Santiago de Compostela, onde doou um importante feudo à igreja daquela cidade, favorecendo o arcebispo. Esta doação debilitava a família de Trava, o que indignou o conde Pedro Froilaz.
Em seguida, aconteceu, porém, algo que hoje não se sabe bem explicar:
D. Urraca penetrou no condado Portucalense, arrasando culturas,
incendiando e depredando. Terá sido por influência do arcebispo Diego
Gelmírez, que pretendia acabar com o estatuto arqui-episcopal de Braga?
Nesse caso, será difícil de explicar que D. Urraca tenha feito, a 17 de
Junho, uma importante doação à igreja de Braga, na presença do arcebispo
D. Paio Mendes.
O certo é que, na sequência da incursão da meia-irmã, D. Teresa teve receio de ser destituída do governo do condado e refugiou-se no castelo de Lanhoso, um dos melhores de Entre Douro e Minho. Situado no cimo de um maciço rochoso com quase trezentos metros de altura, o castelo permitia vigiar as redondezas num raio de dezenas de milhas. Devido ao terreno acidentado, o seu acesso fazia-se apenas por um itinerário e as suas muralhas eram reforçadas por cinco torreões, dois dos quais ladeavam a única porta de entrada, voltada a Sul. Além disso, o seu interior albergava uma estrutura palaciana.
Na opinião de Mateus (2005), terá havido intriga de Fernão Peres de
Trava, o filho mais novo do conde Pedro Froilaz. Este é um interessante e
fulcral episódio, pois talvez marque o início da relação entre Fernão
Peres e D. Teresa. Mas como entraram os dois em contacto? Terá Fernão
Peres procurado D. Teresa em Lanhoso? Teriam os dois, nessa altura,
combinado apoderarem-se da Galiza (que D. Teresa considerava fazer parte
da sua herança) e urdido uma intriga, a fim de pôr D. Urraca novamente
contra o arcebispo Gelmírez? Neste caso, é possível que nem tenham
existido as «pazes de Lanhoso», rejeitando a hipótese de D. Teresa ter
prestado vassalagem a D. Urraca.
O mais certo é nunca virmos a saber o que realmente aconteceu. No entanto, o episódio de Lanhoso teve importância fulcral no futuro de D. Teresa, já que a sua ligação a Fernão Peres de Trava, permitindo a ingerência deste no governo do condado Portucalense, afastou de si os barões que veriam no filho, Afonso Henriques, o melhor meio de afastar a influência galega.
Nota: texto originalmente publicado aqui.
Castelo de Lanhoso - esta torre, a sua "imagem de marca" actual, ainda não existia ao tempo de D. Teresa.
Foto © Horst Neumann
Trata-se de uma época muito conflituosa, cheia de intrigas e golpes, nos quais estavam envolvidas mais duas importantes personalidades: o conde galego Pedro Froilaz de Trava e o arcebispo de Santiago de Compostela, Diego Gelmírez.
Tal como a meia-irmã, D. Urraca, como mulher, teve muita dificuldade em fazer valer a sua autoridade, apesar de ser a única herdeira legítima de D. Afonso VI. O facto de ter cumprido a última vontade de seu pai, casando com o rei D. Afonso I de Aragão e Navarra, piorou a situação da rainha, pois, no caso de o casal ter filho varão, esse príncipe deveria herdar Leão e Castela e o meio-irmão, Afonso Raimundes, filho do falecido D. Raimundo, herdaria apenas a Galiza. Assim determinara o imperador Afonso VI, logo provocando o protesto do conde galego Pedro Froilaz de Trava, Aio de Afonso Raimundes, que considerava o seu protegido o único herdeiro do avô. Depois da morte do imperador, o conde galego, assim como o bispo Gelmírez, apressaram-se a coroar Afonso, de apenas seis anos, como rei da Galiza, num primeiro sinal da autoridade que assistia ao pequeno.
Esta coroação complicou a vida de D.
Urraca, pois, durante a menoridade do filho, teve de aceitar a regência
de Pedro Froilaz de Trava sobre a Galiza. Não teve aliás filhos com
Afonso I de Aragão e o casamento chegou mesmo a ser dissolvido pela
Igreja. Porém, quando o filho atingiu a maioridade, que, nesta altura,
se dava pelos catorze ou quinze anos, o conde galego instou-o a ocupar o
trono de Toledo, a fim de tomar o lugar de seu avô, apesar de a mãe
ainda ser viva. Não estando disposta a prescindir dos seus direitos, D.
Urraca envolveu-se em contendas com Pedro Froilaz de Trava e o arcebispo
de Santiago de Compostela.
Os dois galegos eram amigos, unidos na defesa do seu protegido, mas, com o tempo, começaram a desentender-se. D. Urraca aproveitou para aprofundar o fosso entre eles, entrando, em 1120, com um exército na Galiza. Instalou-se em Santiago de Compostela, onde doou um importante feudo à igreja daquela cidade, favorecendo o arcebispo. Esta doação debilitava a família de Trava, o que indignou o conde Pedro Froilaz.
O certo é que, na sequência da incursão da meia-irmã, D. Teresa teve receio de ser destituída do governo do condado e refugiou-se no castelo de Lanhoso, um dos melhores de Entre Douro e Minho. Situado no cimo de um maciço rochoso com quase trezentos metros de altura, o castelo permitia vigiar as redondezas num raio de dezenas de milhas. Devido ao terreno acidentado, o seu acesso fazia-se apenas por um itinerário e as suas muralhas eram reforçadas por cinco torreões, dois dos quais ladeavam a única porta de entrada, voltada a Sul. Além disso, o seu interior albergava uma estrutura palaciana.
Pormenor do recinto actual do castelo de Póvoa de Lanhoso.
Foto © Horst Neumann
A partir daqui, não há certezas sobre o que
aconteceu. A versão mais conhecida é que as irmãs se reconciliaram, nas
chamadas «pazes de Lanhoso», jurando-se amizade e tendo D. Teresa
prestado vassalagem à irmã, que instituiu, a seu favor, «os senhorios de
Zamora, Orense, Salamanca, Toro e Ávila» (Mateus, 2005). Certo é que o
cerco foi de pouca dura. E, regressada a Compostela, D. Urraca mandou
prender o arcebispo Gelmírez e confiscou-lhe todos os castelos! O que
terá gerado este volte-face?
O mais certo é nunca virmos a saber o que realmente aconteceu. No entanto, o episódio de Lanhoso teve importância fulcral no futuro de D. Teresa, já que a sua ligação a Fernão Peres de Trava, permitindo a ingerência deste no governo do condado Portucalense, afastou de si os barões que veriam no filho, Afonso Henriques, o melhor meio de afastar a influência galega.
Nota: texto originalmente publicado aqui.
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