Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

20 de julho de 2020

Saramaguíada


Este romance de Pedro Guilherme-Moreira é um original e interessante projeto literário, uma viagem ao mundo das ideias de vários escritores e ao interior dos seus livros. Deixo aqui o ponto de partida nas palavras do próprio autor:

 «Em casos raros, numa ou noutra cidade, há farmácias ao lado de livrarias. Ora, nestes casos, as coisas que as pessoas pensam quando estão dentro das livrarias, se não forem ideias frívolas e tiverem uma certa consistência, vão aparecer numa sala secreta dentro da farmácia. O farmacêutico de serviço chama-se Esteves. Claro que, a partir da sala secreta, abre-se um mundo novo, de ideias, em que quase tudo é possível, e que, por regra, não se mistura com o mundo “normal”. Ora, é nessa sala que aparece o nosso Saramago. Porque alguém pensou nele na livraria contígua à farmácia», p. 13.

Como se vê, o leitor entra num mundo de fantasia. “S”, ou “Esse”, a ideia de Saramago, recebe uma missão do próprio Dom Quixote e embarca numa odisseia, conhecendo e convivendo com vários escritores, por exemplo, Alexandre O’Neill, Padre António Vieira (advogado de Esse, que o defenderá de acusações gravíssimas), Eça de Queirós, Mankell, Virgina Woolf, mas também com filósofos, como Confúcio e Voltaire, com artistas como Riefenstahl, ou mesmo com personagens de romances, como Dulcineia, Lídia e Marcenda (esta últimas, do romance O Ano da Morte de Ricardo Reis). Esse visita igualmente locais famosos, como a Closerie de Lilas, café parisiense, onde se encontraram gerações de artistas, escritores, músicos e políticos. Também Pilar não podia faltar nesta obra, sendo-nos apresentada com mais pormenor do que as outras personagens e, mesmo não participando na odisseia, mantém-se omnipresente em todo o romance.  

 Há, por isso, razões de sobra para ler este livro. O único senão poderá ser a quantidade de artistas e obras citadas, ou referenciadas e que se misturam no enredo. Não tendo conhecimento de determinado escritor, obra, ou artista, o leitor poderá ter dificuldade em entender a leitura, como aliás me aconteceu, em certos passos. Embora haja, no início, uma “Tábua de Personagens e Lugares”, torna-se fastidioso folhear para trás e para a frente, à procura de informações que nos possam ajudar a entender todos os momentos do enredo.


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