Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

3 de novembro de 2011

A escrita, por J. Rentes de Carvalho

Disfarçamo-nos no que escrevemos. Ora mostramos como gostaríamos de ser, ora escondemos os nossos medos entregando-os ao personagem, fingimos rir do que nos envergonha, criamos a virtude que seria bom ter e a coragem que nos falta, escondemos nesse irmão de empréstimo a cobardia e as hesitações que nos afligem, comete ele os crimes que não ousamos.
Toda a escrita é auto-retrato. Quanto melhor conseguida, mais difícil se torna, mesmo para o próprio, separar o vero do inventado. É também frágil equilíbrio em corda bamba, que uma vez perdido leva a cair na pose, dá a ilusão de que se pertence aos eleitos.
Quem pensa em escrever deveria, pois, como um beneditino, obrigar-se à clausura. A probabilidade é grande que, terminado o retiro, corra dali ao psiquiatra em vez de se arriscar à escrita.

5 comentários:

JR disse...

Creio que um escritor é talvez o exemplo mais apurado do que todos nós fazemos, por vezes, talvez a maior parte das vezes, que é construirmos a nossa própria ficção e depois chamar-lhe realidade, vida, etc.
Talvez, de algum modo, sejamos todos ficções de nós próprios.

Cristina Torrão disse...

João, fez-me lembrar algo que Lídia Jorge terá dito: que há palavras que todos os seres humanos pensam, mas não dizem; o escritor só se distinguirá desses seres humanos porque não tem pudor de partilhar essas palavras que não diz.

Li aqui:
http://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/59974.html

Anónimo disse...

Boa tarde, Cristina Torrão.

Não encontro nada nos Lusíadas que se refira ao Tratado de Tordesilhas. (Estas palavras, nunca antes tinham sido ditas) :)

E não é de estranhar: afinal, Camões "aproveitou-se" da viagem de Vasco da Gama para nos cantar a todos nós. Por isso, é natural que o que se passasse para as bandas do lado de lá do Atlântico não lhe interessasse muito.

E é provável que à Cristina também não lhe interessem muito estas palavras, mas olhe... elas aqui ficam, pode usar uma ou outra que eu não me importo! :)

Cumprimentos de boa tarde e bom fim de semana!

Simão Gamito

Cristina Torrão disse...

Caro Simão Gamito, apreciei que viesse dar a informação, estou sempre pronta para aprender ;)

Bom fim de semana também para si!

Anónimo disse...

Não sei se aprendemos alguma coisa, mas pronto! :))

Simão Gamito