«a mãe brinca com o
fogo para iluminar o caminho»
«a mãe desce aos invernos
para derreter a neve»
«ao braço de ferro, a
mãe responde com mãos de fada»
«o ouvido absoluto da
mãe alimenta-se da surdez».
minhamãe, da autoria de Eugénio Roda, com
ilustrações de Gémeo Luís
(Edições Eterogémeas) é mais um livro de louvor às mães, com frases, que além
de bonitas, são originais, como se pode ver nos exemplos (tirados da edição de
Junho de 2012, da LER). Acho muito bem que se elogiem as mães, que são,
decerto, as personalidades mais importantes das nossas vidas. Mas não posso
deixar de lembrar que há mães e mães. Se a maioria realmente «desce aos
invernos para derreter a neve», ou «responde com mãos de fada» ao «braço de
ferro», muitas há que estão longe disso.
Este é um tema muito
difícil e polémico, diria mesmo um tema tabu, já que ninguém costuma pôr em
causa as qualidades de uma mãe. Vivemos numa espécie de «ditadura das mães», ou
seja, é obrigatório amar e venerar quem possua o título de «mãe», seja qual forem
os atributos da sua portadora. Infelizmente nem todas as mães são exemplos de
amor, carinho e proteção. Nalgumas, isso é patente. Noutras, a crueldade e a
indiferença esconde-se sob a capa da mãe exemplar, ou, pelo menos, normal, o
que agrava o problema.
Há mães que não ligam
aos filhos; que não fazem o mínimo esforço para os compreender; mães que
projetam os seus sonhos e desejos nos filhos, roubando-lhes o direito à própria
personalidade, à sua criatividade; mães manipuladoras, de maneira a criarem os
filhos que idealizam, ou a manterem os filhos eternamente dependentes delas, ou
a incutirem nos filhos a ideia de que a mãe é frágil e que deve ser poupada a
desgostos, etc., etc.
O grande problema é
que uma criança não está em condições de julgar o comportamento da mãe a esse
nível. Mas, por algum motivo que não descortina, sente-se infeliz, insegura, insatisfeita,
ou diferente das outras crianças (que terão mães mais próximas do ideal).
Porém, ao interiorizar esse ideal de mãe difundido pela sociedade e por livros
como o citado, a criança culpa-se a si própria pela sua infelicidade, ou
malvadez (quando a mãe, por exemplo, lhe diz constantemente que é má, fazendo a
mamã sofrer), criando mazelas psicológicas para toda a vida.
Por isso, duvido,
muitas vezes, da utilidade e da pertinência destes livros, escritos a pensar
numa sociedade de mães exemplares, uma sociedade que, na verdade, não existe.
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