Decidir a própria morte era um dos pecados
mais terríveis, retirava o direito a funeral e a uma campa na terra sagrada do
cemitério. Naquele momento, porém, surgia-lhe como solução para o desespero
insuportável, o que lhe conferiu um certo alívio, e de tão exausta, acabou por
adormecer.
Sonhou que se atirava ao Arda. Via-se a
deixar este mundo, entrando noutro, que a deixava imune ao sofrimento.
Acordou, de repente, sem saber se dormira
horas ou se apenas passara
pelo sono. E o desassossego regressou com tal intensidade, que não conseguiu
permanecer deitada. Um impulso irresistível guiou-a porta fora, descalça,
envolta na sua camisa de dormir, o cabelo pelas costas. Pôs-se a caminho do
rio, descendo a encosta íngreme, por entre os castanheiros e os carvalhos.
Estava um dia lindo de maio, os fenos
despontavam num verde ainda tenro. Mas Jacinta caminhava sem se dar conta do
brilho do sol e do chilrear dos pássaros. Movia-se alheia a tudo, como se
vivesse já num outro mundo, em direção a um dos raros bancos de areia, no curso
do Arda, onde ela e as irmãs costumavam ir lavar roupa.