Eça de Queirós não é de facto apenas o Eça de
Os Maias, O Crime do Padre Amaro, ou O
Primo Basílio. E, depois de ter lido o Defunto
e A
Ilustre Casa de Ramires, torno a afirmar: que bom haver Eça por
descobrir! Quanto mais dele se lê, mais se constata quão completo ele era, experimentando
novos formatos e narrativas. Foi pena ter falecido novo (na idade de cinquenta e
quatro), quantas maravilhas literárias teria ainda produzido, se tivesse vivido
mais uns vinte anos!
Este projeto, O Mistério da Estrada de Sintra, foi aliás levado a cabo em
conjunto com Ramalho Ortigão. De qualquer maneira, a sua marca é bem visível,
nomeadamente, na caracterização das personagens. A novidade, aqui, é tratar-se
de um romance policial, com um grande mistério a envolver uma morte. Suicídio
ou assassínio?
Esta é, portanto, uma nova experiência de
leitura em Eça, pois alia a habitual descrição da sociedade e dos costumes ao suspense de um mistério por deslindar. Mais
uma vez, há uma mulher adúltera com a marca de Flaubert, ou seja, compreensão para um ato, à época, inaceitável. As adúlteras, em Eça, nunca são
mulheres devassas, ou condenáveis.
Para o género policial, porém, tenho um
defeito a apontar: uma parte da narrativa demasiado longa, num dos flashbacks que nos põem a par do passado
das personagens envolvidas.
Nota: li a versão ebook, em download
gratuito, no Projecto Adamastor.