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Estas
crianças parecem ter uma boa vida. Estão bem alimentadas, bem vestidas e lavadas.
Porém, reparando nos seus olhares (é tão importante reparar nos olhares!),
constatamos que algo os incomoda. Os olhos são profundamente tristes,
desiludidos, um tanto desconfiados.
Estas
crianças foram simplesmente abandonadas! Não só pela família, como por toda a
aldeia onde viviam. A razão? Algum seu familiar adoeceu com ébola, ou elas
próprias apresentaram sintomas: febre, vómitos, dores nas articulações. Na
verdade, muitas nem contraíram o ébola! Quantas outras doenças há com os mesmos
sintomas?
Para
estas crianças, não costuma haver regresso. As portas fecham-se-lhes, sentem na
pele a frieza, a recusa, a segregação. Vagueiam pelas ruas e, se têm sorte, são
recolhidas numa aldeia SOS, como estas, em Freetown, na Serra Leoa.
O
monge salesiano alemão Lothar Wagner é uma das pessoas que se ocupam destes “órfãos”,
lhes tentam incutir nova coragem, gosto e confiança na vida. O sucesso não está
garantido. Mesmo os fisicamente saudáveis, quedam-se sem iniciativa, queixam-se
de falta de apetite, alguns passam a vida a chorar silenciosamente, ou
mantêm-se apáticos.
Já
não se fala de ébola, na Europa e nos Estados Unidos. Depois da histeria de
alguns casos (meu Deus, a doença já está entre nós!), o perigo passou. É como
se o ébola estivesse debelado. Apesar de a situação estar mais ou menos
controlada, porém, o ébola continua a matar. E a condenar crianças ao abandono.
Post baseado neste artigo (em alemão).
ResponderEliminarExcelente, cara Cristina.
Tem razão, nota-se a tristeza, o desamparo destas crianças. Parabéns por ter abordado este tema, o das vítimas sem voz que são as crianças, como o quase esquecimento em relação ao Ébola, depois do histerismo inicial. Este quase voltou quando ontem ou anteontem foi noticiado o caso, depois desmentido, de uma mulher vinda da Guiné-Conakri que teria tal doença.
Bj
Olinda
Corrigindo ou acrescentando:
ResponderEliminar"como "também" o quase esquecimento"
:)
Bj
Pois é, Olinda, os histerismos agora são outros. Anda tudo à volta do combate Grécia versus União Europeia. Não digo que a atitude da Grécia não seja digna de registo. Merece toda a nossa atenção e respeito, são bem-vindas todas as propostas que possam evitar esta austeridade extrema. Mas daí a endeusar os novos governantes gregos, como se fossem Messias...
ResponderEliminarEntretanto, na África... E em tantos outros cantos do mundo.
Bj
O mundo está repleto de dramas humanos. Dramas que cabe exclusivamente aos humanos, encontrar a forma de os resolver, de os fazer reverter. E essa solução passa somente por anular o cinismos dos que governam, protegendo os interesses dos que detêm o capital e exploram os mais frágeis, como forma de fazer aumentar esse capital.
ResponderEliminarA sede de certos humanos por riqueza parece insaciável, Bartolomeu. O pior é que muitos desses humanos se tornam poderosos. Os justos parecem ter mais dificuldades em subir tão alto. Será o poder incompatível com a honestidade?
ResponderEliminarO poder politico está cativo do poder capitalista, Cristina. E esta evidência não é exclusiva de alguns países e nem de alguns continentes. No entanto, em certos países de África, por exemplo, essa evidência e a discrepância que que fazem dela um monstro, originam uma decalage terrível e um fosso enorme entre os extratos da população, tendo por vítimas os mais frágeis... os idosos, os doentes e as crianças.
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