- Não te queres tornar uma de nós?
Jacinta olhou a moura tão atónita, que esta
acrescentou:
- Ou julgas-te preciosa demais? Afinal, estiveste num convento… E deves saber ler e escrever, guardas esse teu livrinho como se de um tesouro se tratasse.
Jacinta remeteu-se ao silêncio, lutando consigo própria. Estava sozinha no mundo, valia menos do que um cão de pastor, ou uma vaca de camponês. Mais cedo,ou mais tarde, haveriam de
abusar dela, como o Fuças fizera.
Também nessa altura ela se esforçara por ser humilde e recatada. E de nada
adiantara!
Não seria melhor passar da defesa ao ataque? Várias vezes, constatara que o mal não estava nos atos em si, mas nas circunstâncias em que ocorriam. Como soldadeira, poderia, pelo menos, escolher com que homem se deitar. E ainda ganharia dinheiro com isso.
Que mais lhe restava, como mulher, esgotadas que estavam as possibilidades do casamento e do mosteiro? Possibilidades que desperdiçara, fosse por azar, por burrice, ou por ruindade…
Olhou para Rosinha, de apenas cinco anos, que corria livre e feliz, pela areia. A única hipótese daquela catraia era tornar-se soldadeira, todas as outras lhe estavam vedadas. Porque condenava Deus crianças doces e inocentes a tal destino?
Não passaríamos todos de gotas de chuva a vaguear ao sabor do vento…
- Crês que me podias ensinar a bailar?
Zaida, que, perante o silêncio dela, tornara a concentrar a sua atenção no mar, mirou-a crítica. Depois, considerou:
- Bem, és tão alta como eu e, embora sejas magra, pareces-me bem-feita. Além disso, – pôs-lhe a mão debaixo do queixo, obrigando-a a erguer a cabeça, – tens uma pele clarinha e mimosa. Há homens doudos por isso. E esses olhos de gata também os enfeitiçam. – Recolheu a mão e acrescentou: - Desprende lá os cabelos!
- Ou julgas-te preciosa demais? Afinal, estiveste num convento… E deves saber ler e escrever, guardas esse teu livrinho como se de um tesouro se tratasse.
Jacinta remeteu-se ao silêncio, lutando consigo própria. Estava sozinha no mundo, valia menos do que um cão de pastor, ou uma vaca de camponês. Mais cedo,
Não seria melhor passar da defesa ao ataque? Várias vezes, constatara que o mal não estava nos atos em si, mas nas circunstâncias em que ocorriam. Como soldadeira, poderia, pelo menos, escolher com que homem se deitar. E ainda ganharia dinheiro com isso.
Que mais lhe restava, como mulher, esgotadas que estavam as possibilidades do casamento e do mosteiro? Possibilidades que desperdiçara, fosse por azar, por burrice, ou por ruindade…
Olhou para Rosinha, de apenas cinco anos, que corria livre e feliz, pela areia. A única hipótese daquela catraia era tornar-se soldadeira, todas as outras lhe estavam vedadas. Porque condenava Deus crianças doces e inocentes a tal destino?
Não passaríamos todos de gotas de chuva a vaguear ao sabor do vento…
- Crês que me podias ensinar a bailar?
Zaida, que, perante o silêncio dela, tornara a concentrar a sua atenção no mar, mirou-a crítica. Depois, considerou:
- Bem, és tão alta como eu e, embora sejas magra, pareces-me bem-feita. Além disso, – pôs-lhe a mão debaixo do queixo, obrigando-a a erguer a cabeça, – tens uma pele clarinha e mimosa. Há homens doudos por isso. E esses olhos de gata também os enfeitiçam. – Recolheu a mão e acrescentou: - Desprende lá os cabelos!
Um grande romance!
ResponderEliminarUma história da História, tão bem bem contada que transporta o leitor para o meio da ação, sem que disso se aperceba.
Na trajetória de aperfeiçoar livros a tornarem-se bons romances há modelos a actualidade; a exemplificar o resgate histórico, poucos.
ResponderEliminarMuito obrigada, Bartolomeu :)
ResponderEliminarE Cláudia, igualmente ;)
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