Observo-a da varanda das traseiras. É de raça indefinida e não sei o nome dela. Nem sequer sei se tem um nome. Pertence a uns vizinhos, mas não pode entrar no apartamento deles, hábitos antigos, que não concebem um cão dentro de casa. Vive e anda pelas hortas e terrenos que pertencem a essas mesmas pessoas, é alimentada e tem um lugar abrigado para dormir.
Os
donos são idosos, reformados, e tratam frequentemente das suas hortas. Quando
aparecem, ela não cabe em si de alegria: corre, salta, dança. Por vezes,
fazem-lhe festas, principalmente, a dona. E é acarinhada pelos outros vizinhos
que têm igualmente um pedaço de horta.
No
mesmo prédio, vive um filho dos donos, com família. Outro dia, reparei que ela
corria ainda com mais alegria. Cedo descobri a razão: a neta da dona, de oito
ou nove anos, acompanhou a avó à horta e fez-lhe muitas festas. Ela não se
fartava delas, sempre pronta, sempre a abanar a cauda, cheia de expectativa, quando
a pequena se distraía com outra coisa, como que a dizer: «estou aqui, não me
esqueças! Quero mais, gosto tanto»!
Por
vezes, vagueia sozinha pelos campos, mais tristonha, o passo mais vagaroso,
mais pesado. À espera que venha alguém...
Tem sentimentos, não há dúvida. E, no cômputo geral, fico com a sensação de que é feliz. Porque tem liberdade e sabe onde pertence. Estes dois fatores são essenciais a um cão. Sozinhos, ou presos, não têm hipótese de serem felizes. E escusado será dizer que a combinação destas duas situações é o pior que pode acontecer a estes seres, que nos idolatram, como se fôssemos deuses. Era tão bom que ninguém abusasse dessa característica canina!
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