E aqui mais uma Cantiga de Amor:
«O meu grande mal foi pousar os olhos na “mia senhor”, pelo que muitas vezes me amaldiçoei, e ao mundo e a Deus. Desde que a vi, nunca mais recordei outra coisa, se não ela; nunca mais sofri por outra coisa, senão por ela. Faz-me querer mal a mim mesmo e desesperar de Deus. Por ela, quer este meu coração sair do seu lugar e eu morro, já depois de ter perdido o juízo e a razão. Todo este mal ela me fez e mais fará».
A mia senhor que eu por mal de mi
vi, e por mal daquestes olhos meus
e por que muitas vezes maldezi
mi e o mund’e muitas vezes Deus,
des que a nom vi nom er vi pesar
d’ al, ca nunca me d’ al pudi nembrar.
A que mi faz querer mal mi medês
e quantos amigos soía haver,
e desasperar de Deus, que mi pês,
pero mi tod’ este mal faz sofrer,
des que a nom vi nom er vi pesar
d’ al, ca nunca me d’ al pudi nembrar.
A por que mi quer este coraçom
sair de seu lugar, e por que já
moir’ e perdi o sem e a razom,
pero m’ este mal fez e mais fará,
des que a nom vi nom er vi pesar
d’ al, ca nunca me d’ al pudi nembrar.
2 comentários:
Tenho seguido com muito interesse os seus últimos posts acerca das Cantigas de Santa Maria de Afonso X, assim como das de D. Diniz. O Pergaminho Sharrer (descoberto na TT por Harvey Sharrer, se não estou em erro, em 1991) foi uma fantástica descoberta. Quem tem trabalhado imenso esta música é o musicólogo Manuel Pedro Ferreira (poderá encontrar uma série de trabalhos no perfil dele em www.academia.edu). As obras têm sido extensivamente gravadas, e quase posso dizer que é da nossa música mais conhecida no estrangeiro.
cumprimentos,
Mais uma vez agradeço as suas informações e obrigada pelas suas visitas. É bom ver que estes meus posts vão alcançando alguém ;-)
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