Sou grande admiradora de Cristiano
Ronaldo. Apesar de, muitas vezes, se pensar que o carácter dele deixa algo a
desejar, ou de se ter chegado a um ponto em que não se consegue distinguir o
que é autêntico, ou mero golpe de marketing,
não há dúvida de que Ronaldo é a maior estrela que Portugal jamais deu ao
mundo. Nem sequer vale a pena comparar com Eusébio ou Amália, por mais respeito
que devamos a estas duas pessoas, que tanto fizeram pelo nosso país. Nem sequer
com Camões! Cristiano Ronaldo é um símbolo planetário, conhecido nas aldeias
mais remotas das regiões mais inóspitas, sejam os seus habitantes ricos ou
pobres, cultos ou ignorantes.
Confesso, porém, que fiquei um pouco desiludida, ao ler um
artigo baseado numa entrevista que Ronaldo deu a um canal egípcio,
nomeadamente, quando fala na educação do seu filho. «Digo-lhe
sempre que tem de ser forte para lidar com a adversidade». Tenho sérias
dúvidas se se consegue que uma criança fique forte, ao repetir-lhe
constantemente que ela tem de ser forte. As crianças esforçam-se muito para não
desiludir os pais, por isso, acho contraproducente carregá-las de exigências. Corre-se
o risco de as esmagar, desenvolver nelas o medo de falhar, de desiludir, o que desemboca
numa grande insegurança.
Educa-se mais com exemplos do que com palavras. Se Ronaldo quer que o filho seja forte, tem, acima de tudo, de dar o exemplo, não só na sua vida pública, como na familiar. Além disso, o mais importante é que ele acompanhe o filho nos seus problemas diários, escutando-o, levando-o a sério, por mais insignificantes que as suas queixas lhe pareçam. E, mais do que repetir: «tens de ser forte», deve apoiá-lo. Fazer uma criança forte não é “largá-la aos bichos”, mas mostrar-lhe que se está do lado dela.
«Claro que gostaria [que ele fosse futebolista], mas não vou pressionar. Vou empurrá-lo um pouco para ser futebolista, mas não quero que seja guarda-redes. Quero que seja avançado. Mas ele será o que quiser. Isso não me preocupa».
Mas então vai pressioná-lo, ou não? Por um lado, diz que não, por outro, diz que sim, um pouco… E porque não há de o miúdo de ser guarda-redes? Que tem Ronaldo contra guarda-redes? Não há grandes exemplos a seguir? Que dizer de Vítor Damas, Michel Preud’Homme, Gianluigi Buffon e outros fantásticos profissionais?
Os filhos não são uma segunda versão nossa, mas sim pessoas autónomas. Cristiano Ronaldo não precisa de «empurrar um pouco» para que o filho seja futebolista, sendo ele próprio um. Os filhos guiam-se pelos pais. Mas é importante que não se sintam pressionados, pois só serão verdadeiramente felizes se seguirem a sua vocação. Os pais podem dar sugestões, orientações, mas não devem nunca pressionar. Devem, sim, dar competências aos filhos para que possam decidir livremente.
O verdadeiro amor não conhece preferências. Ama-se um filho independentemente do que ele vier a ser.
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