Tendo eu dado há dias
a minha opinião
sobre um livro que faz parte do Plano Nacional de Leitura, aproveito, agora
que os ânimos se acalmaram, para pegar num assunto que gerou muita discussão,
há pouco tempo. Refiro-me à obra O Nosso Reino, de Valter Hugo Mãe, que,
por um suposto
erro informático (e aqui a confirmação de que se tratou de um erro) estava aconselhado a alunos do 7º ao 9º ano. Os
professores da Escola Pedro Nunes decidiram incluí-lo nos seus programas, o que
despoletou o protesto de muitos pais, que exigiam a retirada do livro como
leitura obrigatória no 8º ano, pois utiliza, num certo passo, linguagem obscena
(diga-se de passagem que não é a primeira vez que este autor está em foco por
causa de linguagem obscena; houve igualmente um caso com o livro A
Desumanização, chegando-se à conclusão de que o problema era a frase fora
do contexto; pois eu, no único
livro que li de Valter Hugo Mãe, também deparei com uma passagem que sinceramente
me enojou).
Muita gente se
indignou, ressuscitando o fantasma da censura. Ora, a censura não consiste em
evitar que determinados livros sejam lidos por uma determinada faixa etária.
Falar de censura, num caso destes, é desrespeitar a verdadeira censura e todas
as pessoas que sofreram à custa dela. Não misturemos alhos com bugalhos, nem
façamos uma tempestade num copo de água! Foi pena o autor ter mordido o isco e adotado o papel de vítima...
Um argumento usado
pelos defensores do livro era que os pais, pelos vistos, ignoravam a
linguagem obscena usada por muitas crianças e jovens entre os 12/14 anos,
incluindo os próprios filhos (até se aludia que seriam todos os miúdos que o
faziam, mas vou fechar os olhos a isso). Na minha opinião, este é um argumento
inválido. As crianças que usam linguagem dessa, fazem-no como contestação
própria da idade, pelo prazer de fugir às regras. Uma coisa completamente
diferente é depararem com tal linguagem numa aula, onde supostamente se devem
cultivar em todos os sentidos.
É verdade que a linguagem brejeira é usada nas obras de muitos autores laureados ao mais alto nível, como Saramago. Deve-se, porém, confiá-la a leitores que possuam maturidade suficiente para perceber que só se deve ser brejeiro, depois de se saber o que é ser bem-educado. Por isso, sempre achei que, neste caso, se devia aumentar a faixa etária. E foi realmente o que aconteceu: O Nosso Reino passou a ser aconselhado para o Secundário. Enfim, até me apetece dizer: ainda bem que os tais pais contestaram o livro, de outra maneira, o Ministério não corrigiria o alegado erro informático.
É verdade que a linguagem brejeira é usada nas obras de muitos autores laureados ao mais alto nível, como Saramago. Deve-se, porém, confiá-la a leitores que possuam maturidade suficiente para perceber que só se deve ser brejeiro, depois de se saber o que é ser bem-educado. Por isso, sempre achei que, neste caso, se devia aumentar a faixa etária. E foi realmente o que aconteceu: O Nosso Reino passou a ser aconselhado para o Secundário. Enfim, até me apetece dizer: ainda bem que os tais pais contestaram o livro, de outra maneira, o Ministério não corrigiria o alegado erro informático.
Uma nota a propósito da crítica a uma professora que terá recomendado a leitura de um livro que ela própria não leu. À primeira vista, é algo que realmente indigna. Mas não culpemos os professores de ânimo leve! Eles com certeza confiam plenamente no Plano Nacional de Leitura. Se, por exemplo, uma professora que seja admiradora de Valter Hugo Mãe, ao descobrir um livro dele recomendado para uma determinada faixa etária, resolva incluí-lo nas suas aulas, mesmo antes de o ter lido, cometerá uma falha assim tão grande? Também se pode dar o caso de a Direção de uma escola escolher incluir determinado livro e haver, entre os docentes, quem ainda não o tenha lido.
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