Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
30 de novembro de 2017
As Cantigas de Amor e a Realidade
Sem pôr em causa o valor literário e cultural das cantigas de amor, elas funcionavam como uma espécie de armadilha para as mulheres. Elevavam-nas, mas cultivando uma imagem criada pelos homens: a da mulher perfeita, educada, casta, pura. Elogiavam um ideal que não existia, nem existe, influenciado pela imagem da Virgem Maria, divulgada pela igreja. Tanto assim era, que Afonso X de Castela criou as Cantigas de Santa Maria, de louvor à Virgem, baseadas no modelo das cantigas de amor.
A Idade Média foi uma época de grande discrepância entre a teoria e a prática, em vários aspetos. O papel da mulher era notoriamente submisso. Na vida quotidiana, era mais maltratada do que elevada e nem este tipo de poesia serviu para lhe conceder um estatuto mais considerado. Mesmo as mulheres da alta nobreza estavam sujeitas a serem raptadas, presas, rejeitadas, postas de lado, se os pais e/ou maridos assim o entendessem. Metiam-se em conventos ou, pura e simplesmente, se encarceravam, isoladas do mundo e dadas como loucas ou incapazes, para que os seus maridos pudessem tornar a casar.
A mulher considerada "deusa" é uma cruel armadilha. Afinal, quem, entre nós, quer ficar lá nas alturas, intocável; admirada, mas isolada?
28 de novembro de 2017
Infância
que súbita asa
me devolve esta alegria
casta
de senti-la?
longínquo eco a ressoar
na fascinação da lembrança
dispo as vestes deste reino
para onde me transmigrei...
[ingénua utopia!]
e regresso
para poder abraçá-la
e merecê-la, por um dia.
sujar os bibes brunidos
desprezar os sapatos de
verniz
trepar às árvores, aos
muros
não ouvir o que avó diz.
esfolar um joelho no chão
perseguir gatos e pássaros
como fazia meu irmão
a gastar a infância
até ao último sopro da
ilusão.
mas tu és menina
e
uma menina não… e
não…
e não… e não…
regresso,
para poder abraçá-la
para lhe pedir perdão.Lídia Borges
(publicado em 15 de Fevereiro de 2015, no blogue Searas de Versos)
21 de novembro de 2017
Escrever e rever
Manuscrito de "O Ano da Morte de Ricardo Reis", José Saramago, visto neste blogue. |
Um/a escritor/a passa mais tempo a rever aquilo que escreve do que propriamente a escrever. Claro que as editoras têm revisores profissionais, mas é impensável para um/a autor/a (ou devia ser) enviar um original para publicação sem lhe ter dado várias voltas. Eu dou imensas voltas aos meus textos. E por vezes penso que gosto mais de rever do que de escrever!
Escrever é bom, claro, alivia poder despejar as ideias que temos na cabeça, as ideias que temos medo de perder. Mas também é muito cansativo. Se há ideias que nos saem sem esforço (e até se atropelam, daí o medo de perder alguma), há coisas que dão imenso trabalho, como, por exemplo, encontrar ligações entre diferentes partes do enredo, ou encontrar maneira de tornar certa cena mais verosímil.
Rever, por outro lado, é mais relaxante. Ter o texto escrito à minha frente tira-me um grande peso dos ombros, imagino que estou a ler algo escrito por outra pessoa e a corrigir o que me parece mal, cenas infelizes, diálogos supérfluos, por aí fora. Sinto-me livre para criticar e torcer o nariz. E quantas vezes as melhores ideias me surgem na revisão, ao dar coerência àquilo que está mal alinhavado...
Talvez a maior dificuldade seja encontrar uma altura em que chega de revisões. Há quem ache que até se corre o perigo de estragar, em vez de melhorar. Quando essa dúvida nos surge em relação a uma frase, um parágrafo ou uma passagem, talvez seja melhor não lhe mexer, deixar passar algum tempo e tornar ao local. Por outro lado, se nos dá uma vontade espontânea de corrigir algo, é melhor fazê-lo!
Guardar o original durante uns meses, sem lhe tocar, também ajuda. Ganhamos-lhe distância e as fraquezas saltam-nos à vista com mais facilidade.
8 de novembro de 2017
A Paixão do Conde de Fróis
Trata-se de um romance histórico com a qualidade
literária a que Mário de Carvalho nos habituou.
No século XVIII, ao tempo do rei D. José e do Marquês de
Pombal, o jovem conde de Fróis envolve-se num crime, em Lisboa. O prestígio do
pai evita que vá para a cadeia, mas é desterrado para a longínqua praça de S.
Gens. O pai, que não vê o filho estouvado responsável por uma praça militar,
por mais pequena e insignificante que seja, pede ao capelão da família que o
acompanhe e olhe por ele, coisa que o clérigo faz muito contrariado.
A viagem é longa e desconfortável. E ainda mais
desconfortável é o local onde aterram. O capelão diz mal da sua vida. O
jovem conde, porém, surpreende tudo e todos, levando a sua missão muito a sério e
impondo disciplina naquele fim do mundo.
Contudo, se o clérigo, apesar do desconforto, julgava levar
ali vida pacata, engana-se, pois é declarada guerra entre Portugal e os
exércitos coligados de Espanha e França. E a insignificante fortaleza ganha uma
certa importância, devido à sua localização raiana, perto de Miranda do Douro. O
jovem conde tudo faz para a defender, indo muito para além do que lhe é
exigível, e instala-se uma guerra de cerco feroz e movimentada.
Mário de Carvalho, dono de fina ironia, é exímio na
narração dos acontecimentos e na criação de personagens com as suas virtudes,
fraquezas e contradições.
5 de novembro de 2017
Museu Municipal Martim Gonçalves de Macedo
© Horst Neumann |
D. Martim Gonçalves de Macedo salvou a vida a D. João
Mestre de Avis na Batalha de Aljubarrota, em 1385, e teve direito a sepultura
no Mosteiro da Batalha. A sua memória foi-se, porém, apagando, ao longo dos
séculos.
A terra de onde ele era oriundo, hoje cidade de Macedo de Cavaleiros,
inaugurou, há dois anos, um museu com o seu nome. Instalado numa antiga escola
primária, o museu é pequeno, mas muito bem organizado e cuidado até ao mais
ínfimo pormenor.
© Horst Neumann |
Adorei a visita que lá fiz, também pela simpatia e competência
do seu responsável, Cláudio Pereira.
Se algum dia passarem por Macedo de Cavaleiros, não deixem
de visitar este museu! A entrada é grátis e, se a porta estiver fechada, toquem
à campainha!
© Horst Neumann |
Para mais informações:
No
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Sobre
D. Martim Gonçalves de Macedo, podem ler nesta publicação com descarregamento
gratuito:
© Horst Neumann |
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