Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

21 de dezembro de 2017

Coleção Essencial INCM




Há seis anos, comprei, na Feira do Livro do Porto, seis livrinhos da Coleção Essencial da INCM, a 1 € cada. Entretanto, constatei que alguns títulos estão à disposição para descarregamento gratuito no site do Instituto Camões, outros podem ser comprados na Loja Online da INCM.

Li, finalmente, os títulos que, na altura, escolhi, pelo que dou aqui a minha opinião sobre cada um deles.

- O essencial sobre José Saramago, de Maria Alzira Seixo

Foi interessante ler um livro publicado em 1987 sobre a obra de Saramago, bem antes de ele ter ganho o Prémio Nobel. A Jangada de Pedra surgira havia pouco tempo (1986) e já tinham sido dados à estampa outros dois grandes romances: Memorial do Convento (1982) e O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984).
Interessante foi também conhecer o percurso e a evolução no nosso único Nobel, que começou discreto, com poesia pouco digna de nota e uns primeiros passos atabalhoados na ficção, ainda sem o estilo que o haveria de caracterizar. O escritor construiu uma carreira ao longo de várias décadas, à custa de muito esforço e perseverança, pois não se movia entre a nata do mundo editorial português, se bem que a sua ligação ao jornalismo lhe facilitou um pouco a vida.

- O essencial sobre a Cultura Medieval Portuguesa (séculos XI a XIV), de José Mattoso

Devido à falta de espaço, este estudo é pouco, ou nada, aprofundado. O autor limita-se a dar algumas informações, frisando a diferença entre o «Norte cristão e rural» e o «Sul moçárabe e urbano» e traçando, em linhas gerais «o processo de aculturação», sem esquecer, claro, que a cultura erudita estava ligada ao meio eclesiástico. Quem pretende iniciar-se neste tema, o livrinho pode ser útil; para quem se ocupa da Idade Média há mais de quinze anos, nada acrescenta. Mas é sempre bom ler José Mattoso. De notar que a edição é de 1993.

- O essencial sobre Filosofia Política Medieval, de Paulo Ferreira da Cunha

Há uma grande preocupação, por parte do autor, de condensar muita informação em pouco espaço. Este volume, publicado em 2005, é mais grosso do que os outros, o tipo de letra é mais pequeno e há longas listas bibliográficas, para quem quiser aprofundar o tema. No seu conteúdo, o livro não passa de uma listagem de filósofos mais influentes, começando com (Aurélio) Agostinho (sécs. IV-V), passando pelo inevitável São Tomás de Aquino (séc. XIII) e acabando com Guilherme de Ockham (sécs. XIII-XIV) que serviu de inspiração a Umberto Eco para a personagem principal de O Nome da Rosa.

- O essencial sobre o Romanceiro Tradicional, de J. David Pinto-Correia

Uma boa base para a iniciação no Romance Tradicional, um género narrativo-dramático popular, de tradição oral (pelo que, muitas vezes, há várias versões para o mesmo enredo) que teve as suas origens na Baixa Idade Média, alimentado por «episódios de antigos cantares de gesta, fragmentos de histórias noticiosas elaboradas por jograis e sequências de intrigas provenientes do fundo baladístico europeu». De salientar a transcrição integral de alguns romances (edição de 1986).

- O essencial sobre o Cancioneiro Narrativo Tradicional, de Carlos Nogueira

Este volume, editado em 2002, dedica-se às cantigas narrativas difundidas por cantores populares e cegos pedintes, cuja origem remonta aos séculos XVI e XVII e que eram promotoras «das ideologias, das normas de comportamento e dos valores religiosos basilares para a vida individual e social». Fazer uma inventariação destas cantigas narrativas não é fácil, já que não há registos escritos. As cantigas transcritas neste volume são resultado de uma recolha de vários investigadores que, ao longo do século XX, visitaram várias localidades portuguesas, a fim de ouvirem as cantigas pela voz de populares.

- O essencial sobre a Literatura de Cordel Portuguesa, de Carlos Nogueira

Em conjunto com os últimos dois volumes citados, este livro, ou será melhor dizer, o estudo da literatura de cordel, é mesmo essencial para se entender a cultura popular e o modo de vida de gerações de portugueses, cultura e costumes que influenciaram as mentalidades e a cultura denominada erudita. À altura da publicação, em 2004, o autor lamentava estar «ainda por fazer uma reflexão de conjunto sobre a literatura de cordel portuguesa», que, «fecundado por uma óptica transdisciplinar, traria com certeza dados surpreendentes para o esclarecimento de várias zonas sombrias ou intocadas da nossa teoria literária ou textual, bem como do comportamento social e da mentalidade portuguesas».
Este tipo de literatura costuma ser menosprezado e, no entanto, «os textos que circulavam sob a forma de folheto alcançavam um público vasto e de condição socioeconómica muito diversa», começando pela própria corte. Resta acrescentar que a literatura de cordel contou com a participação de autores hoje consagrados, como Camilo Castelo Branco, que, em 1848, publicou um folheto, que não assinou, com o curioso título (os títulos longos não eram raros, neste tipo de publicações): Maria, Não Me Mates Que Sou Tua Mãe! Meditação sobre o espantoso crime acontecido em Lisboa; uma filha que mata e despedaça sua mãe. - Mandado imprimir por um mendigo, que foi lançado fora do convento, e anda pedindo esmola pelas portas. Offerecido aos paes de famílias e àqueles que acreditam em Deus.


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