Agora, que o Natal já passou e nos preparamos para iniciar um novo ano, uma época que poderá servir de reflexão, publico um resumo da minha palestra do passado dia 2 de Outubro, no Rotary Clube da Feira, a convite da sua Presidente Carla Pinto:
Considera-se que, quanto mais
evoluímos, mais solidariedade e companheirismo desenvolvemos e melhor sabemos
viver em comunidade. Infelizmente, nem sempre se verifica tal e um dos nossos
grandes males, a meu ver, é a memória curta.
Verifica-se um
crescimento de partidos radicais e xenófobos, ou seja, um retrocesso
civilizacional que muitos de nós não julgavam possível. Estamos perante um
fenómeno estranho na nossa democracia: há como que um desejo de regresso a
regimes autoritários. E, o que é realmente perigoso, a palavra ditadura parece
ter perdido muito do seu verdadeiro significado.
«É o medo que nos torna
agressivos», escreve a minha personagem Helena, numa das suas cartas, no meu
romance parcialmente epistolar Tu És A
Única Pessoa. Muitos de nós parecem ter capitulado a um medo ancestral,
nomeadamente, o medo do desconhecido. Não nego que vivemos tempos complicados,
em que o terrorismo é uma ameaça a ser encarada com toda a seriedade. Impõe-se,
porém, discernimento, que ajude a separar o trigo do joio e não nos leve a ver
um terrorista em qualquer refugiado que procure a nossa solidariedade (muitas
vezes, até nos esquecemos que muitos desses refugiados são cristãos).
O medo procura soluções radicais,
como a instauração de uma autoridade suprema, que proteja a vida daquelas que
são consideradas “pessoas de bem”. Confesso ter dificuldades com a
expressão “pessoas de bem”, altamente subjetiva e que, afinal, nada diz. Muitos
de nós parecem dispostos a prescindir de liberdade, em nome de uma segurança,
que aliás é sempre ilusória, pois não existe a segurança absoluta. E, numa
ditadura, a segurança de alguns paga-se com a insegurança de outros, cujo único
“crime” é discordar do sistema vigente.
Assusta-me que o comodismo em que
vivemos vá ao ponto de desejar uma ditadura, desejar que haja uma autoridade
suprema que nos resolva os problemas, sem nos preocuparmos com que métodos. Considero
gravíssima essa ilusão de vivermos em segurança, sem querermos saber dos
métodos aplicados, a ilusão que possibilitou o regime nazi.
Nós portugueses também já tivemos
uma experiência ditatorial. Penso que é imprescindível manter viva essa memória
e ir à procura de testemunhos que não nos deixem esquecer as barbaridades que
se cometeram em nome de uma pretensa segurança, em nome da proteção das
famílias e das tais “pessoas de bem”.
Regimes nunca acrescentam nada !
ResponderEliminarNão há como ignorar , que nas criticas , tende-se a confundir a sociedade onde vivemos
Mas jamais será confundido aquele que caminha na sabedoria
Principalmente aquele que reconhece que sabedoria é ajudar o próximo