Não sou a melhor pessoa para falar de poesia. Por vezes, leio
um poema que me encanta e me põe a pensar. Mas é raro. Li esta obra por
curiosidade em relação ao autor, que só conhecia de nome, e também numa
tentativa de me forçar a ler poesia, de vez em quando. Não sabendo discutir o impacto que a obra
de António Nobre teve nos poetas que se lhe seguiram, limito-me a descrever as
minhas impressões deste livro.
Achei interessante que muitos poemas fossem narrativos, principalmente, com recordações da infância e da juventude, assim como hábitos, festejos e paisagens portugueses. Aliás, a
saudade da pátria é notória neste poeta, que viveu em Paris, embora, por
vezes, se torne sentimental e dramático em demasia, servindo o cliché de que não
há nada como o nosso Portugal, nomeadamente, no que diz respeito às mulheres,
tão lindas e modestas, a rezarem as suas novenas. Enfim, sentimentalismos à
parte, António Nobre dá-nos uma excelente imagem do nosso país, em fins do
século XIX.
Uma grande tristeza perpassa todo o livro, o próprio
autor o definiu como «o livro mais
triste que há em Portugal». Mas António Nobre também consegue ser irónico,
como no poema À Toa, um dos meus
preferidos, quando os mortos falam:
Séculos
tombam uns sobre os outros, como blocos,
E nós
dormindo sempre, eternos dorminhocos.
Ou no poema A
Vida:
Olha
o artista a ler, soluçando, uma crítica…
Olha
esse que não tem talento e o julga ter
E
aquele outro que o tem… mas não sabe escrever!
Nota-se também uma atração pela morte, por cemitérios,
pelo lúgubre, enfim, uma marca romântica, mas dir-se-ia que António Nobre sabia
que não viveria muito tempo.
Já que a secção de que mais gostei foi a dos Sonetos,
numerados de 1 a 18, passo a transcrever o número 2, em que o poeta, por uma vez, critica o país que normalmente
elogia:
Em
certo Reino, à esquina do Planeta,
Onde
nasceram meus Avós, meus Pais,
Há
quatro lustres, viu a luz um poeta
Que
melhor fora não a ver jamais.
Mal
despontava para a vida inquieta,
Logo
ao nascer, mataram-lhe os ideais,
À
falsa-fé, numa traição abjecta,
Como
os bandidos nas estradas reais!
E,
embora eu seja descendente, um ramo
Dessa
árvore de Heróis que, entre perigos
E
guerras, se esforçaram pelo Ideal:
Nada
me importas, País! seja meu Amo
O
Carlos ou o Zé da T’resa… Amigos,
Que
desgraça nascer em Portugal!
Nota: li a versão ebook,
gratuita, publicada pelo Projecto Adamastor.
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