Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

5 de dezembro de 2017




Não sou a melhor pessoa para falar de poesia. Por vezes, leio um poema que me encanta e me põe a pensar. Mas é raro. Li esta obra por curiosidade em relação ao autor, que só conhecia de nome, e também numa tentativa de me forçar a ler poesia, de vez em quando. Não sabendo discutir o impacto que a obra de António Nobre teve nos poetas que se lhe seguiram, limito-me a descrever as minhas impressões deste livro.

Achei interessante que muitos poemas fossem narrativos, principalmente, com recordações da infância e da juventude, assim como hábitos, festejos e paisagens portugueses. Aliás, a saudade da pátria é notória neste poeta, que viveu em Paris, embora, por vezes, se torne sentimental e dramático em demasia, servindo o cliché de que não há nada como o nosso Portugal, nomeadamente, no que diz respeito às mulheres, tão lindas e modestas, a rezarem as suas novenas. Enfim, sentimentalismos à parte, António Nobre dá-nos uma excelente imagem do nosso país, em fins do século XIX.

Uma grande tristeza perpassa todo o livro, o próprio autor o definiu como «o livro mais triste que há em Portugal». Mas António Nobre também consegue ser irónico, como no poema À Toa, um dos meus preferidos, quando os mortos falam:

Séculos tombam uns sobre os outros, como blocos,
E nós dormindo sempre, eternos dorminhocos.

Ou no poema A Vida:

Olha o artista a ler, soluçando, uma crítica…
Olha esse que não tem talento e o julga ter
E aquele outro que o tem… mas não sabe escrever!

Nota-se também uma atração pela morte, por cemitérios, pelo lúgubre, enfim, uma marca romântica, mas dir-se-ia que António Nobre sabia que não viveria muito tempo.

Já que a secção de que mais gostei foi a dos Sonetos, numerados de 1 a 18, passo a transcrever o número 2, em que o poeta, por uma vez, critica o país que normalmente elogia:

Em certo Reino, à esquina do Planeta,
Onde nasceram meus Avós, meus Pais,
Há quatro lustres, viu a luz um poeta
Que melhor fora não a ver jamais.

Mal despontava para a vida inquieta,
Logo ao nascer, mataram-lhe os ideais,
À falsa-fé, numa traição abjecta,
Como os bandidos nas estradas reais!

E, embora eu seja descendente, um ramo
Dessa árvore de Heróis que, entre perigos
E guerras, se esforçaram pelo Ideal:

Nada me importas, País! seja meu Amo
O Carlos ou o Zé da T’resa… Amigos,
Que desgraça nascer em Portugal!


Nota: li a versão ebook, gratuita, publicada pelo Projecto Adamastor.


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