Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
29 de dezembro de 2018
Gentes e Lugares
"Contos e Contas de Autores Transmontanos" - uma coletânea que reúne trinta seis escritores e na qual tive a honra de participar, com o conto "Identidade".
Os textos são tão variados como os seus autores e focam vários temas (incluindo a emigração), mas todos nos falam da terra transmontana, das suas gentes, costumes, vivências e pensamentos. Quem estiver interessado e/ou curioso sobre esta região, tão desconhecida do resto do país, pode adquirir o livro contactando a Academia de Letras de Trás-os-Montes: academiadeletrasosmontes@gmail.com.
A Academia de Letras de Trás-os-Montes tem um blogue oficial:
http://altm-academiadeletrasdetrasosmontes.blogspot.com/
17 de dezembro de 2018
Contos do Portugal Profundo - e uma história brasileira (5)
«Diário de bordo do ano da graça 1721... O navio Rainha dos Anjos de bandeira portuguesa, vindo de Macau para Lisboa, traz nos porões um tesouro na carga de artefactos, presentes da corte chinesa entre pedras preciosas e porcelana fabricada no palácio Imperial do período Kangxi para o Rei de Portugal D. João V. Era madrugada, no lusco-fusco se lhe mantendo vigilantes os grumetes e a tripulação do Rainha. O acompanhará uma pequena esquadra composta de três velozes fragatas. Agora estas, lentamente, manobram na chegada e estrategicamente baixam âncoras para descanso e mantimentos da frota. Porto dos Patos, desde sempre historicamente referência de Sebastião Caboto, escolhido o ser gente pacata e de fácil navegabilidade à larga baía, a lida de abastecimento na ilha do Desterro do Sul do Novo Mundo, Brasil».
In "O Barrete", Cláudia da Silva Tomazi - a história brasileira incluída na coletânea Portugal Profundo.
Os Contos do Portugal Profundo reúnem nove escritores que se conheceram no blogue Horas Extraordinárias, sendo um deles a anfitriã Maria do Rosário Pedreira.
À venda na Amazon:
https://www.amazon.es/Contos-Do-Portugal-Profundo-brasileira/dp/1727085205/ref=olp_product_details?_encoding=UTF8&me=
3 de dezembro de 2018
Contos do Portugal Profundo - e uma história brasileira (4)
«Mastigou e atropelou a missa matinal, o que de resto
não notaram a Pulquéria Beata e a Isaulinda da Meã, uma surda que nem molho de
carqueja e a outra decrépita, ambas empenhadas em ganharem a vida eterna pela
via da oração, assistiam à missa rezando o terço tão concentradas, que nem a
queda do altar-mor as desviaria da devoção. É latim! Diriam com ar sabedor, se
inquiridas a respeito.
A sua verdadeira testemunha, para além do Cristo no
altar, que de braços abertos parecia simultaneamente fazer um gesto de resignação
impotente a estes atropelos e admirar o panorama que dali abarcava, foi a serra
que se avistava pela porta escancarada da igreja. Assim, controlava o evoluir
do estado do tempo, enquanto se extasiava com o espectáculo sempre renovado
daquela beleza agreste».
In "O Padre Bento", António Luiz Pacheco, conto incluído na coletânea Portugal Profundo
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1 de dezembro de 2018
Calendário da UZ (13)
«O sorriso da Georgia é atento e confiante de que o Natal, a ideia de Natal, é para todos».
«Os cães são como riem. Há uma única forma de rir de que não são capazes. O sorriso deles nunca é amarelo. É sempre sincero».
https://www.facebook.com/uniaozoofila/
http://www.uniaozoofila.org/
«Os cães são como riem. Há uma única forma de rir de que não são capazes. O sorriso deles nunca é amarelo. É sempre sincero».
https://www.facebook.com/uniaozoofila/
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26 de novembro de 2018
Contos do Portugal Profundo - e uma história brasileira (3)
«Conheci a Amélia na igreja matriz, numa ocasião em que aguardava vez para me ajoelhar no confessionário, onde o padre, oculto por detrás do biombo, ouvia os desabafos e mandava varrer os pecados com rezas e penitências. Amélia, nessa altura uma serva do Senhor anónima, sentou-se a meu lado, recatadamente, aproveitando o lugar desocupado por uma velhinha que cheirava a alho, talvez para afugentar o Diabo. Cansado de olhar o crucifixo, desviei o olhar para a direita. Amélia dirigiu o seu olhar para a esquerda, trocou o Cristo por mim. Reparei que era uma jovem da minha idade, com rosto angélico quase escondido por um lenço azul-escuro. Parecia a Imaculada. Um espasmo repentino encostou a minha mão à dela, pousada no banco de madeira como uma pombinha branca. Um êxtase místico vibrou-me todo, como se estivesse de mão dada com o Espírito Santo. Uma descarga elétrica uniu ambas as mãos, os dedos entrelaçaram-se, falaram com eloquência muda, e então eu e Amélia compreendemos que o amor ao primeiro contacto de mãos era uma bênção de Deus, querendo unir dois santinhos que mereciam a felicidade eterna».
In "Este Caso Não o Contarei Ao Custódio", de António Breda Carvalho, conto incluído na coletânea Portugal Profundo.
Os Contos do Portugal Profundo reúnem nove escritores que se conheceram no blogue Horas Extraordinárias, sendo um deles a anfitriã Maria do Rosário Pedreira, e está à venda na Amazon:
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10 de novembro de 2018
Politicamentes
Detesto o politicamente correto. Assim como detesto o
politicamente incorreto.
Detesto que haja quem se julga lutador contra o
sistema apenas por dizer que é politicamente incorreto.
Desteto que já não se possa ter opinião, sem que nos
apelidem de politicamente corretos ou incorretos.
Detesto que muita gente, antes de dizer se concorda
ou discorda de uma opinião, pense primeiro se esta é politicamente correta ou
incorreta, para concordar ou discordar baseada nesse juízo - ou seja, não é a
opinião em si que está em causa, mas a sua etiqueta.
Detesto visões simplistas, principalmente, quando se
trata de problemas complexos: há insegurança, criminalidade? Vamos dar uma
arma a cada cidadão e resolve-se o problema!
Detesto que haja ídolos políticos apenas porque se
apelidam de politicamente incorretos.
Ser do contra condiciona tanto como o seu contrário,
ou seja, o politicamente incorreto condiciona tanto como o politicamente
correto.
É politicamente correto, ou incorreto, ser contra
alguém politicamente incorreto? E o seu contrário?
Sempre detestei divisões em grupos, baseado no
pressuposto: se não és por nós, és contra nós.
Detesto fake news. Mas não é por ser politicamente
correta. É simplesmente por não gostar de mentiras.
OK, vão-me dizer que toda a gente mente.
Eu também. Passo a vida a mentir.
8 de novembro de 2018
A Tempestade do IVA
A recusa da Ministra da Cultura em não baixar o IVA
das touradas gerou uma tempestade num copo de água. Já estamos habituados a que
os defensores deste tipo de espetáculo adotem comportamentos próprios dos
populistas, ou seja, em vez de argumentarem, fogem ao assunto, refugiando-se em
afirmações e comparações absurdas e/ou ridículas. O pior é quando pessoas que
nos habituámos a respeitar adotam também esse tipo de comportamentos. Muito me
surpreenderam as palavras de Miguel Sousa Tavares, na sua qualidade de comentador
da TVI, uma pessoa que, apesar de ter uma visão diferente da minha, sempre
considerei inteligente.
Disse ele que o «deputado do PAN aterroriza mais do que
um touro» e, pelos vistos, acha revoltante que um único deputado faça a
diferença no Parlamento. Sinceramente, não entendo onde está aqui o problema.
Houvesse mais deputados a fazerem a diferença! A maior parte está lá a fazer
sala, seria bom que houvesse muitos mais a lutar apaixonada e empenhadamente pelas suas
causas, sejam elas quais forem! E o homem afinal aterroriza quem? Criancinhas? Políticos? Comentadores televisivos? Se o
Miguel Sousa Tavares tem medo dele, talvez fosse bom questionar-se porquê.
Diz ainda o conhecido comentador que não compreende
que uma maioria imponha algo a uma minoria por uma questão de gosto. Em
primeiro lugar, fico satisfeita por ele reconhecer que a maioria é contra as
touradas. Não se trata, porém, de uma questão de gosto, uma redução que os aficionados
gostam de praticar, a fim de menorizar o problema. Os opositores às touradas
lutam contra um espetáculo de tortura de animais. Não é uma questão de gosto, é
uma questão de ética. Eu até posso aceitar que se matem animais para a nossa
alimentação, mas não aceito que sejam mal tratados, muito menos, que sejam
torturados para gáudio de uma multidão ávida de ver correr o sangue. É a ética
que está em causa, não um gosto pessoal.
Miguel Sousa Tavares ironizou com o facto de as
touradas serem transmitidas a horas tardias. Não é por impressionar as
crianças, diz ele, é com medo de que as crianças se encantem com tão lindo espetáculo
equestre! E então não é possível assistir a uma exibição desse tipo, sem aturar
sadismo? Na Alemanha, as crianças e os jovens adoram espetáculos equestres, principalmente,
as meninas. Na província alemã, há inúmeras quintas onde se pode aprender a
montar e que são frequentadas por uma multidão de raparigas, desde os cinco ou seis
anos, miúdas que adoram cavalos e póneis. O CHIO
em Aachen (Aix-la-Chapelle, em francês) é um show equestre anual
esperado com muita ansiedade, um acontecimento que atrai não apenas famílias alemãs,
também muitas estrangeiras, e onde se pode assistir a magníficas exibições, sem o espetáculo degradante da tortura.
Termino com a afirmação mais absurda que ouvi nos
últimos tempos: é assim (proibindo as touradas) que nascem os Bolsonaros! Isto
é típico de populistas, é uma afirmação bombástica, bem característica de quem não
tem argumentos. Trump e o próprio Bolsonaro ficariam orgulhosos de Miguel Sousa
Tavares. O que mais me entristece é que esta afirmação nem é dele, mas de uma
outra pessoa, que muito admiro: Manuel Alegre! E o mais irónico, no meio disto
tudo, é que a maior parte dos aficionados e toureiros portugueses são realmente
grandes admiradores de Trump e Bolsonaro!
Pois é, os Bolsonaros estão do outro lado, meus senhores, do vosso! É no que dá adotarem discursos indignos de vós! Defendam as vossas causas, mas defendam-nas com decência, com
inteligência, com argumentos, com pés e cabeça!
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