«Uma mulher que educa os seus filhos seguindo os
ensinamentos e os valores cristãos faz mais pelo progresso da política e pela
verdadeira emancipação feminina do que todas as feministas do mundo, com os
seus costumes duvidosos».
Gosta desta frase? No fim deste post, direi
quem e quando a proferiu.
O feminismo é ainda muito mal visto. No caso dos
homens, não me admira. Afinal, a ambição, por parte das mulheres, de atingirem
igualdade de direitos e oportunidades significa que eles têm de fazer concessões,
aprender a dividir o poder. E quem gosta de perder privilégios?
No caso das mulheres, já me preocupa mais, pois mostra
que estão imbuídas de mentalidade machista, mesmo sem o saberem. Não querem ser
confundidas com ativistas, não vão os homens pensar que também são “dessas”. Ou
seja, submetem-se à imagem que os homens criaram para elas.
Muitos homens parecem ficar ciumentos, perguntam porque
não podem eles ser machistas, ou seja, consideram o feminismo um pendant do machismo. Esta interpretação
está errada. A História da nossa sociedade patriarcal prova que o machismo se
baseia na subjugação da mulher, considerando o sexo masculino superior. O
feminismo, por seu lado, “apenas” almeja igualdade de direitos e
oportunidades. Não se trata de supremacia, mas de igualdade. As pioneiras do movimento
necessitaram de um termo que caracterizasse a sua causa e a sua luta. Os homens
não precisam, nem nunca precisaram, de lutar contra a subjugação por parte das
mulheres. E, no entanto, parecem sentir-se ameaçados por elas! Sentem
necessidade de se agarrarem a um termo com o pretexto de lhes fazerem frente. Pois
eu acharia ótimo que o feminismo não fosse necessário. Mas vivemos ainda numa
sociedade marcadamente patriarcal, foram muitos séculos de supremacia masculina
e, se o feminismo não o lembrasse constantemente, depressa se voltaria ao
passado.
Não resisto a fazer um paralelo com o racismo (que não
é a mesma coisa, mas tem pontos de contacto). Muitos brancos se sentem
afrontados com a expressão black pride
e acham que também têm o direito de apregoar o white pride. Eu não concordo. A História conta-nos séculos de
subjugação indigna dos negros. Apesar de a escravatura ter sido abolida há
muito tempo, nós, brancos, carregamos essa herança, quer queiramos, quer não.
Até porque a verdadeira igualdade ainda não foi atingida, há muitos negros
vítimas de discriminação.
Acham que os brancos não têm de carregar herança
nenhuma? E se eu falar de alemães, por exemplo? Acham que os alemães de hoje
não têm de carregar com o estigma nazi? Como reagiriam os portugueses, se
vissem um alemão alto, forte e loiro a passear em Portugal com uma t-shirt ostentado
o dístico german pride? Decerto não
lhes agradaria. E com razão. Porque, também neste caso, há uma História de desrespeito
pelos direitos e pela dignidade de outros povos (e inclusive de genocídio) por
parte dos alemães.
Voltando ao ponto de partida: muitas mulheres alegam
que não precisam do feminismo para se sentirem ao mesmo nível dos homens. E apontam
comportamentos impróprios de ativistas mais radicais para justificarem a sua
aversão. É verdade que o movimento feminista já conheceu radicalismos. Por
outro lado, é preciso reconhecer o grande valor das pioneiras do movimento,
que, muitas vezes, precisaram de atitudes radicais para serem ouvidas. Mulheres
atuais com aversão ao feminismo esquecem-se de que, se não fossem essas ativistas,
talvez ainda não pudessem votar, nem viajar sozinhas sem a autorização de um
homem, nem sequer orgulhar-se de não se sentirem inferiores a nenhum homem e de
não terem medo deles. Atitudes destas, no dia-a-dia, são muito de louvar, mas
não modificam leis. E são as leis que garantem a igualdade de direitos. As
modificações de que beneficiamos, hoje, foram conseguidas pelas feministas que certas
mulheres tanto desprezam.
Mulheres com aversão ao feminismo e homens machistas
são, em regra, lestos a criticar a situação da mulher na sociedade islâmica.
Eles e elas esquecem-se de que o podem fazer graças às feministas.
Infelizmente, a verdadeira igualdade não foi ainda atingida,
mesmo na nossa democracia ocidental. Ainda há muita mulher a ser agredida pelo
marido e/ou companheiro; ainda há muita mulher a ganhar menos do que os homens
pelo mesmo trabalho; ainda há muita mulher a ser culpada por ter sido violada e
a sofrer vexames incomportáveis perante sentenças de juízes e juízas!
Volto agora à frase que serviu de mote a este post, confessando que a modifiquei um
pouco. A versão original é a seguinte:
«Uma mulher que educa os seus filhos seguindo os
ensinamentos da religião católica faz mais pelo progresso da política e pela
verdadeira emancipação feminina do que todas as lutadoras pelo direito de voto,
em todo o mundo, com os seus costumes duvidosos».*
Sim, a frase foi escrita para agredir as feministas que
lutavam pelo direito do voto das mulheres, em 1912! Foi escrita por mulheres! Fez
parte de um comunicado da União das Mulheres Cristãs (Christliche Frauenbund), na Alemanha.
Pelos vistos, há mulheres que continuam a pensar segundo
os mesmos esquemas. Foi só preciso fazer umas pequenas modificações para o
provar.
Acrescento ainda que a expressão «costumes duvidosos»
se refere às fundadoras da Associação Alemã para o Direito de Voto Feminino (Deutscher Verein für Frauenstimmrecht), criada
em 1902. Chamavam-se Anita Augspurg e Lida Gustava Heymann e eram um par
lésbico. É interessante verificar que este facto se tornava mais importante do
que a causa em si. Hoje, continua a acontecer. Muitas vezes se atacam pessoas pelas
suas opções sexuais, ofuscando a sua luta por causas justas.
* Traduzido, por mim, do alemão. O original foi lido
na KirchenZeitung, um jornal
católico alemão, edição de 13 de janeiro de 2019, e aqui o transcrevo:
«Eine Frau, die in echt katholischer Gesinnung Söhne erzieht, hat mehr
für den politische Fortschritt und die wahre Emanzipation des weiblichen
Geschlechtes getan als alle Wahlrechtdamen der Welt mit ihren höchst
zweifelhaften Sitten insgesamt».
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