Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

6 de dezembro de 2019

A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty




Peter Handke é o vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2019. Constatei que tinha este seu livro em casa (na versão original, em alemão), um dos seus contos mais conhecidos, talvez pelo título apelativo. Escusado será dizer que pouco tem a ver com futebol. A personagem principal, Josef Bloch, é um eletricista que foi, em tempos, um guarda-redes mais ou menos conhecido. O título do livro é usado como metáfora para alguém que se vê numa situação em que não se pode permitir erros.

Numa manhã, Josef Bloch chega ao trabalho apenas para ficar a saber que foi despedido. Desnorteado, passa a errar pelas ruas da cidade, agindo por instinto. O leitor é confrontado com situações banais, mas sem nexo, Josef Bloch limita-se a deixar que os acontecimentos passem por ele. Há, no entanto, uma situação em que ele reage… da pior maneira: perdendo o controlo sobre si mesmo e cometendo um crime. Vê-se obrigado a fugir, deixa a cidade para se refugiar numa pequena estância de férias, na fronteira entre a Áustria e a Suíça. A partir daqui, Josef Bloch não se pode permitir erros. Continua, porém, a vaguear, sem um plano, ou uma direção.

A escrita de Peter Handke é fria, limita-se a constatar factos. Os sentimentos e as emoções das suas personagens ficam por conta do leitor, mas o estilo é tão poupado (por vezes, mesmo enigmático), que se torna difícil adivinhar o que vai na cabeça de Josef Bloch. Este tipo de escrita fez-me lembrar a de Gonçalo M. Tavares, porquanto o escritor português consegue ser mais emotivo. Peter Handke deixa tudo bem lá no fundo. O que vem à superfície é apenas o que todos conseguem ver, o resto tem de ser imaginado (ou seria melhor dizer adivinhado?) pelo leitor.

Confesso que foi uma escrita que não me empolgou. Realço, no entanto, que Handke tem tantas obras publicadas, que seria desonesto ajuizar sobre o escritor baseada apenas neste livro.


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