Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

25 de abril de 2021

Uma bomba a iluminar a noite do Marão


 

A 2 de abril de 1976, o padre Maximino Barbosa de Sousa (conhecido por padre Max), de trinta e três anos, e a estudante Maria de Lurdes Correia, de dezanove, foram assassinados com uma bomba colocada no carro do sacerdote. Os dois regressavam a casa, depois de terem dado aulas noturnas, na Cumieira (Santa Marta de Penaguião).

Os principais suspeitos deste crime foram agentes do Movimento Democrático de Libertação de Portugal, um grupo terrorista de direita do tempo do PREC, mas, num julgamento de 1999 (!), não foram feitas condenações por falta de provas concretas.

O padre Max era candidato pela UDP às eleições de 25 de abril de 1976, o que incomodava muita gente em Vila Real e região adjacente, predominantemente de direita. Além de professor no liceu da capital de distrito, o padre Max dava aulas noturnas, gratuitas, em várias aldeias, ajudando muitos jovens sem posses a alargar as suas habilitações para lá do ensino primário. Também a estudante Maria de Lurdes Correia dava aulas e explicações, em regime de voluntariado.

O padre Max era popular entre a juventude da zona, entusiasmando muitos com as suas ideias políticas, o que não agradava aos poderosos, nem à maior parte dos habitantes de índole muito conservadora. O facto de ele se fazer acompanhar frequentemente por raparigas estudantes, que o ajudavam nos seus projetos de alfabetização, também era motivo de crítica e de suspeita. Logo a seguir ao atentado, se ouviram rumores de que ele teria uma relação com Maria de Lurdes Correia, estando ela inclusive grávida, e o assassino seria um namorado, ou ex, da jovem. Tentava-se assim empurrar o assassinato para o lote dos crimes passionais. Estes rumores levaram à exumação do corpo de Maria de Lurdes, provando-se que não só a gravidez era infundada, como a jovem era virgem!

Depois do julgamento de 1999, e (supostamente) não havendo provas, o processo foi arquivado. Daniela Costa pega nos factos para criar um enredo que tente explicar o que realmente se passou. Como diz o texto da contracapa: «a chuva, a bomba, a morte e a noite no Marão são factos. A narrativa é uma hipótese».

Este livro é um marco importante contra o esquecimento.


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