Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
26 de janeiro de 2011
Relativizar
Devíamos estudar todos os dias astrofísica, para nunca nos esquecermos da insignificância dos nossos problemas.
A propósito deste post publicado pela Namorada de Wittgenstein, lembrei-me de uma entrevista a um astronauta alemão, que vi na TV.
Já foi há algum tempo, não me lembro das palavras exactas dele, mas, perguntado sobre a sensação que era ver a Terra ao longe, ele contou algo do género: "ao ver o nosso planeta do Espaço, claro que nos damos conta de como somos pequeninos, irrisórios e, acima de tudo, de como os nossos problemas são mesquinhos. Porquê irritar-se com o vizinho? Com a política? Se o dinheiro chega, ou não, para comprar o carro que desejamos? Alguns dias depois de regressar à Terra, a minha filha de quatro anos veio ter comigo a chorar, porque não sabia onde estava o seu ursinho de peluche favorito. Deveria dizer-lhe que essa sua preocupação era ridícula, quando comparada com o Cosmos? Claro que não. Dei comigo a perder o meu precioso tempo à procura do ursinho de peluche".
Tudo isto me levou a escrever sobre o tão apregoado "relativizar". Acontece que não sou grande apologista desta prática. Quer isso dizer que acho que nos devemos irritar por "dá cá aquela palha"? Também não. A verdade é que só se irrita com "bagatelas" quem se sente infeliz, para quem a vida nada mais é do que um grande vazio. E não é ridicularizando essas pessoas que as ajudamos, porque isso só contribui para diminuir a sua auto-estima.
O relativizar pressupõe o desvalorizar e/ou o ignorar de algo que nos preocupa ou atormenta. O que leva ao seu recalcamento. Por mais trivial que seja a razão, é importante criar empatia e compreensão pelos problemas (dos outros e dos próprios). Mesmo que nos pareçam irrisórios. Ao relativizar algo, temos a sensação que estamos a aliviar uma pessoa (ou nós próprios) do problema, mas fazemos o contrário: mostramos incompreensão, transmitimos a mensagem: tu és ridículo/a, só te preocupas com bagatelas. Isto envergonha-nos, o que diminui a auto-estima. E a auto-estima é a base onde assenta a nossa felicidade.
O relativizar pode mesmo tornar-se numa prática perigosa, ao contribuir para o ignorar de problemas sérios, como expressou Fernanda Matias, num comentário a um post sobre essa grande e grave doença que é a depressão, publicado por Laurinda Alves no seu blogue: Quem está à volta tantas vezes relativiza : é do inverno, é do trabalho... Importante mesmo é estar atento e não subvalorizar os sinais ou consequências.
Por isso, pense duas vezes, antes de começar a relativizar. Seja consigo mesmo, ou com os outros, principalmente, com crianças.
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Olha, o meu ordenado acabou de ser relativizado...
ResponderEliminarLol :D
ResponderEliminarEstás a ver, como isso te põe infeliz? ;)
Eu relativizo pouco, porque ando muito preocupado com o que se paga à minha volta e comigo, e olhe que também é stressante Q.B.
ResponderEliminarCumps
Não se trata de saber quais as questões que devem ser relativizadas, mas aquilo que significam para nós. O ursinho de peluche da filha do astronauta significava muito para ela, já se fosse a gravata do pai, na volta ela relativizava...
ResponderEliminarAdorei o texto e já o roubei para o meu blogue ;-)
ResponderEliminarBoa ideia, António :-)
ResponderEliminarEsqueci-me de dizer que na manhã de ontem depois de lêr um pouco da sua biografia, copiei este texto para o lêr no IPO.
ResponderEliminarLi-o a correr e agora depois de ler os comentários que não tinha lido apenas sei dizer que adorei o texto e tal como um senhor disse atrás eu ontem disse interiormente:
Até vou mais bem disposta...
Depois, com tanta coisa que aconteceu, hoje e agora penso:
Na verdade guardei o texto mesmo para dentro de mim, porque é algo que me faz interrogar muitas vezes, e diante das coisas pequenas e grandes, nem sempre sei como Relativizar...
Por vezes é mais difícil, e olhando os outros adultos, tento entender mais o siggnificado das atitudes e coisas pequeninas ou grandes.
Com as crianças é bem mais fácil e sem dar por isso vou com elas, sem me custar nada. Porque será?
Prometo que não me fico por aqui e vou refletir e interiorizar situando-me no real. Certo?
Boa noite ou bom dia, mais uma vez
ML
Cara M. de Lourdes,
ResponderEliminardeixo-lhe aqui também o meu email:
kassiak@t-online.de
Que bom que o meu texto conseguiu pô-la mais bem disposta!