É curioso constatar que os dois reis mais significativos da nossa Idade Média estão, pela tradição, ligados às cidades "erradas". D. Afonso Henriques é identificado com Guimarães. Foi lá que ele assentou arraiais na sua juventude, talvez até lá tenha nascido (também aqui hei-de abordar a polémica do seu nascimento). A verdade, porém, é que foi em Coimbra que o primeiro rei estabeleceu a sua corte, fundando o mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz, no início dos anos 1130, data a partir da qual poucas vezes esteve em Guimarães, até à sua morte, em 1185 (são mais de cinquenta anos).
Claustro da Igreja de Santa Cruz de Coimbra |
Por sua vez, a "cidade querida" de D. Dinis era Lisboa. Seu pai, D. Afonso III, foi o primeiro monarca a estabelecer a corte definitivamente na cidade junto à foz do Tejo.
Vista sobre o Tejo a partir do Castelo de S. Jorge |
A segunda cidade preferida de D. Dinis parece ter sido Santarém (que, à altura, era vila, por não ser assento episcopal) e só em terceiro lugar viria Coimbra (não esquecendo que Leiria contava igualmente entre as preferências do par real). Para a identificação da cidade junto ao Mondego com o Rei Lavrador contribuiu, acima de tudo, a sua esposa D. Isabel, que lá viveu recolhida, depois de enviuvar, no mosteiro de Santa Clara. E foi lá, nos Paços que a Rainha Santa habitou, que se deu a tragédia de Inês de Castro.
D. Dinis ficou conhecido, acima de tudo, por ter fundado a primeira Universidade Portuguesa, primeiramente apelidada de Estudo Geral e cujo verdadeiro berço foi a cidade de Lisboa. A esse propósito, cito, mais uma vez, o meu romance:
De facto, eram várias as matérias a considerar, por exemplo, a escolha de um local para o Estudo Geral. Dinis resolveu construir um edifício de raiz, onde funcionassem as aulas e onde se acomodassem os estudantes de poucas posses. O rei acabou por decidir instalar a instituição no Campo da Pedreira, abaixo do Mosteiro de São Vicente, junto à Lapa. O terreno pertencia ao capítulo da Sé de Lisboa, pelo que o monarca tencionava permutá-lo com as rendas de casas ou tendas que valessem por ano trinta e cinco libras. O Estudo Geral ficaria assim situado no extremo sudeste de Lisboa, nos limites das freguesias de Santo Estêvão de Alfama e de São Vicente de Fora.
S. Vicente de Fora visto do Castelo de S. Jorge |
Decorria o ano de 1289. E só dezoito anos mais tarde o Estudo Geral seria transferido para Coimbra. Sobre as razões, pouco se sabe, fala-se em desentendimentos entre os estudantes e a população lisboeta, havendo, pelo meio, uma confusão com a Casa da Moeda, que D. Dinis instalou no edifício, em princípio, destinado ao Estudo Geral.
A polémica não ficou por aqui. No reinado do filho, D. Afonso IV, a Universidade tornou a ser transferida para Lisboa, regressando a Coimbra apenas em 1354, já reinava o neto D. Pedro I, quase trinta anos depois da morte de D. Dinis.
(Para ler mais excertos do romance clicar na etiqueta Citando o Lavrador).
A capital portuguesa deveria ter sido Guimarães.
ResponderEliminarDaniel, pode-se realmente dizer que foi em Guimarães que tudo começou. Mas, assim que venceu a mãe e as tropas do conde de Trava na batalha de S. Mamede, D. Afonso Henriques estabeleceu-se em Coimbra, que era a maior cidade do Condado Portucalense, a fim de ficar mais próximo da fronteira sul, já que o seu intuito era a conquista de território.
ResponderEliminarMas Guimarães é uma cidade cheia de charme e de História, pode-se mesmo dizer que lá se "respira Afonso Henriques por todo o lado". Dizer que ela foi a primeira capital é manter uma tradição muito portuguesa. Faz parte da nossa identidade, é bonito. Assim como manter Guimarães o local de nascimento do nosso primeiro rei.
Tenho muito para dizer sobre tudo isto e, como digo no post, hei-de abordar estes assuntos :)
Lisboa sempre foi generosa com as províncias...
ResponderEliminarCom a "paisagem", queres tu dizer...
ResponderEliminarOs 750 anos do Rei D.Dinis vão ser comemorados na Escola Secundária D.Dinis no mês do Outubro de 2011 com exposições, espectáculos entre outros eventos
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