Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

14 de janeiro de 2011

D. Dinis e o seu Sucessor (III)

A guerra civil entre D. Dinis e o seu herdeiro teve um dos seus pontos altos na batalha que esteve prestes a dar-se no campo de Alvalade, às portas de Lisboa. O Rei Lavrador dirigiu-se para lá com as suas tropas, ao tomar conhecimento de que o filho se preparava para se apoderar do trono à força. A lenda diz-nos que a batalha não se chegou a dar, graças à intervenção de D. Isabel, que se interpôs entre os dois exércitos. E eu aproveitei a lenda:


Começaram a soar as trombetas e os anafis de ambos os lados. Deu-se ordem de disparo, abrindo as hostilidades. Os archeiros de Dinis dispararam as primeiras setas, que voaram em arco por cima do campo e não tardou que uma chuva delas, vindas do adversário, caísse em cima dos seus homens, que se protegiam com os seus escudos. O que não evitava que alguns caíssem feridos ou mortos.
O monarca deu mais algumas vezes ordem de disparo, a fim de matar o maior número possível de adversários, antes de investir contra eles.
Nisto, o alcaide Fernão Rodrigues Bugalho agitou-se a seu lado:
- Pelas cinco chagas… Mas que vem a ser aquilo?
A planície não se encontrava deserta, como pensado! Dinis esforçou os olhos no ar límpido da manhã. A primeira coisa que viu foi a cruz, segurada por um cavaleiro. Que não vinha sozinho. Duas figuras a cavalo deslocavam-se pelo campo, debaixo do fogo das setas!
- Com mil diabos! - exclamou o alferes-mor João Afonso. - Estarão as criaturas cansadas de viver?
O rei esforçou mais os olhos. A figura da frente vinha toda vestida de branco, uma capa esvoaçava na brisa da manhã, iluminada pelo sol de Dezembro. Parecia um anjo…
Isabel!
- Cessai os disparos! - berrou Dinis com quanta força tinha. - É a rainha! Cessai os disparos!
Os comandantes repetiram a ordem:
- Cessai os disparos! É a rainha D. Isabel!

A companhia de D. Isabel era D. Gonçalo Pereira, bispo de Lisboa. Estava-se em Dezembro de 1323. Pouco mais de um ano depois, em Janeiro de 1325, falecia el-rei D. Dinis, com 63 anos, possivelmente, na sequência do desgaste provocado por cinco anos de guerra contra o próprio herdeiro.

Para ler mais excertos do romance, clicar na etiqueta Citando o Lavrador.

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