Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

10 de janeiro de 2011

D. Dinis e o seu Sucessor

D. Dinis viu-se envolvido numa guerra civil contra o infante D. Afonso, o seu próprio sucessor, o que lhe amargou os últimos anos de vida. O desgaste provocado pela situação bem pode ter contribuído para a  morte do monarca, aos 63 anos. Aqui, uma passagem do romance, à altura do cerco a Coimbra:


Dinis andava estafado. As dores de cabeça e as tonturas aumentavam e ele emagrecia, pois muitas vezes se sentia enjoado ou, simplesmente, sem apetite. Mais do que os combates ferozes, era a guerra de nervos que o esgotava. Dinis tinha consciência de que a ansiedade permanente, aquele receio constante de ser derrotado pelo príncipe, estava a matá-lo. Quando lhe vinham dizer que os soldados de Afonso haviam ganho mais uma escaramuça e que seria cada vez mais difícil impedi-lo de entrar na cidade, o monarca só pedia a Deus que não o deixasse morrer derrotado e deposto, como o avô. Tornara-se rei com dezassete anos de idade, quase não se lembrava de não o ter sido. E queria sê-lo até ao fim.

Estava-se na Primavera de 1322. Através da intervenção de D. Isabel e do conde D. Pedro de Barcelos, foram assinadas pazes em Pombal, que, à semelhança de outras, não duraram muito tempo. Neste ano, D. Dinis terá adoecido gravemente pela primeira vez na sua vida, como nos dá conta o Professor José Augusto de Sotto Mayor Pizarro, na sua biografia de D. Dinis (Temas e Debates 2008):



Ao que parece, depois de ter firmado as pazes com D. Afonso, após o cerco e combates junto a Coimbra, em 1322, D. Dinis regressou a Lisboa e, ao chegar ao paço, sentiu-se mal, redigindo então o referido testamento. Um ligeiro ataque vascular-cerebral ou um pequeno ataque cardíaco?

Os desentendimentos entre D. Dinis e o seu sucessor acabaram por se reflectir na relação entre o par real, com o rei a acusar D. Isabel de ficar ao lado do filho. As quezílias foram tão graves, que o soberano acabou por ordenar o desterro da consorte em Abrantes, privada de todas as suas rendas:


- Solução pacífica? Já não vos chega os desacatos que o bando dele tem vindo a causar? Vinganças privadas, assaltos a mosteiros, violações de donas, assassínio de um bispo! Abominais violência e tolerais crimes desses?
Isabel fraquejou um pouco, mas retorquiu:
- Tenho a certeza que não é Afonso que os ordena.
- Protege os seus autores, o que, em si, já é crime.
- Porque não vos prontificais a ouvir…
- Chega! - bradou Dinis com quanta força tinha. E, depois de recuperar o ar, acrescentou: - Não tornarei a consentir na vossa intromissão. Ordeno a vossa prisão numa das vossas vilas, privada de todas as vossas rendas!
Isabel olhava-o indignada, mas composta:
- Prescindis então da minha ajuda?
- Ajuda?! Até agora, apenas contribuístes para o agravar da situação, dando cobro a vosso filho, que comete traição ao virar-se contra o seu senhor e pai. Mas não vos aflijais, não mandarei atirar-vos para um calabouço. Escolhei uma das vossas vilas e vivereis na vossa residência habitual, na companhia das vossas damas, e podereis deslocar-vos dentro do concelho. Mas não mais que isso. Encarregarei guardas de vos vigiar. - Fechou o punho: - Ai de vós se vos atreverdes a sair de lá!

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