D. Dinis e D. Isabel, o par real mais venerado da nossa História, só tiveram dois filhos, em mais de 40 anos de casamento. Claro que se pode sempre dizer que D. Dinis, ocupado com as suas barregãs, pouca atenção dava à sua rainha. Mas será essa explicação suficiente, para um tempo em que não havia contracetivos eficazes? Outra hipótese, avançada no romance "Onde vais, Isabel", de Maria Helena Ventura, seria D. Isabel ter ficado estéril, na sequência do parto difícil do infante D. Afonso.
Eu dei a minha própria versão. Que começou com os sentimentos contraditórios que D. Isabel, chegada de Aragão com apenas doze anos, provocou no seu noivo, de vinte e um:
Dinis não sabia descrever a impressão que ela provocava nele. Normalmente, ao pousar os olhos numa jovem senhora, logo decidia se ela lhe agradava ou não. Mas com Isabel era diferente. Não que não a achasse bonita, pelo contrário. Quem não ficaria encantado com os cabelos sedosos, os olhos brilhantes e as faces delicadas? Aquele ar sábio dela, porém, incomodava-o. Preferia ter uma jovem à sua frente que corasse de cada vez que ele pousasse os olhos nela. Como poderia ele surpreender Isabel? Manteria ela aquele seu ar superior e intocável perante tudo? Mesmo perante uma intimidade que ela ainda não conhecia?
(...)
Isabel conversava agora com Nuno Martins de Chacim, completamente rendido aos encantos da jovem rainha. Todos aqueles em quem ela pousava os seus olhos negros e brilhantes pareciam encarar uma luz divina e Dinis perguntava-se se tal rainha representava uma bênção… ou uma maldição!
A quem dedicou D. Dinis poemas de conteúdo tão sofrido, como os que se seguem? E, se foi à rainha, qual seria o verdadeiro motivo?
O meu grande mal foi pousar os olhos na “mia senhor”, pelo que muitas vezes me amaldiçoei, e ao mundo e a Deus. Desde que a vi, nunca mais recordei outra coisa, se não ela; nunca mais sofri por outra coisa, senão por ela. Faz-me querer mal a mim mesmo e desesperar de Deus. Por ela, quer este meu coração sair do seu lugar e eu morro, já depois de ter perdido o juízo e a razão. Todo este mal ela me fez e mais fará.
Como justificareis a minha morte perante Deus? Pois que me matastes a mim, cujo único mal é o grande amor que vos tenho, que não há amor maior, e por vós morrerei. Será essa a única razão que Lhe podeis dar da minha morte, não O podereis enganar, que Ele bem sabe quanto vos amo e que nunca mereci que de vós me adviesse a morte. Por tal injustiça, nunca d’ Ele obtereis perdão, pelo que sereis condenada, quando todos formos diante d’ Ele.
(Ler mais extractos do romance na etiqueta Citando o Lavrador)
Comecei a ler o romance, mas estas informações complementares que aqui colocas são muito interessantes. Estranho este poema de D. Dinis.
ResponderEliminarAs cantigas de amor eram sempre arrebatadas, mas estas (são duas, implume, cujo conteúdo eu resumi) parecem-me transmitir uma angústia incomum.
ResponderEliminar"comecei a ler o romance" :)
São belíssimas, estas que aqui transcreves. Belíssimas...
ResponderEliminarO que prova o grande talento de D. Dinis :)
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