É curioso verificar que D. Dinis e D. Isabel apenas tiveram dois filhos, em mais de quarenta anos de casamento. Sobre as razões apenas se pode especular e eu dou naturalmente a minha versão. Mas deixemos isso para uma próxima oportunidade.
Hoje, falo de barregãs e da maneira como os monarcas as "despachavam": dando-as em casamento a algum nobredas suas relações! Na verdade, era até uma honra casar com uma barregã real. E, tentando aproximar-me da mentalidade da época, transcrevo uma passagem em que D. Dinis, ainda solteiro, conjectura sobre duas barregãs: uma da qual já se encheu e outra que virá a ser:
- Até parece que já vos enchestes de mim! Dizei? É verdade?
- Não.
Dinis mentia. O temperamento incendiado de Maria Rodrigues de Chacim e as bisbilhotices provincianas enfastiavam-no. E dava-se conta do abismo existente entre ela e as finas maneiras de Grácia Anes Froilaz, filha de João Froilaz, um fidalgo de Torres Vedras, com quem travara conhecimento naquele Natal. Não que Grácia fosse especialmente bonita, mas era dona de grandes e expressivos olhos castanhos, possuía voz meiga e gestos dóceis. Sabia prosear e jogar xadrez. Dinis passara serões a jogar com ela, sob o olhar babado do pai da donzela… E o bufar ciumento de Maria Rodrigues. Mas que queria ela? Ele bem se esforçara por a ensinar, mas Maria era incapaz de fixar os movimentos das peças. Não parava de tagarelar e quando Dinis lhe exigia que se concentrasse no jogo, ela protestava:
- Isto é mas é uma arte do diabo! Uns só podem andar para os lados, outros só o podem em viés, outros só uma casa de cada vez, o cavalo faz uns saltos que ninguém entende… Que confusão, credo!
Dinis suspirava por Grácia Anes e não duvidava que João Froilaz de Torres Vedras nada teria a opor a um relacionamento mais profundo entre ele e a sua prendada filha.
Por isso, o jovem soberano já referira ao seu mordomo-mor a necessidade de casar a neta Maria. A rapariga ia quase nos vinte e cinco, qualquer dia ninguém lhe pegava! Nuno Martins de Chacim expressou o seu acordo. E provou já haver pensado no assunto, ao mencionar um herdeiro dos Barretos como noivo. Os Barretos descendiam de um ramo dos Velhos, uma família que acompanhava a corte desde o tempo de D. Afonso Henriques. E, se Sua Alteza fizesse o favor de engrossar o dote à neta, o rapaz seria mais fácil de convencer…
Dinis logo prometeu coutar-lhe uma boa propriedade.
Os dias de hoje, nesta corte republicana, as coisas não são muito diferentes. O nobres também se casam entre si e casam os seus filhos entre si, o dote, esse, vem sempre sobre a forma de um apetecido lugar de topo na administração de uma qualquer empresa ou de assessor do estado.
ResponderEliminarGostei da escrita, suave, precisa e com um ligeiro toque de humor.
Boa caracterização da minha escrita :)
ResponderEliminarFaço análise literária por encomenda a preços comedidos... ;)
ResponderEliminarpela primeira vez aqui declaro-me rendido à escrita...
ResponderEliminarsinceros parabéns. ganhaste mais um leitor...
Ó-di-velas...
ResponderEliminarTambém há-de aqui aparecer ;)
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