Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

20 de dezembro de 2010

D. Dinis e sua mãe

Os historiadores são peremptórios em afirmar que o relacionamento entre D. Dinis e sua mãe D. Beatriz não terá sido fácil nos primeiros meses de reinado do monarca, que tinha apenas dezassete anos. D. Beatriz estava habituada a participar na regência do reino, desde que o marido, D. Afonso III, adoecera. O velho rei teria mesmo aconselhado o seu herdeiro a continuar a apoiar-se na mãe.

Parece certo que se formou um conselho de regência, depois da morte de D. Afonso III. Escassos dois meses mais tarde, porém, esse conselho já não existia e nota-se o afastamento de D. Beatriz.

O jovem rei terá pretendido, desde o início, mostrar quem realmente mandava no reino, o que denota uma grande auto-estima, coragem e segurança por parte dele. Mas não terá sido fácil revelar as suas intenções à mãe. Aqui, uma passagem da discussão entre os dois:


- Neste reino existe um soberano maior de idade, não há espaço para conselhos de regência.
A mãe olhou-o irritada, mas não respondeu logo, evitando precipitar-se, dizendo algo inconveniente. Ela bem sabia que já não tinha um infante à sua frente, mas um soberano. Finalmente, retorquiu:
- Sois rei, mas sois muito jovem. Além disso, sois meu filho, conheço-vos bem. Não duvido das vossas capacidades, sempre fostes inteligente e perspicaz. Tereis, porém, que aprender a controlar uma certa impulsividade, que pode ser interpretada como insegurança, ou até fraqueza.
- Não vos preocupeis. Sei perfeitamente o que de mim é esperado.
- Apenas vos quero ajudar…
- Eu não preciso de ajuda.
Dinis não falava de ânimo leve, pois não duvidava das capacidades de sua mãe. Mas imperava mostrar, desde o início, quem era o soberano.
Beatriz olhava-o estupefacta e insistiu:
- Mas o conselho de regência deveria…
- Não existe nenhum conselho de regência!
- Ignorais o desejo de vosso falecido pai? Que tanto vos amava e tantas esperanças em vós depositou?
- Não acho que meu pai tenha desejado que o seu sucessor fosse comandado. Fosse por quem fosse.
- Negais que ele vos aconselhou a confiar na minha experiência e a seguir a minha orientação?
- Talvez ele quisesse prevenir alguma dificuldade ou insegurança que me surgisse. Mas asseguro-vos: nada disso acontecerá.
Dinis era implacável, mas Beatriz estava incapaz de se conformar com aquela decisão do filho:
- Bem sabeis que ele me pôs à frente do grupo dos testamenteiros, formado pelo mordomo-mor, pelo chanceler e…
- Minha senhora! D. João Peres de Aboim era mordomo-mor de meu pai e D. Estêvão Anes o seu chanceler. Mas, por maior desgosto que me tenha causado a sua morte e por mais respeito que guarde pela sua memória, factos são factos: el-rei de Portugal já não se chama D. Afonso III e sim D. Dinis!
Sua mãe olhava-o escandalizada e ele acrescentou:
- Nomearei novos colaboradores e conselheiros, o mais depressa possível.
- Pretendeis afastar do conselho de regência os melhores servidores de vosso falecido pai? Seus amigos de infância?
Dinis levantou-se irritado:
- Quando parais de falar nesse bendito conselho de regência?


(Ler outros extractos do romance na etiqueta Citando o Lavrador)

2 comentários:

antonio ganhão disse...

Apesar de espanhola, já mãe galinha portuguesa.

Daniel Santos disse...

onde posso comparar a obra e onde é que arranjo um autografo da autora?