Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

12 de dezembro de 2012

Naquele Tempo (12)


O importante, do nosso ponto de vista, é que a batalha [de São Mamede] constituiu, ao mesmo tempo, uma afirmação de independência dos nobres portucalenses contra uma eventual submissão à alta nobreza galega. De facto, como vimos, todos os nobres que mencionámos até aqui pertenciam a famílias de nível condal. Foi certamente este facto que provocou a reacção dos barões portucalenses. Desde a morte do conde Nuno Mendes de Portucale em 1071, representavam a camada superior da nobreza regional. Se se mantivesse o casamento de D. Teresa com Fernão Peres de Trava, mesmo que ela se viesse a tornar rainha de um reino independente, isso significaria a relegação dos nobres portucalenses para segundo plano. Viam-se, portanto, ameaçados pela concorrência galega nas suas próprias terras e funções curiais.
Quer isto dizer que o núcleo fundamental da nobreza portucalense, depois de ter começado a adoptar um comportamento próprio e de proclamar a sua autonomia, demonstrou a sua capacidade para se opor em conjunto a outra nobreza regional, e deu a essa oposição uma expressão política ao eleger como chefe o príncipe Afonso Henriques. Não se trata, porém, obviamente, de um movimento «nacional», mas de uma associação de interesses expressa em termos vassálicos, o que quer dizer, em termos precários. Só a permanência desse vínculo ao longo de séculos e a sua conjugação com muitos outros factores permitiriam fazer dele o ponto de partida para uma futura e ainda longínqua solidariedade nacional.

A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, página 316


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