Quem
diria que a discussão à volta do piropo se tornasse tão acalorada,
comparando-se às que costumam centrar-se nas touradas, nos direitos dos animais
e no Acordo Ortográfico? Não resisto a dizer de minha justiça:
Pessoalmente
detesto piropos. Há mulheres que dizem que sobem a autoestima. A mim, nunca me
aconteceu, pelo contrário. Era uma adolescente muito tímida, que gostava de
passar despercebida. Quando passava por uma obra e os trolhas começavam todos a
lançar piropos e assobios, eu só desejava enfiar-me num buraco. Havia piropos
que me chocavam de tal maneira, que chegava a sentir vergonha de existir.
Mais
tarde, no local de trabalho, havia um senhor bastante mais velho que me dizia
piropos, num tom entre o paternal e o intimidante. Eu detestava, mas sorria,
educada. E perguntava-me porque diabo achava ele que tinha o direito de me
dizer tais coisas. Já se passaram vinte anos, mas, sempre que penso nessa
pessoa, fico um pouco enjoada.
Por isso,
por mim, os piropos bem podem acabar. E lá se vai mais uma tradição tão portuguesa.
Que pena...
Nota:
post inspirado pela Alice Alfazema e as suas
geniais perguntas.
Acho que vou escrever um livro intitulado "O Piropo". Sucesso garantido.
ResponderEliminarNota: é curioso que os dicionários não atribuem ao termo um valor pejorativo. É elogio, nem que esteja pejado de ordinarices.
ABC
Talvez as ordinarices tivessem aparecido mais tarde. Dentro do piropo, cabem coisas tão díspares como: "a menina é a alegria desta rua", ou "comia-te toda". E será piropo abordar uma mulher numa discoteca, dizendo-lhe uma graçola que até pode ter consequências positivas (como uma relação duradoura, ou, mesmo, casamento)? Ou será isso uma, digamos, "técnica de engate"?
ResponderEliminarO piropo, na sua génese, um elogio, tornou-se muito elástico.
Essa do livro é boa ideia. Se a concretizar, desejo-lhe sucesso!
Não tinha ainda "dado" por este post Cristina. O assunto é interessante por foi durante uma larga época como que um "ponto de honra" masculino mas, atualmente caiu praticamente em desuso.
ResponderEliminarNa minha condição de homem, nem pratiquei, nem nunca achei graça ao piropo, quer fosse mais ou menos imaginativo ou provido de piada. O meu estilo sempre foi a abordagem direta e o "parlapie", cujo resultado era, umas vezes sim, outras vezes, talvez.
Mas fui vítima de um piropo, ou seja do resultado de um piropo que um amigo com quem ia, lançou a uma rapariga que passou por nós. Sou sincero, talvez porque habitualmente ando com o pensamento muito afastado do corpo, a verdade é que não ouvi o piropo, nem dei por o meu amigo o ter dirigido à rapariga. O resultado foi que ela não o deve ter apreciado e voltou para trás julgando que fui eu o autor da graça e, sem mais nem menos, afinfa-me um valente estalo que ainda por cima me acertou em cheio no ouvido direito. Fiquei meio atordoado pela surpresa, pelo zumbido no ouvido e ainda por cima o meu amigo encostado à parede, ria-se de mim, sem conseguir parar.
Estive bem um mês sem falar ao fulano, mas depois, como eramos amigos, desculpei-o e reatámos a nossa amizade.
Ehehehe
ResponderEliminarBela história nos contas, Bartolomeu :) Mas compreendo que, na altura, não lhe tivesses achado piada. E a moça não era nada meiga. Se, hoje em dia, se pode denunciar o piropo, também podias denunciar tão bruta chapada ;)
Na discussão que se desenvolveu à volta deste assunto parece-me que se confundiu muito o piropo com essa abordagem direta de que falas. O que nos levaria à pergunta: afinal, o que é o piropo? O que poderia originar horas de reflexões e discussões ;))
Parto do princípio que o piropo possa ter tantas versões e estilos diferentes, quanto diferentes são as pessoas que os proferem e as pessoas a quem são dirigidos.
ResponderEliminarMas, tão curioso quanto isto, é verificarmos que da mulher para o homem, o piropo é quase inexistente. E penso que esta diferença não se fica a dever a falta de coragem ou de iniciativa, tão pouco de inspiração.
Eu, nunca fui "vítima" de um piropo lançado por uma mulher, e não conheço outro homem que já tenha sido. Misteriosas razões serão a razão de esta modalidade não se praticar. Julgo.
Não será falta de inspiração, mas digo-te que pode ser falta de coragem. Na verdade, nós mulheres ainda estamos muito ligadas ao preconceito de que o homem deve ter a iniciativa. Não serão todas, mas penso ser ainda a maior parte. Falo por mim, Bartolomeu. Fui tão mentalizada para me manter discreta e não me meter com homens, que não me passa pela cabeça lançar um piropo, mesmo sendo já muito mais descontraída do que era dantes (também era melhor). Só se for em casos especiais, alguém que eu conheça bem, ou da minha família. Por isso, no meu caso, é mesmo falta de coragem, medo que me achem inconveniente, ou atrevida demais. Conto não ser a única a pensar assim ;)
ResponderEliminarHoje em dia, as jovens são mais descontraídas, graças a Deus. Mas penso que a maior parte ainda não se atreve, se bem que conheço mal os ambientes liceais e afins.
Sim, daquilo que me é dado notar, a maioria das mulheres observa um código comportamental que lhes foi imposto desde muito tenra idade. Podemos achar absurdo esse código, sobretudo, a tipologia das regras que o compõem, no entanto, basta-nos pensar um pouco para rápidamente concluirmos que a sua existência e "imposição" faz algum sentido, sobretudo como forma de protecção contra uma sociedade masculina de princípios que em alguns aspectos roça (e não ao de leve) o maxismo, o qual reduz a mulher à mera condição de objecto, criado para satisfazer os seus desejos. As gerações mais jóvens, parece não se sujeitar a códigos de qualquer espécie, reparo nisso, por exemplo, nas entrevistas aos grupos de raparigas nos recintos onde decorrem os concertos tão na moda. Elas vestem-se como lhes apetece, bebem e comportam-se a seu bel-prazer e dizem públicamente o que lhes vai nas tolas cabecinhas. Imagino-as com mais dez anos de idade e penso se não terão de ser os homens, nessa altura, a encontrar formas de se proteger...
ResponderEliminar;))
Quem sabe... ;)
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