Nunca coloquei, entre mim e outro animal, a estúpida questão da superioridade. Uma das razões porque nunca acreditei no catecismo, foi porque não me parecia possível um acto de criação que tivesse o ser humano como último destinatário, ou especial beneficiário. As árvores “que nos dão a sombra e a madeira, os frutos e a seiva”, os animais “que nos dão o couro e o leite, os chifres e o estrume”… Sempre me pareceu uma cantilena fascista como a de um país multi-continental e multi-racial espalhado pelo mundo e tendo a maior altitude no Monte Ramelau.
Eu e a coruja, a coruja e eu. Nenhuma transcendência. O sentido oculto deste nosso encontro não é nenhum. O que dá sentido à vida da coruja é exactamente o que dá sentido à minha vida. Basta-nos, a ambos, existir. Mas existir assim. Capturando e engolindo 25 ratos e musaranhos numa noite ou provando vinho regional alentejano, consoante o caso.
Luís Januário, A Natureza do Mal
Sim, porque nos achamos superiores? Invocando um conceito de inteligência inventado por nós? Não somos mais que nada. «Do pó viemos e ao pó tornaremos».
"Somos irmãos das rochas e primos das nuvens" - HARLOW SHAPLEY (citado por Robert Jastrow em "A arquitectura do Universo")
ResponderEliminarDevíamos levar mais a sério frases como essa. Aí está a verdadeira e saudável humildade.
ResponderEliminarCom a diferença de que esta não é uma daquelas frases bonitinhas para enfeitar pessoas de faz de conta. Já li o livro há muitos anos e não é a minha área. Mas tanto quanto me lembro a diferença entre a composição das rochas e o corpo humano é de cerca de 2% (dois).Ou seja, na prática, a diferença é insignificante. Mas de algo podem estar certos, muito depois de a humanidade desaparecer da face da terra, as rochas e a vida continuará na terra indiferente a quem se julgou superior.
ResponderEliminarExatamente!
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