Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

8 de janeiro de 2014

Harmonia



Uma das boas surpresas, na nossa viagem a Föhr, uma ilha no Mar do Norte, perto da fronteira entre a Alemanha e a Dinamarca, aconteceu logo no ferry-boat. Constatámos que não éramos os únicos a querer poupar o nosso animal de estimação ao stress da orgia pirotécnica de fim de ano. O ferry estava cheio de pessoas com os seus cães.

O tempo estava agreste. Apesar das temperaturas positivas (entre os 5 e os 8 graus) soprava um vento fortíssimo e gélido, que metia qualquer nortada portuguesa num bolso. Além disso, iniciámos a travessia pelas 16h 30m, ou seja, já escurecera. Não eram condições convidativas a uma permanência ao ar livre. Nos carros, também não era confortável, com os motores desligados, logo arrefeciam. Por isso, os passageiros encaminharam-se para o bar-restaurante do ferry, que, além de ser abrigado do vento, estava aquecido, claro.

Levámos a nossa Lucy connosco, não a queríamos deixar sozinha no carro frio. E foi quando deparei com algo que, admito, me comoveu: toda a gente assim agiu! Fossem pessoas sozinhas, ou famílias completas, com crianças de todas as idades (desde bebés a adolescentes), todos levavam os seus cães pela trela.

Centenas de pessoas sentaram-se no confortável bar-restaurante, iniciaram-se conversas com vizinhos de mesa que não conhecíamos. E os cães ao lado. Cães bonitos, bem tratados, sem qualquer tipo de cheiro, de pelo a luzir e olhos meigos, brilhantes, felizes. Alguns aproveitavam para igualmente travar conhecimento com os seus semelhantes, outros deitavam-se no chão, muito pachorrentos. Se se revelavam inquietos, com algum balançar do ferry, logo uma mão humana, fosse de adulto ou de criança, se apressava a afagá-los. Porque a mão daqueles em quem o cão confia funciona como um calmante.

Cães pacíficos, sociabilizados. Não lhes fazia qualquer tipo de impressão encontrarem-se num espaço fechado, junto com uma multidão de desconhecidos e outros cães. Sabiam perfeitamente como se deviam comportar. Alguns donos até largaram a trela, depois de os cães se terem deitado, ao lado ou por baixo das suas cadeiras. Senti-me muito bem, naquela harmonia entre humanos e caninos. É difícil exprimir em palavras a paz que se sente, num situação dessas. Muita gente se escandaliza, quando se fala em considerar cães e gatos como membros da família. Mas só assim se consegue a integração perfeita, capaz de gerar momentos como aquele.

A nossa Lucy também não nos deixou mal e logo estabeleceu amizade com a cadela da senhora com quem conversámos ;-)

Não tenho fotografias da travessia, mas bastantes dessas férias e hei de publicar aqui algumas.


4 comentários:

  1. Ohhh...tão giro! Deve ter sido uma experiência muito reconfortante :)

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  2. Estou habituada a ver cães em sítios onde em Portugal ainda quase não se veem, como restaurantes, autocarros, ou metro. Mas tantos no mesmo estabelecimento nunca tinha visto ;) Apesar de ter frequentado com a Lucy um campo de treinos, ou uma "escolinha" para cães, como se diz no Brasil, onde se juntavam também uma dezena, ou mais, foi interessante esta situação num local inesperado. E como eles se portaram bem, no meio do barulho, de crianças a brincar e de empregados de mesa atarefados, de um lado para o outro :)

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  3. Diz-se que os animais, especialmente os cães, comportamentalmente, são o reflexo dos seus donos.
    Lembro-me de, numa viagem à Alemanha em que passei por Osnabruck e fiquei no hotel Steigenberger, ao entrar no restaurante, reparei numa mesa onde se sentavam dois casais, cada um com o seu cão; nada mais, nada menos que dois enormes Galgos Afegãos, com uma pelagem comprida, impecavelmente escovados, ambos deitados calmamente ao lado da mesa, enquanto os donos almoçavam e conversavam.

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  4. Uma grande verdade: os cães são o reflexo dos seus donos.
    E, não querendo comparar crianças com animais, só a atitude, também se pode dizer que os filhos são o reflexo dos pais. Se mais pais tivessem consciência disso...

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