Há um provérbio alemão que diz mais ou menos isto: «faz como o relógio de sol, conta apenas as horas iluminadas» (mach es wie die Sonnenuhr - zählt die heit'ren Stunden nur). À volta deste tema, Andrea Schwarz, colaboradora de um jornal católico, escreveu um pequeno texto muito interessante, a propósito do início do novo ano.
Que fazer então, pergunta ela,com as muitas horas escuras, que os próximos meses nos trarão? As horas cheias de solidão e tristeza, cheias de medo e preocupações, de infelicidade e doença? Não contam?
É verdade que tentamos esquecer horas destas o mais rapidamente possível, ou mesmo evitá-las. Mas fingir que elas não existem, não impede que elas surjam. Andrea Schwarz propõe procurar Deus na escuridão, porque é lá mesmo que ele se esconde. A ideia surgiu-lhe de um postal de Natal com a frase: «Cristo escolheu a escuridão para seu esconderijo» (Christus hat die Finsternis zu seinem Versteck gemacht). Este pensamento confortou-a, pois, mesmo que à primeira vista não O encontre, ela acredita que Deus está bem no meio da sua hora escura.
Enfim, esta é uma explicação plausível num jornal deste tipo. Na minha opinião, porém, podemos aproveitar algo dela, mesmo que não acreditemos em Deus. Em primeiro lugar, é verdade que de nada adianta tentar ignorar as dificuldades ou o sofrimento. A ideia de que não aguentamos é falsa, normalmente, foi-nos, de uma maneira ou de outra, transmitida na infância. O melhor caminho de minorarmos o sofrimento é, de facto, deixá-lo vir, deixá-lo tomar conta de nós e expressá-lo, seja a chorar, a gritar, ou a dar murros numa almofada. Para os problemas que afetam os portugueses, nesta altura, preparar cartazes a insultar o governo, participar numa manifestação e gritar contras as injustiças é também uma boa forma de terapia. Pode não resolver os problemas, mas alivia. Além de descarregarmos a frustração e a revolta, vemos que não estamos sozinhos, que há milhares de pessoas tão ou mais revoltadas do que nós.
Recordemos a nossa adolescência! Como agíamos perante um desgosto amoroso? Fechávamo-nos no nosso quarto, púnhamos música triste no gira-discos e carpíamos a nossa miséria, às vezes, horas a fio. Auto-comiseração? Não há problema, desde que não se torne num hábito. E sentíamo-nos mais aliviados, no fim.
Ninguém deve ter vergonha de chorar, de dizer que está a sofrer. É
importante descarregar essa energia negativa, porque só assim
encontraremos a positiva que cada um de nós guarda no seu interior (e à
qual alguns de nós chamam Deus).
«A ideia de que não aguentamos é falsa...» É falsa sim senhora; já o grande guru da alta finança, Fernando Ulrich, descendente de alemães de Hamburgo, o tinha afirmado na celebre frase "...ai aguenta, aguenta...".
ResponderEliminarQuanto aos desgostos amorosos... bom, as meninas faziam assim mas, os rapazes tratavam imediatamente de telefonar a uma amiga para ir tomar café e de seguida, fazer-lhe a dança do índio.
;)))
Cada um com as suas estratégias, Bartolomeu, só quis dizer que nem sempre se devem ignorar os maus momentos. Tudo faz parte da vida ;) E, normalmente, essas coisas que se recalcam regressam em força e, o que é pior, disfarçadas...
ResponderEliminarNão me compares ao Ulrich, eu não quero que ninguém seja obrigado a aguentar pobreza ;)
Não te comparei ao Ulrich!!!
ResponderEliminarNem penses nisso. Percebi perfeitamente o sentido do teu post. O meu comentário não pretende ser uma crítica ao que escreveste, mas simplesmente uma brincadeira em tom satírico.
;)
Eu também usei um tom irónico no meu comentário, por isso, o piscar de olho ;)
ResponderEliminarA linguagem blogosférica nem sempre é muito clara por lhe faltar a mímica. Prezo muito a tua amizade virtual, que, um dia, quem sabe, até se poderá tornar pessoal ;)
E continua honesto, tal como és :)
Beijinho
Inda á quem diga ca telepatia num isiste... num que num isiste...
ResponderEliminar;)))
Olha Cristina, tenho uma coisa muito interessante para te contar acerca do teu "A Cruz de Esmeraldas".