Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
12 de janeiro de 2014
O Fotógrafo da Madeira
Foi este o livro que li, nas minhas mini-férias em Föhr, o tal romance sobre uma ilha, da autoria de António Breda Carvalho, lido numa ilha. Como o título indica, fala-nos de um fotógrafo, mas numa altura em que um fotógrafo constituía novidade e em que uma fotografia demorava cerca de quinze minutos a ser tirada com um calótipo.
Em meados do século XIX, Afonso Elias Ayres de Drumond, um advogado de Paris apaixonado por fotografia, regressa à sua Madeira natal, depois de vinte anos de ausência, a fim de tomar conta da quinta da família e de exercer funções como cônsul de França.Vai-se apercebendo das dificuldades dos madeirenses, da sua pobreza e de como os recursos da ilha estão mal aproveitados.
Como cônsul, trava conhecimento com os membros do governo regional e a elite da ilha e tenciona aproveitar a sua posição para tentar mudanças, até porque a população local emigra em massa, o que suscita uma interessante observação do autor: «os madeirenses esvaziavam a ilha fugindo da miséria e os turistas enchiam-na em busca de divertimento e saúde».
O seu intrometimento nos assuntos locais é, porém, muito mal recebido. António Breda Carvalho explora muito bem a mesquinhês, a ignorância e o fundamentalismo de autoridades acomodadas nas suas poltronas, tudo se passando debaixo da capa de cenário paradisíaco. Afonso Elias chega a afirmar: «Esta ilha é exteriormente bela e sorridente, mas moralmente desolada e fria».
A situação atinge contornos absurdos com uma total intolerância religiosa em relação a um pastor presbiteriano escocês, Robert Reid Kalley. As numerosas adesões à Igreja Presbitariana desestabilizam séculos de hegemonia católica e gere-se um clima de autêntica guerra civil, que culmina em muitas mortes e na expulsão de quase dois milhares de madeirenses.
Foi, para mim, muito interessante ler sobre este momento da história da Madeira, que desconhecia completamente. O livro lê-se bem, a escrita de António Breda Carvalho é fluida e clara, com uma certa atmosfera queirosiana aqui e ali. E, apesar de a ação se passar no século XIX, o tema é atual, basta pensar nas características dos nossos políticos e na emigração em massa que se verifica no nosso país.
Nota: este romance, publicado pela Oficina do Livro em 2012, foi o vencedor do Prémio Literário João Gaspar Simões, em 2010.
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O tema é atual, dizes bem, Cristina. Receio até que para além de atual, possa ser eterno. O personagem (Afonso Elias Ayres de Drumond)é reencarnado na atualidade pelo político José Manuel da Mata Vieira Coelho, deputado pelo PND à Assembleia Regional da Madeira. Este deputado (não-fotógrafo, não cônsul) também tem travado árduas batalhas contra as autoridades da poltrona. Inglórias, é certo, mas denunciadoras.
ResponderEliminarA Madeira parece ser um paraíso só para os turistas :(
ResponderEliminarBELLISSIMO,WONDERFUL,ARRETADO(EM PERNAMBUQUÊS)OLINDA.GOSTEI MESMO.
ResponderEliminarBELLISSIMO,WONDERFUL,ARRETADO(EM PERNAMBUQUÊS)OLINDA.GOSTEI MESMO.
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