Rebanhos cobriam os montes nordestinos, um modo de vida, a
que a solidão e a pobreza puseram fim, empurrando os pastores para a emigração.
Para trás, ficaram os cães de gado transmontanos, desorientados, escorraçados,
escanzelados.
O Farrusco subiu uma última vez ao monte. No planalto vazio,
viu o bardo que outrora guardava junto com o pastor, revivendo os melhores momentos
da sua vida. Josefina, a menina que o seguiu, foi a única testemunha do clarão
nos seus olhos, à lembrança de um tempo em que o mundo ainda fazia sentido.
Qual será o nosso bardo, aquele que nos iluminará,
pela última vez, os olhos desiludidos e cansados?
(Em breve, a minha opinão sobre "Farrusco - um cão de gado transmontano", de Isabel Mateus; ilustrações de Cristina Borges Rocha)
O bardo está sempre dependente do quando, do quê, do porquê e do como. Parece que o quê e o porquê se acha implícito na nossa matriz comum, a grande incógnita, que nos acompanha desde os primórdios´e nunca sabermos o quando e o como. Parece que quando surgem, nunca assumem uma forma definida, vêm envoltos numa espécie de neblina só possível a alguns olhos trespassar... talvez àqueles olhos capazes de emitir clarões de luz, olhos simples, humildes, puros, tão capazes de ver nas profundezas da terra, como dos céus.
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