Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

6 de novembro de 2014

«Um mouro de trabalho»

Ilustração de Jorge Miguel

Os mouros eram conhecidos por serem excelentes artífices. Eram melhores em tudo: os melhores jardineiros, carpinteiros, oleiros, telheiros, tanoeiros, etc. Porém, as suas competências eram desprezadas, em vez de reconhecidas. Sob regência cristã, os mouros constituíam o estrato mais baixo da sociedade. E assim, durante séculos, se desdenhou das suas profissões, outrora tão cobiçadas. Não se concebia que um cristão fizesse certos serviços, afinal havia os mouros, que transmitiam os seus  valiosos conhecimentos de geração em geração, uma mão de obra barata, até porque muitos deles eram escravos.

Ao recordar esta característica da sociedade medieval portuguesa, não posso deixar de a ligar às pertinentes palavras de Rui Curado da Silva no Aventar:

«O ensino técnico em Portugal é tratado como um ensino de segunda, ou pior, olhado frequentemente como uma via para delinquentes e marginais. Isso está muito errado. Deveria ser a base de uma carreira digna, responsável pela introdução de mais qualidade e de novas tecnologias na sociedade. Uma oportunidade para a criação de emprego com potencial para gerar novos empregos».

As declarações de Merkel sobre o suposto excesso de licenciados em Portugal, tiveram, pelo menos, um mérito: puseram muita gente (eu incluída) a falar sobre a falta de um sistema de ensino tecnico-profissional em Portugal. Na verdade, a Alemanha tem uma tradição bem diferente. Os artífices, na Idade Média, eram especialistas considerados, que se protegiam, e à sua sabedoria, em confrarias. Só quem passasse com distinção num exigente exame, poderia exercer a sua profissão de pedreiro, carpinteiro, ou até de limpa-chaminés. Ainda hoje é assim, pelo que os jovens não necessitam de um curso superior para se sentirem respeitados e admirados.

Connosco parece ser diferente. Quem se ocupa de certas atividades ainda é «um mouro de trabalho».


1 comentário:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Deixe estar Cristina a capacidade: mãe de inovação.