Ele não contradisse aquela possibilidade.
Encarou a vastidão do Tejo, com uma ruga na testa. Jacinta fixou igualmente a
sua atenção no rio-mar. O sol já ia baixo, mas ainda refletia na água, que, de
tão serena, se podia julgar ser possível andar sobre ela, uma superfície
prateada.
Jacinta tornou a sentir-se envolvida pela
luminosidade. Murmurou:
- Disseste que a vida começa de novo. A vida
está sempre a começar, desde que o queiramos. Mas sem nada se apagar. É essa a
vantagem do renascer. Quem nasce pela primeira vez, é atirado indefeso para
braços que tanto podem ser fortes, como frouxos, carinhosos, como cruéis. O
recém-nascido não está em condições de escolher. Mas nós estamos. Façamos as
pazes connosco próprios, acarinhemos o recém-nascido que vive dentro de nós,
esse ser frágil que já fomos, que requer atenção e cuidados, mas que nós
facilmente rejeitamos e olvidamos. Só quando o abraçamos, aceitando todas as
suas fraquezas, nos sentimos fortalecidos para começar de novo, uma outra vida.
Afastou-se, sem mais uma palavra. Pedro não
tentou impedi-la, nem sequer chamou por ela. De que adiantaria tentar agarrar o
sol que desaparecia no horizonte?
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