Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
23 de junho de 2015
História da Vida Privada em Portugal - A Idade Média (17)
O desempenho de funções paternais e maternais por parte de outros parentes também se encontra recordado na cronística dos finais da Idade Média.
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O sentimento do privado transborda, assim, da casa para a parentela, mais vulgarmente tios ou primos, na companhia dos quais decorria, muitas vezes, uma parte significativa da infância.
Entre a fidalguia rural minhota dos séculos XII e XIII, era costume confiar o aleitamento e a criação dos seus filhos às mulheres das famílias locais de camponeses livres, as quais, ao amamentá-los em conjunto com os seus próprios bebés, no quadro de uma irmandade de leite, passavam, por via desse serviço, a isentar o seu lar de pagamento de tributos régios.
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Durante os séculos XII e XIII, a aprendizagem dos jovens fidalgos implicava, frequentemente, o abandono da casa paterna, por vezes logo após o desmame. Separados da mãe e das irmãs, os pequenos nobres passavam, então, a participar no mundo viril das cavalgadas, caçadas, armas e jogos de destreza guerreira, ao mesmo tempo que se incorporavam nos quotidianos próprios das famílias nobres onde passavam a viver, contribuindo deste modo para o reforço dos laços de dependência feudal que os uniam às suas linhagens de origem. Esta integração numa nova família podia, inclusivamente, sobrepor-se à própria consaguinidade, reforçando-a ou mesmo substituindo-a como laço vinculador, originando uma ligação social e afectiva muito forte.
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No âmbito das elites aristocráticas, sobretudo fidalgas, as crianças ainda poderiam integrar uma nova família por outros motivos. Quando raparigas, era frequente o abandono da casa paterna, quando atingiam a idade requerida para o permitir, ou seja, a partir dos sete anos, para os prometimentos «que o direito chama esposórios», para serem criadas na própria casa dos futuros sogros, onde passavam a integrar uma nova família que as tratava como filhas, aí aguardando a idade convencionada para a concretização dos matrimónios previamente negociados, aos doze anos. Na cronística de Avis mencionam-se várias meninas infantas que, muito novas, e para cumprir o seu destino matrimonial, se viram obrigadas a abandonar a corte paterna.
A Criança, Ana Rodrigues Oliveira, pp. 277, 278 e 279.
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ResponderEliminarInteressantíssimo este tema, algo desconhecido de quem não navega nessas águas. Tive um vislumbre da situação da Criança naquela época quando há dias ouvi a alguém que os filhos da Rainha Santa Isabel tinham sido criados por outras famílias e enquanto que Afonso Sanches, um dos filhos bastardos de D.Dinis, tinha sido educado por ela. Uma circunstância que viria, provavelmente, agudizar a rivalidade entre o referido Afonso Sanches e Afonso o herdeiro do trono.
Vejo agora que era prática corrente a saída das crianças do seio da família a partir de determinada idade. Pelo menos, os varões.
Obrigada, Cristina.
Bj
Olinda
De facto, era costume as crianças nobres serem educadas por fidalgos das relações dos pais e os infantes não fugiam à regra. Mas não só os varões. Também as meninas, como se diz no texto, se viam muitas vezes obrigadas a deixar a casa paterna. E, já que se fala em D. Dinis, também a filha desse rei e de Santa Isabel, a infanta Constança, teve de partir para Castela com apenas quatro ou cinco anos, quando ficou estabelecido que casaria com o herdeiro da coroa desse reino. Em contrapartida, seu irmão, o futuro rei D. Afonso IV, casou com uma irmã desse herdeiro, que seria a nossa rainha D. Beatriz (uma delas, houve várias com este nome). E até se deu algo curioso: os dois casamentos foram combinados ao mesmo tempo, de maneira que D. Isabel e a rainha-mãe de Castela, D. Maria de Molina, trocaram de filhas, prometendo-se que tratariam delas como das próprias. Costumes bem estranhos para nós...
ResponderEliminarBeijinho, Olinda :)
ResponderEliminarInteressantíssimo. E bem estranho, na realidade.:)
Obrigada, cara Cristina.
Bj
Olinda