Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

4 de fevereiro de 2016

Quem sai aos seus...



Uma reportagem no Diário de Notícias, na qual os entrevistados eram jovens, alguns estudantes do Ensino Superior, levou uma conhecida editora a perguntar-se se «terá a juventude de sofrer na pele para perceber que a política lhe diz respeito».

Penso que o teor do texto peca por generalizar, é a eterna lengalenga de «este mundo está perdido», já usada por nossos bisavós, trisavós e tetravós. Além disso, é faccioso: «À pergunta se é de esquerda ou de direita, uma rapariga de 21 anos que estuda na Faculdade de Letras afirma ser de direita “por uma questão familiar” (hereditariedade?)». O tom irónico prende-se com o facto de a estudante dizer ser de direita, porque, quando se é de esquerda, a hereditariedade até dá prestígio: fica sempre bem dizer que o pai ou o avô foi perseguido pela PIDE, ainda melhor que esteve preso.

Ponhamos a mão no coração, como dizem os alemães (nós diríamos na consciência): quantos de nós se desviam da tendência política familiar? Quem cresceu numa família de esquerda, costuma ser de esquerda, o mesmo se passando com a direita.

E isto leva-me a outro tema: usa-se e abusa-se daquilo que se herda da família… Mas apenas se a herança for considerada adequada. Os desgraçados que não tiveram a sorte de nascer numa família de prestígio, ou “às direitas” - desculpem, será melhor dizer “em condições” - veem-se às aranhas. É por isso que embirro com expressões do género: «foi assim que aprendi, tive quem me transmitisse valores»; ou «em minha casa, sempre houve educação». Como se fosse uma virtude própria e não pura sorte! Expressões destas, ditas com arrogância q b, só servem para espezinhar quem não teve tal fortuna. São, no fundo, uma forma de discriminação, levada a cabo por gente que normalmente se vangloria de não discriminar, porque, afinal, na casa deles «transmitiram-se valores».

Gente dessa desvaloriza-se, não tem virtudes próprias, tudo lhes foi transmitido.

Virtude e valor tem aquele que reconhece que não aprendeu o que é certo e possui a coragem de fazer o contrário! Embora não possa apregoar aos quatro ventos: «tive quem me ensinasse valores», prova possuir coragem e espírito de sacrifício. Se há algo custoso na vida é tentar fazer o contrário daquilo que se aprendeu.


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