Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

19 de fevereiro de 2016

O Último Cabalista de Lisboa




Um livro muito interessante sobre um episódio tétrico da nossa história: a histeria que se criou contra os judeus, em Abril de 1506, em Lisboa, por causa de uma seca. Com as fontes secas e a agricultura num estado calamitoso, augurando fome, o povo responsabilizou os judeus, na sua ânsia de encontrar um culpado, perseguindo-os, queimando-os e/ou matando-os com requintes de malvadez, tudo isto se passando perante a apatia das autoridades. Como se vê, as atrocidades do século XX, e as que infelizmente já se cometeram no XXI, não são novidade, nem reflexo da era mais desumana que a história da Humanidade já conheceu (como já ouvi caracterizar o nosso tempo). E o nosso povo está longe de ter sido pacífico e inocente, ao longo dos séculos, bem longe de praticar os “brandos costumes”…

Contudo, e apesar de o livro criar muito suspense, não me encheu as medidas. Berequias, um jovem judeu que tenta sobreviver ao caos, ao mesmo tempo que tenta descobrir o assassino de seu tio, é um herói à là Dan Brown, ou seja: por mais agruras que passe, por mais ferimentos que lhe inflijam, por mais noites que passe sem dormir, por mais correrias que se veja obrigado a fazer, seja pelas ruelas lisboetas, seja sobre os telhados, tem sempre ânimo para continuar, nunca se cansa, mal precisando de comer e de dormir, nem tão-pouco os terríveis ferimentos têm graves consequências. Este ritmo é agradável ao leitor, pois as aventuras sucedem-se, mas, na minha opinião, torna-se inverosímil.

Além disso, fiquei com a impressão de que na família de Berequias cada um vivia por si. Claro que, em dias de loucura, os ritmos e as rotinas se quebram, dando lugar ao absurdo, mas procurei em vão sinais de relações familiares, de algo que me dissesse que tipo de hábitos se usavam em sua casa, como era a vida familiar em tempo de normalidade. Mesmo antes de ter começado a histeria, parecia que, naquele lar, não havia uma ordem, um quotidiano. Sempre que Berequias lá entrava, as pessoas faziam coisas que o surpreendiam. Até a própria mãe do jovem parece distante dele, como os dois mal se conhecessem.

Também me incomodou a mudança constante do tempo verbal entre o pretérito e o presente.

Para quem não é sensível a pormenores destes, o romance entretém e informa. Além disso, achei interessante haver um assassínio que, à primeira vista, acontecia na sequência da barbaridade contra os judeus, mas que, e graças à perspicácia de Berequias, se descobre ter sido cometido por uma razão bem diferente.


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