Depois de mais de um mês de ausência, aqui estou de novo, com uma opinião de
leitura. As razões para ter estado afastada do blogue têm a ver com
falta de tempo. Sim, o Facebook também é corresponsável, mas o motivo principal
foram as minhas férias em Portugal. Entre encontros de família e outros
compromissos, os dias passaram numa correria.
Planeara escrever sobre esta obra em Portugal, até levei o livro comigo,
pois tinha passagens sublinhadas para citar. Acabei por não arranjar ocasião e
o livro por lá ficou, pelo que a minha opinião vai ser mais pobre, até porque
já acabei a leitura em inícios de Abril, ou seja, o texto já não está fresco na
minha memória.
Por outro lado, que se pode dizer de Saramago que outros não disseram já?
Que ele é bom escritor? Que esta obra é das melhores que ele escreveu? Que toda
a gente devia ler? Enfim, apenas tenho a acrescentar (além dos erros para os quais chamei a atenção) que achei o início interessante,
mas um pouco enfadonho. Não vale, porém, desistir! Quem lê Saramago, é
recompensado. E não são de perder as conversas entre Fernando Pessoa (já morto)
e o seu heterónimo Ricardo Reis, que regressa do Brasil, precisamente na altura
do funeral do seu criador literário. Ricardo Reis é assim uma personagem de
fantasia movimentando-se num mundo real: a Lisboa dos anos 1930, dos inícios da ditadura e que, ainda por cima, o recebe com uma chuva que teima em passar.
Mas leiam, se querem saber mais!
Carlos Reis
ResponderEliminar3/5 às 18:10 ·
Enquanto personagem de ficção, Ricardo Reis é mais do que um heterónimo (…). Ele está no centro de uma ação narrativa em que lida com outras personagens, vive situações amorosas, conhece factos históricos e circula por espaços que identificamos sem dificuldade. Nesse sentido, O Ano da Morte de Ricardo Reis deve ser considerado uma obra que “fala” ao nosso tempo; para isso, importa estabelecermos ligações entre aqueles factos, aqueles espaços e o nosso mundo, que é o de quem vive já no século XXI. Por exemplo: o tempo político de Salazar e os anos anteriores à segunda guerra mundial (Saramago situa a ação do seu romance em 1935 e 1936) tiveram consequências que se prolongaram ao longo do século XX; essas consequências fazem parte das nossas vidas.
Para a história da Europa e do mundo, aqueles anos foram decisivos. Embora eles não se encontrem representados na ficção de Saramago como o são num manual de História, a verdade é que, através da ficção, adquirimos um outro conhecimento, como que “reinventado”, de figuras e de episódios históricos. De certa forma, é isso que se passa noutros romances de Saramago, por exemplo, no Memorial do Convento e na História do Cerco de Lisboa. A estes e também a O Ano da Morte de Ricardo Reis pode bem aplicar-se aquilo que o seu autor um dia escreveu, quando falou numa certa alternativa ao trabalho do historiador : “Restará sempre, contudo, uma grande zona de obscuridade, e é aí, segundo entendo, que o romancista tem o seu campo de trabalho.”
São considerados neste auxiliar de leitura os tópicos de conteúdo que fazem parte desta etapa do programa de Português do 11º ano, no domínio da educação literária.
(“Nota Prévia” a C. Reis, O Ano da Morte de Ricardo Reis. José Saramago. Col. “Educação Literária. Leituras Orientadas”. Porto: Porto Editora, 2017.)
Beijinho, Cristina
Estudo recente da obra , do Professor Carlos Reis, para o caso de te interessar.
Isabel Fidalgo
Obrigada, Isabel.
ResponderEliminarUm bom complemento à minha opinião despojada daquilo que eu pretendia: reflexões sobre a vida e o mundo, tendo por base as citações escolhidas. Ainda o farei um dia, elas lá ficaram, sublinhadas.
Beijinho
<>
ResponderEliminarDigo por mim; Senti dificuldades, não em começar a ler Saramago, mas em começar a entrosar-me na sua escrita. As "pontuações" que estava habituado a encontrar nos textos escritos e que me davam a orientação e sentido da narrativa, eram substituídos por discurso direto e indireto, demorei um pouco a adaptar-me... a compreender. costumo dizer que Saramago elaborou um AO, antes do de 90. ;-)
Como dizes <>
E é-o não propriamente pelo sentido ideológico mas, sobretudo, pelo sentido social e humano das frases que exprimem os seus pensamentos e reflexões.
Ainda referindo-me á primeira frase deste comentário, direi que saramago me surpreendeu fora dos livros. Não faço ideia se outros terão o mesmo para dizer, eu, escrevi-lhe para Lanzarote, comentando, salvo erro, o "Memorial do Convento". Quinze dias depois recebi a resposta que imaginei nunca iria chegar (um escritor como Saramago, prémio Nobel da literatura, responder á carta que um borra-botas qualquer lhe envia...). Mas respondeu e não o fez de forma "en passant" só para garantir a fidelidade do leitor. Não, respondeu referindo-se em concreto ao assunto que abordei, expondo naturalmente o seu ponto de vista, concordando e discordando e... convidando-me a voltar a escrever-lhe. Este gesto sensibilizou-me e deu-me uma perspetiva mais humana do escritor, um escritor de que possuo bastantes obras que me dão imenso gosto ler e que acho sempre atuais nos temas que abordam.
Obrigada por deixares aqui testemunho dessa faceta simpática do grande escritor :)
ResponderEliminarBeijinhos para ti e para a Cristina!