Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

26 de maio de 2017

Pela Vida?



Os movimentos que clamam ser “Pela Vida” condenam o aborto, seja em que fase for, já que alegam pretender preservar a vida indefesa que se inicia com a fecundação do óvulo.

O aborto sempre foi muito condenado, ao longo da História. Porém, por trás desta condenação, parece-me haver, ainda hoje, muitos resquícios da sociedade patriarcal machista, sendo o seu principal objetivo criminalizar apenas a mulher. Nos países em que há leis muito severas contra o aborto, nomeadamente na América do Sul, os homens costumam ser isentos de qualquer responsabilidade, o que denota muita cobardia e hipocrisia.

Por outro lado, há, desde 1976, um grande consentimento social em relação à fertilização in vitro, os chamados bebés-proveta. Porquê esta disparidade?

As razões parecem óbvias. Ao praticar o aborto, uma mãe rejeita a vida que cresce dentro de si; por outro lado, subsiste como que uma intenção nobre na fertilização in vitro: casais, ou mulheres, que não conseguem ter filhos, são ajudados a criar nova vida. As famílias aplaudem, mesmo as mais conservadoras.

Na minha opinião, este é um dos indícios mais gritantes da sociedade hipócrita em que vivemos. Quem rejeita o aborto, seja em que circunstâncias for, devia rejeitar os bebés-proveta com a mesma convicção! A fertilização artificial cria sempre vários embriões, ou seja, várias vidas humanas. Na mulher que deseja ser mãe, são implantados até três desses embriões. Só em cerca de 20% dos casos essa implantação conduz a uma gravidez, a grande maioria desses embriões é rejeitada pelo corpo ou seja, são abortados. E, mesmo que a gravidez resulte, há sempre algo que é rejeitado, na pior das hipóteses, duas crianças. Dir-me-ão que são abortos espontâneos e eu digo que dificilmente se pode falar em tal, já que a fecundação não se deu por meio natural.

Este não é porém o único problema. Normalmente, são fecundados mais óvulos do que aqueles que podem ser implantados e ninguém sabe bem qual o destino a dar a esses embriões. Deixemo-nos então de paninhos quentes: milhões de bebés aguardam congelados que se lhes dê um destino e este é, normalmente, o caixote do lixo! Se isto é preservar a vida indefesa, eu sou a próxima rainha de Inglaterra!

Quando é que os movimentos “Pela Vida” se deixam de hipocrisias e começam a condenar a fertilização in vitro? É uma questão de coerência!


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