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Quem pensa que a escravidão é coisa do passado, engana-se.
Hoje em dia, há cerca de 40 milhões de escravos no mundo! Ficamos
escandalizados, não é? Pois a verdade é que todos nós beneficiamos do trabalho escravo!
Mais irónico ainda é que um escravo nunca foi tão
barato como hoje! Convertendo os preços para valores atuais, pode dizer-se que
um escravo, no século XIX, custava algumas dezenas de milhar de euros. Ora, segundo
a Walk Free Foundation, o preço mais barato de um escravo dos nossos dias é de apenas 20 euros!
Considera-se trabalho escravo quando as pessoas
não recebem salário, são mal alimentadas, exercem o trabalho sob ameaça ou
castigos, não se podem movimentar livremente, assim como não se candidataram
livremente para o trabalho que exercem, nem aceitaram as condições a priori. A maior parte dos escravos trabalha na agricultura, na
pesca, na construção civil, ou como empregados em casas particulares (na sua
maioria, aquilo a que chamamos “criadas de servir”). As mulheres são mais suscetíveis
de cair na escravidão do que os homens, pois são elas as maiores vítimas da
exploração sexual, a que se juntam os casamentos forçados, nos quais a maior
parte delas vive em condições escravizantes.
Por mais que nos esforcemos, é quase impossível para nós,
consumidores, evitar comprar produtos que, em algum momento, dependeram de
trabalho escravo. Só para dar alguns exemplos: muitos dos camarões que
compramos são alimentados com farinha de peixe originária da Tailândia,
confecionada através de trabalho escravo; a carne de porco que consumimos pode
ter origem em animais portugueses, mas estes foram talvez alimentados com soja
brasileira, proveniente de quintas que sobrevivem à custa de trabalho indigno; os
smartphones (telemóveis) existem,
graças a minerais raros provenientes do Congo, extraídos por escravos, não só adultos, como também crianças; muitos carros contêm aço brasileiro, obtido igualmente através de trabalho escravo.
Há situações ainda mais difíceis de detetar, já que
é longa a cadeia de produção e opaca a estrutura laboral ligada a certos
serviços. Quando pensamos, por exemplo, no vestuário produzido em condições duvidosas,
estamos a considerar as trabalhadoras das fábricas têxteis asiáticas. Mas o problema
é muito mais profundo. No caso do algodão, por exemplo, começa na sua colheita
e passa pela preparação e fiação. Por isso, de pouco adianta as lojas fazerem contratos com fábricas, nas quais as trabalhadoras são respeitadas. O mesmo acontece em relação ao chá plantado e
colhido à mão na Índia.
A solução não está à vista. Os responsáveis estão bem
escondidos na densidade das estruturas comerciais do nosso mundo globalizado.
Seriam precisas mudanças estruturais a nível económico, social, cultural e
jurídico. A escravidão assenta na pobreza, no desemprego,
nas crises económicas, nos conflitos armados e nas catástrofes naturais.
Também não adianta exigir leis mais rigorosas. A
escravatura é proibida em todos os países do mundo, com a exceção da Coreia do
Norte.
Mas, afinal, o que podemos fazer? Apoiar políticos,
instituições e organizações que combatam o trabalho escravo, estar atento às
suas recomendações e iniciativas, é um bom começo.
Nota: informações obtidas no jornal católico alemão KirchenZeitung,
edição nº 4, de 28-01-2018.