Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

20 de março de 2019

Quem entende de cães, também entende de pessoas. E vice-versa.




Martin Rütter é um conhecido treinador de cães alemão. Tem um programa na televisão há cerca de dez anos (com interrupções, ou seja, trata-se de uma série com várias temporadas) e já publicou vários livros, incluindo um engraçado dicionário “Cão - Alemão / Alemão - Cão”.



Nunca tinha visto o seu programa e resolvi fazê-lo no fim-de-semana passado. Simplesmente adorei! Martin Rütter não é apenas um bom psicólogo canino; é, acima de tudo, um bom psicólogo de humanos. Faz muito bem a ligação dos problemas dos animais com os problemas das pessoas que deles tomam conta. E tem uma paciência infinita, tanto para uns, como para outros.

O método dele baseia-se na paciência e na calma. Não há lugar para castigos e gestos violentos. Um dos casos com que lidou neste programa, foi o de um pequeno teckel que, em casa, se portava muito bem, mas que não parava de ladrar, sempre que saía com os donos, um casal idoso. Era profundamente enervante, tanto para o casal, como para os seus vizinhos, como para as pessoas que passavam por eles na rua.

Martin Rütter propôs uma técnica: não ligar ao cão, quando ele ladrasse, e recompensá-lo com um biscoito sempre que ele desse alguns passos caladinho. Passado quinze dias, foi ver como o caso tinha evoluído. Não tinha evoluído nada! Porquê? Porque o dono do cão não seguia as recomendações. Sempre que o bicho ladrava, ele berrava-lhe, como sempre: “cala-te”; “porta-te bem”; “não comeces”, etc. Ora, o normal seria o treinador censurar o homem por não seguir aquilo que lhe fora dito. Martin Rütter não fez nada disso. Solidarizou-se, dizendo que realmente não era nada fácil, que era muito desgastante. Mas insistiu, com muitos bons modos, que era essencial que o homem só ligasse ao cão, quando este se portasse como desejado. Porque os cães são como as pessoas, neste caso, crianças: quando querem chamar a atenção, não se importam que essa atenção venha na forma de ralhete. Por isso, enervam. Era essa a estratégia do teckel.

O idoso não tinha paciência para tal, o caso parecia malparado. Por outro lado, ele gostava do seu teckel e, com a insistência do treinador e a ajuda da esposa (as mulheres, como sempre, mais sensatas), ele lá foi aceitando o método e tentando controlar-se. Deu certo! Passado três meses, já conseguiam passear o cão sem que ele alvoroçasse a vizinhança.

O trabalho de Martin Rütter mostra que com calma, paciência e pedagogia positiva (em vez de castigos e berros) se cumprem objetivos. Além disso, o seu programa pode ajudar a evitar que muitas pessoas abandonem os seus animais por comportamentos indesejados. E também prova que o primeiro passo para educar um cão consiste em educar as pessoas por ele responsáveis.

Raramente desliguei a televisão tão bem-disposta.

Adenda: Aqui o link para os seus livros. São todos em alemão, mas deleitem-se com as capas:

https://shop.martinruetter.com/buecher-dvds-spiele/buecher.html 

 


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