Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

18 de março de 2019

«Nunca uma boa causa deve servir para santificar métodos moralmente dúbios ou mesmo inaceitáveis»*




Lembrei-me desta frase do Professor alemão de Ética Teológica Andreas Lob-Hüdepohl, ao ler sobre a campanha da Sociedade de Medicina de Reprodução que alerta para a importância e a urgência da doação de óvulos e espermatozoides para responder à crescente procura de tratamentos de infertilidade.


Servindo-se do drama da baixa natalidade em Portugal e citando o objetivo nobre de casais inférteis de desejarem um filho, o Dr. Pedro Xavier apela aos jovens que doem mais espermatozoides e óvulos.

Tudo isto seria muito bonito, se, associado à Medicina de Reprodução, não encontrássemos o problema dos embriões congelados e, muitas vezes, deitados fora. Já aqui alertei para o problema: na fertilização in vitro, são fecundados [em laboratório] mais óvulos do que aqueles que podem ser implantados e ninguém sabe bem qual o destino a dar a esses embriões. Deixemo-nos então de paninhos quentes: milhões de bebés aguardam congelados que se lhes dê um destino e este é, normalmente, o caixote do lixo!

Numa sociedade em que se condena o aborto, é estranho aceitarem-se práticas tão dúbias em nome da intenção nobre que subsiste na fertilização in vitro. Ou será antes o interesse no progresso da Medicina de Reprodução que move o Dr. Pedro Xavier?


É triste ser casal infértil, eu própria vivo essa situação. Mas há outras soluções: porque não considerar a adoção de uma criança? Muitas jovens, e outras mulheres, vendo-se grávidas em alturas difíceis da sua vida, optam por abortar. Porque não criar um sistema de adoção transparente e socialmente aceite ligado a esses casos?

A outra solução (aquela que nós acabámos por seguir) é dar um lar a animais domésticos, ou dedicar-se à causa dos animais abandonados.

Ambas estas alternativas são nobres. Muito mais nobres do que criar embriões condenados a viver num frigorífico, ou a serem deitados ao lixo.


* Tradução minha do alemão: Niemals darf der noch so gute Zweck moralisch bedenkliche oder sogar verwerfliche Mittel heiligen (KiZ nº 10, 2019-03-10).

Nota: a imagem pertence ao artigo citado.


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