Lembrei-me desta frase do Professor alemão de Ética Teológica
Andreas
Lob-Hüdepohl, ao ler sobre a campanha da Sociedade de Medicina de Reprodução
que alerta
para a importância e a urgência da doação de óvulos e espermatozoides para
responder à crescente procura de tratamentos de infertilidade.
Servindo-se do drama da baixa natalidade em Portugal e
citando o objetivo nobre de casais inférteis de desejarem um filho, o Dr. Pedro
Xavier apela aos jovens que doem mais espermatozoides e óvulos.
Tudo isto seria muito bonito, se, associado à Medicina
de Reprodução, não encontrássemos o problema dos embriões congelados e, muitas
vezes, deitados fora. Já aqui alertei para o problema: na
fertilização in vitro, são fecundados
[em laboratório] mais
óvulos do que aqueles que podem ser implantados e ninguém sabe bem qual o
destino a dar a esses embriões. Deixemo-nos então de paninhos quentes: milhões
de bebés aguardam congelados que se lhes dê um destino e este é, normalmente, o
caixote do lixo!
Numa sociedade em que se condena o aborto, é estranho
aceitarem-se práticas tão dúbias em nome da intenção nobre que subsiste na
fertilização in vitro. Ou será antes
o interesse no progresso da Medicina de Reprodução que move o Dr. Pedro Xavier?
Penso, por isso, que este artigo é uma perfeita
manipulação, quando apela a: ir
enraizando nas pessoas a ideia de que doar sangue salva vidas, doar gâmetas dá
vida; ou quando refere: nós
lidamos com os casais que vivem em amargura total porque não conseguem ter um
filho e nós sabemos que há uma solução para isso.
É triste ser casal infértil, eu própria vivo essa
situação. Mas há outras soluções: porque não considerar a adoção de uma
criança? Muitas jovens, e outras mulheres, vendo-se grávidas em alturas
difíceis da sua vida, optam por abortar. Porque não criar um sistema de adoção
transparente e socialmente aceite ligado a esses casos?
A outra solução (aquela que nós acabámos por seguir) é
dar um lar a animais domésticos, ou dedicar-se à causa dos animais abandonados.
Ambas estas alternativas são nobres. Muito mais nobres
do que criar embriões condenados a viver num frigorífico, ou a serem deitados
ao lixo.
* Tradução minha do alemão: Niemals darf der noch so gute Zweck moralisch
bedenkliche oder sogar verwerfliche Mittel heiligen (KiZ nº 10,
2019-03-10).
Nota: a imagem pertence ao artigo citado.
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