UM "MARIDO" AUSENTE DA DOCUMENTAÇÃO (4)
Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
OS ÚLTIMOS MESES
Em outubro de 1324, D. Dinis fez-se ao caminho de Santarém, como de costume. Tinha-se tornado um hábito passar o Natal e o fim do ano naquela cidade, só regressando a Lisboa na primavera. Naquele ano, porém, D. Dinis fora desaconselhado a empreender a viagem, devido ao seu precário estado de saúde. A rainha D. Isabel tratava dele, administrando-lhe pessoalmente os remédios.
Durante a viagem, D. Dinis sentiu-se tão mal, que a rainha mandou chamar o filho D. Afonso, encontrando-se este em Leiria. Depois de uma desgastante guerra civil, o rei e o seu herdeiro haviam assinado as pazes a 26 de fevereiro daquele ano. A guerra terminara, mas os dois continuavam desentendidos, não se falavam e evitavam encontrar-se.
Vendo o pai em tão mau estado, porém, o infante tudo fez para cuidar dele. Com a sua ajuda, D. Dinis chegou a Santarém, onde melhorou um pouco.
Mas o destino do Rei Lavrador estava traçado. Sentindo a morte aproximar-se, fez o seu terceiro e último testamento a 31 de Dezembro. Morreria a 7 de janeiro seguinte, com 63 anos.
CORTES DE LISBOA DE 1323

Em outubro de 1323 (não se sabe em que dias) reuniram-se Cortes em Lisboa, a pedido do infante D. Afonso, o herdeiro de D. Dinis. E reacendeu-se a guerra civil, que já se dera por terminada.
O infante D. Afonso exigia, entre outras coisas, que fosse retirado a seu meio-irmão Afonso Sanches o cargo de mordomo-mor, assim como as terras e dinheiros a ele doados pelo pai de ambos. Estas suas pretensões foram, porém, desleixadas, tratou-se de outros assuntos, acabando com a paz frágil, negociada entre pai e filho em Leiria, no ano anterior. A seguir ao cerco a Coimbra, essa paz tinha sido possível através da mediação da rainha D. Isabel e do conde D. Pedro de Barcelos.
Deixo-vos com um excerto do meu romance relativo às Cortes de Lisboa, quando o príncipe herdeiro viu os seus desejos ignorados pelos pares do reino, sem que seu pai interviesse a seu favor:
Ninguém abriu a boca. Mas Dinis arrependeu-se daquele procedimento em relação ao príncipe. Apesar de Afonso se manter digno, a humilhação era enorme, principalmente, perante a notória satisfação dos meios-irmãos. Naquele instante, o rei apercebeu-se haver exagerado na sua proteção e no seu favorecimento dos bastardos.
Não podia, porém, voltar atrás, dando o dito por não dito e, por isso, nada fez para impedir o voltar de costas do seu herdeiro àquela assembleia.
No fim do dia, o rei foi informado de que o príncipe deixara a cidade e, passado duas semanas, soube que juntava os seus partidários em Santarém, planeando marchar sobre Lisboa, a fim de se apoderar do trono à força!
Era a rutura total. Embora Isabel não o dissesse, Dinis sabia que ela o considerava responsável pela situação. Ele próprio assim se sentia. A rainha recolheu-se novamente em jejuns e penitências, recusando falar com ele.
Não obstante o arrependimento, o rei não podia deixar de defender o seu trono. Passou o mês de Novembro a organizar um exército, formado principalmente pelos combatentes do concelho de Lisboa.
A questão decidir-se-ia numa batalha em campo aberto, onde não existiria lugar para piedades nem perdões. As tropas digladiar-se-iam até haver um vencedor.
Os exércitos aquartelaram-se na zona do campo de Alvalade.
764º ANIVERSÁRIO DE D. DINIS

A 9 de outubro de 1261, nascia o segundo filho do rei D. Afonso III e da rainha D. Beatriz, o príncipe herdeiro, pois sua irmã mais velha, a infanta D. Branca, só seria considerada na linha de sucessão em situações de emergência.
D. Afonso III vivera na corte francesa, protegido por sua tia Branca de Castela, rainha de França. E resolveu dar o nome de um santo francês (Saint Denis), ao seu sucessor.
À altura do seu nascimento, D. Dinis era ilegítimo, já que o casamento dos pais não havia sido ainda reconhecido pela Igreja.
Além da infanta D. Branca, D. Dinis teve mais cinco irmãos:
Infante D. Afonso, nascido a 6 de fevereiro de 1263
Infanta D. Sancha, nascida a 2 de fevereiro de 1264 (morreu com cerca de vinte anos)
Infanta D. Maria, nascida em fevereiro ou março de 1265 (morreu com pouco mais de um ano)
Infante D. Vicente, nascido a 22 de janeiro de 1268 (morreu ainda criança)
Infante D. Fernando, nascido em 1269, morrendo pouco tempo depois.