Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

24 de novembro de 2025

Um ano com D. Dinis (63)

FORAIS

Verifica-se este mês o 729º aniversário dos forais de Sabugal, Castelo Rodrigo, Castelo Bom, Almeida e Vilar Maior, concedidos por D. Dinis, numa altura, em que estes lugares pertenciam ainda ao reino de Leão. Depreende-se que já teriam sido prometidos ao Rei Lavrador. A sua integração no reino português foi ratificada cerca de um ano mais tarde, no Tratado de Alcañices.

18 de novembro de 2025

Um ano com D. Dinis (62)

MORTE DE D. CONSTANÇA 

 

- Que se passa?

Isabel respondeu num sussurro:

- Tive um sonho…

- Um pesadelo?

- Não sei… Uma mensagem… Ou uma premonição…

Mais uma? Dinis fez esforço por vencer o enfado, pois haveria uma razão forte que a trouxera aos seus aposentos, numa noite tão fria. Acabou por dizer:

- Sentai-vos e contai-me o que vos atormenta.

Isabel assim fez. Depois de pousar a vela sobre a mesinha ao lado da cama, iniciou o seu relato:

- Há cerca de uma semana, andando para os lados da Azambuja, deparei com um eremita à beira da estrada. Parecia muito perturbado e eu desmontei da minha mula e perguntei-lhe se havia mister do meu auxílio. Ele não respondeu, limitou-se a fixar-me numa tristeza infinita. Já tratei de muitos enfermos e assisti a muitas aflições, mas nunca vira olhos tão tristes. Insisti na minha pergunta. Depois de me fixar durante mais alguns momentos, ele abanou a cabeça e afastou-se de mim sem uma palavra.

Isabel baixou a cabeça e prosseguiu:

- Não mais olvidei aquele olhar. Passado uns dias, tornei ao local, a fim de o procurar. Mas não o encontrei. Perguntei por ele nas aldeias da região, descrevendo-o o melhor que podia. Ninguém parecia conhecê-lo. Indicaram-me alguns eremitas que por ali viviam e fui ter com eles. Mas nenhum era o que eu havia visto. O homem parecia ter-se esfumado, ou sido engolido pela terra… Tentei olvidá-lo. Mas hoje…

Começou a tremer mais violentamente:

- Sonhei com ele…

- Ora, ficastes impressionada com a sua figura…

- No sonho, ele falou comigo. E disse-me… Que Constança havia morrido!

 

A 18 de Novembro de 1313 morreu a rainha D. Constança de Castela, antiga infanta portuguesa, filha de D. Dinis e D. Isabel, com apenas vinte e três anos.

 

Constança 1.jpg

 

Nota: não encontrei nenhuma representação de D. Constança. Deparei, nas minhas pesquisas, com esta imagem de Sansa Stark, uma personagem da serie Games of Thrones, interpretada por Sophie Turner. Decidi usá-la porque se aproxima muito da Constança que descrevo no meu romance.

12 de novembro de 2025

Um ano com D. Dinis (61)

ESTUDO GERAL DAS CIÊNCIAS DE LISBOA

 

A 12 de novembro de 1288 foi redigida, em Montemor-o-Novo, a carta ao papa Nicolau IV, pedindo autorização para a criação do Estudo Geral das Ciências em Lisboa (percursor da Universidade). Além de D. Dinis, assinaram a carta o abade do mosteiro de Alcobaça, os priores de Santa Cruz de Coimbra e de São Vicente de Lisboa e os superiores de vinte e quatro igrejas e conventos do reino. Suplicaram a aprovação e «confirmação de uma obra tão pia e louvável», pois o Estudo Geral deveria albergar estudantes que, por falta de posses, não podiam estudar em universidades estrangeiras.

O Estudo Geral das Ciências de Lisboa foi aprovado pelo papa em Agosto de 1290.

 

Terá sido igualmente nesta altura que D. Dinis resolveu usar o Português nos documentos oficiais da chancelaria, normalmente redigidos em latim ou em galaico-português. Esta língua, falada no início da fundação do reino e ainda usada na poesia trovadoresca, já não correspondia ao falar do dia-a-dia, no tempo de D. Dinis.

2 de novembro de 2025

Rapidinhas de História #31

O CASAMENTO QUE NUNCA EXISTIU (1)

 


Um ano com D. Dinis (60)

MORTE DE D. PEDRO III DE ARAGÃO 

 

Pedro III de Aragão.jpg

Pedro III de Aragão, por Manuel Aguirre Y Monsalbe, 1854

 

A 2 de novembro de 1285 morreu o rei D. Pedro III de Aragão, denominado o Grande, pelas suas conquistas militares. Tinha apenas quarenta e seis anos e era o pai da rainha Santa Isabel. Não sabemos qual o efeito teria o acontecimento causado em sua filha, que já se encontrava em Portugal há dois anos e meio. Segundo a tradição, D. Isabel era muito chegada ao pai e, considerando que estava ainda a dois meses de completar quinze anos e seria dona de um carácter sensível, criei esta cena no meu romance, no castelo de Trancoso, rodeado de neve:

 

Os alões deitados em frente à lareira levantaram-se, a ladrar como doidos. Dinis bradou:

- Que vem a ser isto?

- Virá por aí alguém? - sugeriu Pêro Anes Coelho.

- A esta hora? Num tempo destes?

Dinis virou-se para Isabel e assustou-se: a rainha apresentava uma palidez cadavérica, uma das mãos agarrava o vestido à altura do peito.

- Que tendes? Não vos sentis bem?

Isabel apontou-lhe olhos aterrorizados:

- Uma desgraça sucedeu!

- Que dizeis?

Apesar de assustado, Dinis pegou-lhe nas mãos gélidas e acrescentou:

- Os cães ficaram nervosos com o uivar dos lobos, é só.

De repente, irromperam na sala dois cavaleiros com os seus capotes cobertos de neve. Isabel começou a tremer, mas Dinis teve de a largar para ir ajudar Pêro Anes Coelho e João Anes Redondo a segurar os alões, que ameaçavam despedaçar as vestes dos recém-chegados.

- Quem sois? - bradou o rei. - Porque vos deixaram entrar?

- Vimos de Aragão, Alteza.

- Meu Deus - gritou Isabel.

Levantou-se e foi ao encontro deles. Logo os cães se acalmaram, como por encanto. 

- Trata-se de meu pai, não é verdade? Que lhe sucedeu? Dizei!

- Lamentamos ter de vos informar que el-rei D. Pedro III se finou no passado dia 2 deste mês.

Gerou-se um silêncio sepulcral. Até que os lobos tornaram a uivar. Isabel desfaleceu de encontro a Dinis, que a segurou nos braços.

Carregando-a, o rei desceu a escada exterior da torre de menagem e caminhou pela neve a dar-lhe pelas canelas. Pêro Anes Coelho seguira-o e bateu à porta da casa da rainha, arrancando as damas e as camareiras do seu sono.

 

Nota: Pedro III de Aragão era igualmente rei de Valencia, Sicília e conde de Barcelona.

25 de outubro de 2025

Um ano com D. Dinis (59)

OS ÚLTIMOS MESES 

Em outubro de 1324, D. Dinis fez-se ao caminho de Santarém, como de costume. Tinha-se tornado um hábito passar o Natal e o fim do ano naquela cidade, só regressando a Lisboa na primavera. Naquele ano, porém, D. Dinis fora desaconselhado a empreender a viagem, devido ao seu precário estado de saúde. A rainha D. Isabel tratava dele, administrando-lhe pessoalmente os remédios.

Durante a viagem, D. Dinis sentiu-se tão mal, que a rainha mandou chamar o filho D. Afonso, encontrando-se este em Leiria. Depois de uma desgastante guerra civil, o rei e o seu herdeiro haviam assinado as pazes a 26 de fevereiro daquele ano. A guerra terminara, mas os dois continuavam desentendidos, não se falavam e evitavam encontrar-se. 

Vendo o pai em tão mau estado, porém, o infante tudo fez para cuidar dele. Com a sua ajuda, D. Dinis chegou a Santarém, onde melhorou um pouco.

Mas o destino do Rei Lavrador estava traçado. Sentindo a morte aproximar-se, fez o seu terceiro e último testamento a 31 de Dezembro. Morreria a 7 de janeiro seguinte, com 63 anos.

 

17 de outubro de 2025

Um ano com D. Dinis (58)

CORTES DE LISBOA DE 1323

 

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Em outubro de 1323 (não se sabe em que dias) reuniram-se Cortes em Lisboa, a pedido do infante D. Afonso, o herdeiro de D. Dinis. E reacendeu-se a guerra civil, que já se dera por terminada.

O infante D. Afonso exigia, entre outras coisas, que fosse retirado a seu meio-irmão Afonso Sanches o cargo de mordomo-mor, assim como as terras e dinheiros a ele doados pelo pai de ambos. Estas suas pretensões foram, porém, desleixadas, tratou-se de outros assuntos, acabando com a paz frágil, negociada entre pai e filho em Leiria, no ano anterior. A seguir ao cerco a Coimbra, essa paz tinha sido possível através da mediação da rainha D. Isabel e do conde D. Pedro de Barcelos.

Deixo-vos com um excerto do meu romance relativo às Cortes de Lisboa, quando o príncipe herdeiro viu os seus desejos ignorados pelos pares do reino, sem que seu pai interviesse a seu favor:

Ninguém abriu a boca. Mas Dinis arrependeu-se daquele procedimento em relação ao príncipe. Apesar de Afonso se manter digno, a humilhação era enorme, principalmente, perante a notória satisfação dos meios-irmãos. Naquele instante, o rei apercebeu-se haver exagerado na sua proteção e no seu favorecimento dos bastardos.

Não podia, porém, voltar atrás, dando o dito por não dito e, por isso, nada fez para impedir o voltar de costas do seu herdeiro àquela assembleia.

No fim do dia, o rei foi informado de que o príncipe deixara a cidade e, passado duas semanas, soube que juntava os seus partidários em Santarém, planeando marchar sobre Lisboa, a fim de se apoderar do trono à força!

Era a rutura total. Embora Isabel não o dissesse, Dinis sabia que ela o considerava responsável pela situação. Ele próprio assim se sentia. A rainha recolheu-se novamente em jejuns e penitências, recusando falar com ele.

Não obstante o arrependimento, o rei não podia deixar de defender o seu trono. Passou o mês de Novembro a organizar um exército, formado principalmente pelos combatentes do concelho de Lisboa.

A questão decidir-se-ia numa batalha em campo aberto, onde não existiria lugar para piedades nem perdões. As tropas digladiar-se-iam até haver um vencedor.

Os exércitos aquartelaram-se na zona do campo de Alvalade.

9 de outubro de 2025

Um ano com D. Dinis (57)

764º ANIVERSÁRIO DE D. DINIS

 

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Nuno Luís - Facebook

A 9 de outubro de 1261, nascia o segundo filho do rei D. Afonso III e da rainha D. Beatriz, o príncipe herdeiro, pois sua irmã mais velha, a infanta D. Branca, só seria considerada na linha de sucessão em situações de emergência.

D. Afonso III vivera na corte francesa, protegido por sua tia Branca de Castela, rainha de França. E resolveu dar o nome de um santo francês (Saint Denis), ao seu sucessor. 

À altura do seu nascimento, D. Dinis era ilegítimo, já que o casamento dos pais não havia sido ainda reconhecido pela Igreja.

Além da infanta D. Branca, D. Dinis teve mais cinco irmãos:

Infante D. Afonso, nascido a 6 de fevereiro de 1263

Infanta D. Sancha, nascida a 2 de fevereiro de 1264 (morreu com cerca de vinte anos)

Infanta D. Maria, nascida em fevereiro ou março de 1265 (morreu com pouco mais de um ano)

Infante D. Vicente, nascido a 22 de janeiro de 1268 (morreu ainda criança)

Infante D. Fernando, nascido em 1269, morrendo pouco tempo depois.