Afonso Henriques - o eterno maduro
Andanças Medievais
& outras que tais (pois nem só de "medievalidades" vive a Mulher)
Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
22 de dezembro de 2024
19 de dezembro de 2024
13 de dezembro de 2024
12 de dezembro de 2024
No Natal...
... ofereça livros!
Que tal um romance histórico?
Link direto: https://poeticalivros.com/products/memorias-de-dona-teresa?_pos=1&_sid=cd79f3cea&_ss=r
8 de dezembro de 2024
Assim se pariu o Brasil
De Pedro Almeida Vieira, tinha já lido O Profeta do Castigo Divino e Corja Maldita, nos idos de 2012/2013. Ao contrário desses dois romances históricos, Assim se pariu o Brasil não é ficção. Na contracapa fala-se, porém, de “numa prosa culta mas cheia de humor”. Pode-se escrever um livro sobre factos históricos, usando humor?
Enfim, não conhecer a História do Brasil colonial ajudou à minha decisão de comprar o livro. Demorei, porém, a pegar nele, adquirido já em 2016. E acabou por me surpreender pela positiva.
O ritmo é o de uma narrativa de aventuras e, apesar de realmente se notar um travo humorístico, nunca é manipulador, o que, na minha opinião, se trata de um equilíbrio difícil de conseguir. Assim aprendemos, por exemplo, como o pequeno Portugal conseguiu ganhar tanto território à potência espanhola; como, neste caso, “o tempo dos Filipes” acabou por beneficiar o nosso país; como os colonos portugueses, auxiliados por indígenas e africanos, lograram expulsar franceses e, principalmente, neerlandeses, que se desunharam para arrebanharem o Norte sertanejo e, enfim, onde se explica como o enorme Brasil conseguiu garantir a sua unidade, enquanto as colónias espanholas se desmembraram em vários países.
Ou seja, recomenda-se. O livro contém ainda ilustrações de Enio Squeff.
6 de dezembro de 2024
4 de dezembro de 2024
1 de dezembro de 2024
Os Anos
Annie Ernaux, vencedora do Nobel da Literatura em 2022, escreve sobre a sua vida, usando, porém, uma nova forma narrativa, que se poderia apelidar de "autobiografia impessoal coletiva". Nunca utiliza a primeira pessoa, oscilando entre a terceira do singular e a primeira do plural.
As memórias vão surgindo, através de fotografias. No entanto, Annie Ernaux utiliza o pronome "ela" para falar de si própria e o pronome "nós", ao descrever a vida e os acontecimentos. Partindo de uma menina, que se torna adolescente, mulher jovem, mulher madura, mulher idosa, Annie Ernaux conta, não só a sua história, como a da França e do resto do mundo (vista de França), desde meados dos anos 1940 a 2006: o período pós Guerra Mundial, o liceu, a universidade, a escrita, um casamento que se adivinha efémero, de Gaulle, 1968, a suposta emancipação da mulher, Mitterand, a globalização, o envelhecer...
Annie Ernaux liga a vida pessoal, do dia-a-dia, com os grandes acontecimentos políticos e históricos. Porque é disso mesmo que são feitas todas as nossas vidas. E fá-lo, claro, sob a perspetiva feminina. O melhor é mesmo deixar falar o livro:
"As férias grandes serão uma longa travessia de tédio, de atividades minúsculas para ocupar os dias: (...) ir à cidade comprar champô e um livro da coleção Petit Classique Larousse, passando, com os olhos no chão, em frente ao café, onde os rapazes jogam flipper." (p. 46)
"Tínhamos a certeza de que com a pílula a vida ia dar muitas voltas, seríamos de tal modo livres em relação ao nosso corpo que era assustador. Livres como um homem." (p. 72)
"A religião católica, sem qualquer cerimónia, desaparecera do contexto das nossas vidas (...) A Igreja já não aterrorizava o imaginário dos adolescentes na puberdade, já não regulamentava as relações sexuais e o ventre das mulheres saíra da sua zona de influência. Ao perder o seu principal campo de ação - o sexo -, a Igreja perdera tudo." (p. 124)
"Os filhos, sobretudo os rapazes, dificilmente largavam o ninho familiar, o frigorífico cheio, a roupa lavada, o ruído de fundo das coisas da infância. Faziam amor, com todo o à-vontade, no quarto ao lado do nosso. Insatalavam-se numa juventude longa e duradoura, o mundo parecia não estar à sua espera." (p. 140)
"Para toda a gente, inclusive para os migrantes clandestinos amontoados num bote em direção à costa espanhola, a liberdade tinha por rosto um centro comercial, hipermercados a desabar sob o peso da abundância. Parecia natural que os produtos chegassem do mundo inteiro, circulassem livremente, e que os homens fossem reprimidos nas fronteiras." (p. 177)
Um grande livro. Não deixem de ler!
Nota: Tradução de Maria Etelvina Santos
29 de novembro de 2024
25 de novembro de 2024
"Maria-rapaz"
Nas minhas infância e juventude, acontecia ouvir com uma certa frequência a expressão "Maria-rapaz". Dizia-se de meninas que eram vivaças, gostavam de corridas, de trepar às árvores ou de outras brincadeiras consideradas serem de rapazes. Mostrar entusiasmo com uma boa dose de decibéis também estava reservado aos representantes do sexo masculino.
A expressão era dita num tom muito crítico, ou mesmo acusatório. O objetivo era gerar vergonha. Por acaso, em minha casa, abria-se uma exceção. Era de mim esperado que eu jogasse futebol com o meu irmão, ou que cooperasse nas corridas de carrinhos Matchbox por os meus pais acharem eu dever entreter o menino. Aquilo que vinha mascarado de avanço civilizacional era, no fundo, uma outra maneira de acentuar a superioridade dos interesses masculinos. Nem sequer se punha a hipótese de que o meu irmão, a fim de retribuir um pouco da atenção por mim dada aos seus interesses, se juntasse àss minhas brincadeiras com bonecas ou tachos de miniatura.
Falei em avanço civilizacional, porque, em relação aos anos 1960/70, as mulheres são hoje mais bem aceites na vida pública, exercendo profissões anteriormente reservadas a homens. Até o futebol feminino tem vindo a considerar-se "normal". No entanto, no que respeita à infância, e tendo-se extremado as posições, há quem entre em verdadeiro histerismo ao ver meninas em brincadeiras de rapazes, ou a usar roupas parecidas com as deles. A "Maria-rapaz" parece representar uma maior ofensa aos adultos sensíveis do que há quarenta ou cinquenta anos.
Tudo isto é muito estranho num país que possui, entre os heróis nacionais, uma mulher, digamos, masculinizada.
Aprendeu a manejar a espada e o pau com tal mestria que depressa alcançou fama de valente.
Oh, diabo, mas isto da Padeira de Aljubarrota é muito woke, não vos parece?
22 de novembro de 2024
19 de novembro de 2024
15 de novembro de 2024
14 de novembro de 2024
Big Bands e podcasts
Longe vão os tempos do emigrante português analfabeto e humilde. Na edição de agosto passado do jornal português na Alemanha PT-Post, li sobre dois nossos compatriotas, dos quais nunca tinha ouvido falar, mas que atingiram um certo destaque na sociedade alemã.
Marco Matias, filho de portugueses oriundos da Calda das Taipas, Guimarães, nasceu em junho de 1975 em Solingen, uma cidade conhecida pela sua indústria de cutelaria e onde muitos portugueses encontraram emprego.
Marco Matias é a voz masculina da Big Band do exército alemão (Big Band der Bundeswehr). Inspirado pelo major norte-americano Glenn Miller, fundador de uma banda militar que optava pelo swing em detrimento das habituais marchas, o Ministro da Defesa alemão Helmut Schmidt (mais tarde, chanceler) fomentou, em 1971, a formação de uma banda desse estilo. Além do swing, a Big Band der Bundeswehr toca igualmente rock e pop.
Marco Matias começou a dar nas vistas em 2003, ao participar num programa de casting intitulado “Die Deutsche Stimme”. Embora o título se traduza por “A Voz Alemã”, este programa nada tem a ver com The Voice of Germany, idêntico ao da versão portuguesa e cuja primeira temporada foi para o ar em 2011.
Em 2005, Marco Matias participou no Festival da Canção alemão, em dueto com a cantora Nicole Süßmilch, e ficou em segundo lugar. No ano seguinte, atuou mesmo no Festival Eurovisão da Canção, mas representando a Suíça, integrado no grupo Six4one.
Tornou-se vocalista da Big Band do exército alemão, em 2017. Como, nesta altura, já tinha, porém, uma vasta rede de conhecimentos, continua a colaborar com outros conjuntos, permitindo-lhe atuar em mais de cem eventos por ano.
Vítor Gatinho (Foto Instagram)
Vítor Gatinho, de quarenta e um anos, filho de portugueses e nascido em Frankfurt, é um médico pediatra com milhares de seguidores nas redes sociais. Além disso, já venceu duas vezes o prémio de melhor podcast, na categoria “Ratgeber” (orientação e aconselhamento), e escreveu três livros, um deles atingindo o primeiro lugar na lista de best-sellers do Spiegel.
Vítor Gatinho era um médico como outro qualquer, até que chegou a pandemia, em 2020. Obrigado a passar os tempos livres em casa, apercebeu-se de médicos, sobretudo americanos, que publicavam vídeos no TikTok e resolveu começar a fazer os seus próprios vídeos. Do TikTok, passou para o Instagram, onde, dos seus 120 seguidores iniciais (familiares e amigos), passou a ter mais de 700.000!
O sucesso levou-o a criar um podcast (o artigo não explica se sozinho, ou sugerido/apoiado por alguém ou alguma entidade), onde explica, de uma forma descomplicada, várias questões à volta da infância e da adolescência. Em março e abril deste ano, pisou, pela primeira vez, os palcos, a fim de interagir com o público, numa digressão por Frankfurt, Hamburgo, Estugarda e Munique.
Estas atividades passaram a ocupar tanto espaço na sua vida, que reduziu o tempo de trabalho na clínica, de cinco para três dias por semana. Já pensou em criar conteúdo em português, mas confessa não serem suficientes os seus conhecimentos da nossa língua para fazer vídeos. Além disso, não conhece a realidade da medicina pediátrica, nem da vida de crianças e adolescentes, em Portugal e calcula haver muitas coisas a funcionarem de outra maneira. Alimenta, porém, o desejo de ver os seus livros traduzidos para português.
Já agora, a propósito dos sessenta anos da presença da comunidade portuguesa na Alemanha, foi renovada a placa comemorativa em memória de Armando Rodrigues de Sá, o milionésimo imigrante (Gastarbeiter). Armando Rodrigues de Sá chegou à estação de Köln-Deutz, a 10 de setembro de 1964. A placa havia sido inaugurada em 2014, por ocasião dos cinquenta anos da sua chegada, mas estava muito deteriorada. Foi renovada, a pedido do Conselho de Integração da cidade de Colónia, e novamente descerrada, a 3 de setembro passado.
A placa, embora evocativa da chegada do português, é dedicada a todos os imigrantes, como se lê no título: Den Eingewanderten gewidmet.