Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

25 de outubro de 2025

Um ano com D. Dinis (59)

OS ÚLTIMOS MESES 

Em outubro de 1324, D. Dinis fez-se ao caminho de Santarém, como de costume. Tinha-se tornado um hábito passar o Natal e o fim do ano naquela cidade, só regressando a Lisboa na primavera. Naquele ano, porém, D. Dinis fora desaconselhado a empreender a viagem, devido ao seu precário estado de saúde. A rainha D. Isabel tratava dele, administrando-lhe pessoalmente os remédios.

Durante a viagem, D. Dinis sentiu-se tão mal, que a rainha mandou chamar o filho D. Afonso, encontrando-se este em Leiria. Depois de uma desgastante guerra civil, o rei e o seu herdeiro haviam assinado as pazes a 26 de fevereiro daquele ano. A guerra terminara, mas os dois continuavam desentendidos, não se falavam e evitavam encontrar-se. 

Vendo o pai em tão mau estado, porém, o infante tudo fez para cuidar dele. Com a sua ajuda, D. Dinis chegou a Santarém, onde melhorou um pouco.

Mas o destino do Rei Lavrador estava traçado. Sentindo a morte aproximar-se, fez o seu terceiro e último testamento a 31 de Dezembro. Morreria a 7 de janeiro seguinte, com 63 anos.

 

17 de outubro de 2025

Um ano com D. Dinis (58)

CORTES DE LISBOA DE 1323

 

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Em outubro de 1323 (não se sabe em que dias) reuniram-se Cortes em Lisboa, a pedido do infante D. Afonso, o herdeiro de D. Dinis. E reacendeu-se a guerra civil, que já se dera por terminada.

O infante D. Afonso exigia, entre outras coisas, que fosse retirado a seu meio-irmão Afonso Sanches o cargo de mordomo-mor, assim como as terras e dinheiros a ele doados pelo pai de ambos. Estas suas pretensões foram, porém, desleixadas, tratou-se de outros assuntos, acabando com a paz frágil, negociada entre pai e filho em Leiria, no ano anterior. A seguir ao cerco a Coimbra, essa paz tinha sido possível através da mediação da rainha D. Isabel e do conde D. Pedro de Barcelos.

Deixo-vos com um excerto do meu romance relativo às Cortes de Lisboa, quando o príncipe herdeiro viu os seus desejos ignorados pelos pares do reino, sem que seu pai interviesse a seu favor:

Ninguém abriu a boca. Mas Dinis arrependeu-se daquele procedimento em relação ao príncipe. Apesar de Afonso se manter digno, a humilhação era enorme, principalmente, perante a notória satisfação dos meios-irmãos. Naquele instante, o rei apercebeu-se haver exagerado na sua proteção e no seu favorecimento dos bastardos.

Não podia, porém, voltar atrás, dando o dito por não dito e, por isso, nada fez para impedir o voltar de costas do seu herdeiro àquela assembleia.

No fim do dia, o rei foi informado de que o príncipe deixara a cidade e, passado duas semanas, soube que juntava os seus partidários em Santarém, planeando marchar sobre Lisboa, a fim de se apoderar do trono à força!

Era a rutura total. Embora Isabel não o dissesse, Dinis sabia que ela o considerava responsável pela situação. Ele próprio assim se sentia. A rainha recolheu-se novamente em jejuns e penitências, recusando falar com ele.

Não obstante o arrependimento, o rei não podia deixar de defender o seu trono. Passou o mês de Novembro a organizar um exército, formado principalmente pelos combatentes do concelho de Lisboa.

A questão decidir-se-ia numa batalha em campo aberto, onde não existiria lugar para piedades nem perdões. As tropas digladiar-se-iam até haver um vencedor.

Os exércitos aquartelaram-se na zona do campo de Alvalade.

9 de outubro de 2025

Um ano com D. Dinis (57)

764º ANIVERSÁRIO DE D. DINIS

 

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Nuno Luís - Facebook

A 9 de outubro de 1261, nascia o segundo filho do rei D. Afonso III e da rainha D. Beatriz, o príncipe herdeiro, pois sua irmã mais velha, a infanta D. Branca, só seria considerada na linha de sucessão em situações de emergência.

D. Afonso III vivera na corte francesa, protegido por sua tia Branca de Castela, rainha de França. E resolveu dar o nome de um santo francês (Saint Denis), ao seu sucessor. 

À altura do seu nascimento, D. Dinis era ilegítimo, já que o casamento dos pais não havia sido ainda reconhecido pela Igreja.

Além da infanta D. Branca, D. Dinis teve mais cinco irmãos:

Infante D. Afonso, nascido a 6 de fevereiro de 1263

Infanta D. Sancha, nascida a 2 de fevereiro de 1264 (morreu com cerca de vinte anos)

Infanta D. Maria, nascida em fevereiro ou março de 1265 (morreu com pouco mais de um ano)

Infante D. Vicente, nascido a 22 de janeiro de 1268 (morreu ainda criança)

Infante D. Fernando, nascido em 1269, morrendo pouco tempo depois.

25 de setembro de 2025

19 de setembro de 2025

14 de setembro de 2025

Um ano com D. Dinis (54)

 O FIM DOS TEMPLÁRIOS

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A 14 de setembro de 1307, partiram da chancelaria do rei francês Filipe IV cartas lacradas, de conteúdo secreto, para vários pontos do reino, com a ordem de serem abertas apenas a 13 de outubro. Tratava-se da ordem de prisão de todos os Templários franceses, que assim os apanhou de surpresa.

Entre os dias 24 e 25 de outubro, o Mestre da Ordem Jacques de Molay confessou, sob tortura, os crimes de que era acusado, confissão que aliás desmentiu a 24 de dezembro, mas que não o livrou de ser queimado em Paris, a 18 de março de 1314

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Através da bula Pastoralis praeeminentiae, o Papa Clemente V recomendou a todos os príncipes da Cristandade a prisão dos Templários e a confiscação dos seus bens. Por toda a Europa, os freires são presos, torturados e queimados. A Ordem do Templo só viria a ser definitivamente extinta a 22 de março de 1312, através da bula Vox in excelso.

A Península Ibérica constituiu uma excepção. D. Dinis suprimiu a Ordem, mas manteve os seus membros na clandestinidade. Sabedor da situação, o Papa Clemente V enviou-lhe, a 30 de dezembro de 1308, a bula Callidi serpentis vigil, recomendando-lhe a prisão definitiva dos Templários. Alguns eclesiásticos portugueses, como os Cónegos Regrantes de Santa Cruz e o bispo da Guarda, insistiram em que se cumprisse a bula papal. No fundo, pretendiam apoderar-se dos bens dos freires e D. Dinis iniciou um processo, a fim de incorporar esses bens na Coroa.

A 12 de maio de 1310, depois de o Concílio de Salamanca declarar a inocência dos Templários hispânicos, D. Dinis e D. Fernando IV de Castela estabeleceram um pacto de defesa e conservação dos bens dos freires contra qualquer decisão em contrário, mesmo vinda do Papa. D. Jaime II de Aragão associou-se em 1311 a este acordo.

 

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À semelhança do cunhado aragonês, D. Dinis acabou por criar uma nova Ordem, a Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, autorizada pelo Papa João XXII através da bula Ad ea ex quibus, de 14 de março de 1319, em que instava os freires a manterem a cruzada religiosa contra os sarracenos. Os bens que haviam pertencido aos Templários portugueses foram transferidos para a Ordem de Cristo a 24 Junho de 1319. Os primeiros estatutos da Ordem foram aprovados a 11 de Junho de 1321.

 

Nota: o link que utilizei, há nove anos, para identificar as imagens que ilustram este postal, já não existe. Fiquei assim sem qualquer tipo de referência, pelo que peço a compreensão dos visados.

 

13 de setembro de 2025

Um ano com D. Dinis (53)

ELEIÇÃO DO PAPA PORTUGUÊS 

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Papa João XXI, Galeria dos Arcebispos de Braga, por Joseolgon - Obra do próprio, Domínio público

 

A 13 de setembro de 1276 foi eleito o único Papa português, Mestre Pedro Julião, também conhecido por Pedro Hispano, antigo Deão da Sé de Lisboa. Adotou o nome de João XXI, mas foi curto o seu pontificado. Viria a falecer a 20 de maio de 1277, de acidente, numas obras no Palácio dos Papas, em Viterbo.

12 de setembro de 2025

Um ano com D. Dinis (52)

TRATADO DE ALCANICES

 

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Selo comemorativo do Tratado de Alcanices (circulou de 12-09-1997 a 30-09-2001)

12 de setembro é uma data muito importante na História de Portugal. Foi neste dia, no ano de 1297, que se definiram novas fronteiras entre Portugal e Castela, no Tratado de Alcanices. Estas fronteiras sofreram alterações mínimas nos últimos 728 anos, fazendo de Portugal um caso único na Europa. Foi através do Tratado de Alcanices que Moura, Serpa, Noudar e Mourão foram incluídas no território português, além de alguns lugares de Ribacoa, como Castelo Rodrigo, Almeida e Sabugal.

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Celebrado entre D. Dinis e D. Fernando IV, que necessitou da tutela da mãe D. Maria de Molina, pois tinha apenas onze anos, o Tratado de Alcanices serviu ainda para estabelecer um duplo consórcio:

- O infante D. Afonso de Portugal, futuro rei Afonso IV, desposaria D. Beatriz de Castela, irmã de Fernando IV. O infante português tinha, à altura, apenas seis anos, a infanta castelhana era um pouco mais nova. Casariam em maio de 1309.

- A infanta D. Constança de Portugal, de sete anos, ficou prometida ao próprio rei Fernando IV de Castela.

Em casos destes, era costume as noivas mudarem-se para o seu novo lar, a fim de serem criadas pelos sogros, pelo que D. Dinis e D. Isabel trocaram a filha Constança pela infanta castelhana. 

Solicitaram-se dispendiosas bulas de dispensa de parentesco a Roma, pois os infantes castelhanos eram primos de D. Dinis, tendo sido o pai deles, o falecido Sancho IV de Castela, tio do rei português.

Também se solicitaram bulas de legitimação do jovem rei Fernando IV e de seus irmãos, já que o casamento dos pais nunca havia sido legitimado, igualmente por parentesco. Fernando IV foi, durante muito tempo, contestado na sua condição de soberano por tios e primos e manteve-se no trono, não só devido ao pulso firme de sua mãe Maria de Molina, mas também com a ajuda de D. Dinis.

 

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Tratado de Alcanices (versão portuguesa no Arquivo Nacional Torre do Tombo)

Da parte castelhana, o dinheiro para as bulas só foi disponibilizado quatro anos mais tarde, em junho de 1301, depois das Cortes de Burgos/Zamora. Os bispos de Lisboa e do Porto acompanharam o arcebispo de Toledo a Roma e, em setembro de 1301, Bonifácio VIII outorgou as bulas que foram solenemente publicadas na catedral de Burgos, a 7 dezembro de 1301.

O casamento de D. Fernando IV com D. Constança de Portugal realizou-se em janeiro de 1302, fazendo da infanta portuguesa rainha de Castela. Durou dez anos, terminando com a morte súbita de Fernando IV, a três meses do seu 27º aniversário. Já tinha aliás nascido o seu herdeiro, o futuro Afonso XI de Castela, neto de D. Dinis e de D. Isabel.

D. Constança acabou por morrer pouco tempo depois do marido, com apenas 23 anos, vítima de uma febre.

6 de setembro de 2025

Um ano com D. Dinis (51)

 DEPOSIÇÃO DE D. SANCHO II

 

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Representação de D. Afonso III na Viagem Medieval de Santa Maria da Feira

 

A 6 de setembro de 1245, uma delegação portuguesa jurou, em Paris, obediência ao conde de Bolonha, futuro rei de Portugal.

Na verdade, o pai de D. Dinis não estava destinado a ser rei, pois tinha um irmão mais velho. Porém, o reinado de D. Sancho II provou ser caótico, incluindo grandes conflitos com a Igreja e levando o Papa Inocêncio IV a emitir a bula Grandi non immerito, de 24 de julho desse ano. D. Sancho II foi aí considerado rex inutilis e ditava-se a sua deposição.

 

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Retrato de D. Sancho II, de autor desconhecido, propriedade da Câmara Municipal de Sintra

 

O futuro D. Afonso III jurou respeitar as liberdades da Igreja, mas também ele se envolveu numa série de conflitos com o clero, sendo inclusive acusado de bigamia ao casar-se com D. Beatriz de Castela. Conseguiu, no entanto, impor a ordem no reino.